História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt
Sexta-feira, 9 de Maio de 2008
Documentos para a história de Algodres (16)

 

 

Figueiró da Granja – Carta de venda a Egas Gonçalves (1146)

 

(publicada in AZEVEDO, 1958, pp. 264-265)

 

 

 

“215

 

[1146], Junho, 29 –  Carta de venda a Egas Gonçalves da herdade de Figueiró (da Granja, c. Fornos-de- Algodres).

 

                                  BNL. – Mss., caixa 96, doc. 4, cop. sec. XVII (*)

 

 

 

                  In Dei gratia.  Ego Alfonsus Portugalensium rex Henrici comitis et reginae Taresiae filius necnon et magni regis Alfonsi nepos et regina do[mna] Maahlt uidelicet uxor mea facimus carta venditionis et firmitudinis tibi et Egee Godinsalium de hereditate nostra propria quam habemus in villa Figueroa.  Damus eam tibi atque concedimus cum suis locis et terminis per ubi potueris eam inuenire, quomodo extremat per Algodres et quomodo extremat per Fornos et quomodo extremat per Liares et quomodo extremat per Cilorico et quomodo extremat per Belcaire scilicet pro pretio quod a te accepimus, mulam quandam et equm quendam, tantum nobis bene complacuit.  Itaque habeas tu eam firmiter et omnis posteritas tua usque im perpetuum.  Contra quod factum nostrum quicunque ad irrumpendum uenerit tam de propinquis quam de extraneis sit maleditus et excomunicatus et quantum petieri[t] tantum pariat in duplo et insuper regale jus.  Noto die III Kalendas Julij Era de M.º C.º XXX.º IIII.  Ego Alfonsus Portugal[ens]ium rex et regina do[mna] Maahlt propriis manibus nostris roboramus.

 

                  Pro testibus: Petrus ts., Gundisalus ts., Pelagius ts.

 

                  Ferdinando Pedrim dapifer conf., Menendus Braga[n]cia alferaz conf., Joanes Faria qui tenebat terram conf.

 

                  Magister Albertus cancelarius qui hanc notui.

 

                  (Sinal)  REX  PORTVGALIS  conf. (ª)

 

 

 

____________

 

  

 

                  (*)  Segundo informa Viterbo no seu ms. “Provas e Apontamentos da Hist. Port.” fl. 117 v., o orig. guardava-se no cartório do most. de Tarouca (hoje perdido), sob a cota gav. 2, m. 1, n.º 11, e estava datado da Era de 1184 e não de 1134, como erradamente se escreveu no presente traslado.  Esclarece ainda êste autor, loc. cit., e in Elucid., I, s. v. decimas, que Egas Gonçalves doou a villa de Figueiró ao most. de Tarouca no ano de 1161. Cf. A. Reuter, Chancel. I, n.º 138.

 

                  A data de 1146 concorda inteiramente com os restantes dados cronológicos do diploma.

 

                  (ª)  Na cop., tanto a subscrição do chanceler como o sinal e legenda do rei estão inscritos em figuras serrilhadas, como era então uso da chancelaria.”.

 

  

 

  

 

Bibliografia:  v. entradas de 2005-05-09.

 



publicado por algodrense às 06:30
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7 comentários:
De Nuno Soares a 7 de Julho de 2008 às 12:59
Caro Albino:
Na mesma entrada de hoje (2008-07-07) a que acima me referi, vem mencionado outro documento com muito interesse para o estudo da questão dos limites paroquiais nas terras de Algodres no séc. XII.
No primeiro foral que foi concedido a Figueiró da Granja, outorgado pela abadia de S. João de Tarouca em 1243, refere-se, a dado passo: “(...) Et nos supradictus abbas et fraters debemus dare VII modios et sestarium panis et vini prelato Sancte Marie de Algodres ut dicat vobis missam sicut costume et est usus inter nos et illum, et quod faciat vobis habere communionem et confessionem sicut scriptum est in carta vetera quam habemus cum illo prelato de Algodres, et istud fuit per consensu episcopi. (...)” (“Livro das Doações de Tarouca”, fl. 66 e v - cf. FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, p. 96). Ou seja, nesse documento de 1243, o mosteiro comprometia-se a pagar ao “prelado” de Santa Maria de Algodres a assistência religiosa prestada aos moradores de Figueiró (missas, comunhão, confissão, ...), de acordo com o costume e o acordado por escrito com o dito pároco, com o acordo do bispo. Como sabemos, deduz-se das Inquirições de 1258 que o reguengo da “villa Figueroa” estaria no termo de Algodres anteriormente à venda a Egas Gonçalves e à instituição do couto (cf. PMH-INQ, pp. 790 e 791), pelo que, em princípio, deveria estar também integrado na paróquia de Santa Maria de Algodres. Este documento é mais um indício nesse sentido (assim, FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, p. 54), uma vez que demonstra que, com a delimitação do couto de Figueiró em benefício da abadia de S. João de Tarouca, foi necessário regular, com intervenção do bispo (de Viseu), a questão da assistência religiosa (e obrigações a ela associadas), tendo-se acordado que continuaria a ser assegurada pelo pároco de Algodres, mediante um pagamento que ficava a cargo do senhorio (a abadia de Tarouca).
Salvo melhor opinião, estes elementos contrariam a tese que tem sido geralmente admitida, de que Figueiró da Granja nunca pertenceu à paróquia de Algodres e de que, no séc. XII, pertenceria à Matriz de Fornos (cf. MARQUES, 1938, pp. 257-258).
Gostaria de conhecer a opinião do meu amigo a este respeito.
Um grande abraço do,


De Nuno Soares a 7 de Julho de 2008 às 12:58
Caro Albino:
Numa entrada hoje (2008-07-07) publicada neste blog, é referido um documento de 1335, no qual os limites do couto de Figueiró da Granja vêm descritos desta forma: “o dicto couto partia por o ribeyro que chamam Cortiçoo, e des y como parte por a cruz que esta a par da carreyra que vay do dicto couto para Villa Chãa, e des y como parte por a foz das Bogas, e des y como parte por o Peego Ciscoso, e des y como parte com o termho de Linhares por o rio de Mondego, e des y como se vay pelo dicto rio de Mondego ata que entra em elle o dicto primeyro rio que chamam Cortiçoo” (“Livro das Doações de Tarouca”, fl. 78 - cf. FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, pp. 52 e 56).
Verifica-se assim que, nessa data (1335), a referência a “Belcaire” (Belcaide), constante dos docs. do séc. XII, aparece substituída por uma referência a Vila Chã (“...que esta a par da carreyra que vay do dicto couto para Villa Chãa ...”).
Que Vila Chã se situa no território de “Belcaire” não oferece dúvidas. Que ambos os topónimos se refiram a uma mesma localidade é que se afigura mais duvidoso (continuo a não conhecer elementos que justifiquem que o topónimo “Belcaire” se tenha deslocado / circunscrito à “serra de Belcaide”).
Com os dados de que dispomos, julgo que o esclarecimento do sentido da referência a “Belcaire” nos docs. do séc. XII é uma questão que permanece em aberto. Em todo o caso, é bastante interessante para a história local esta referência documental a “Villa Chãa”.


De Nuno Soares a 23 de Maio de 2008 às 10:09
Caro Albino:
Muito obrigado pelo seu comentário.
Como o meu Amigo diz, o termo de Figueiró parte com Celorico (por Jejua/Vila Boa) mas, desse lado (Este), a maior parte da "fronteira" é com terras da Muxagata. Será que a referência a "Belcaire" abrangia também essas terras?... julgo que é uma das questões a aprofundar.
Boa parte das actuais sedes de freguesia das "terras de Algodres" já aparecem referidas nos documentos dos sécs. XII / XIII (e em quase todas existem vestígios de povoamento anterior remontando à alta idade média, designadamente sepulturas escavadas na rocha). Creio por isso que não é de excluir, a priori, a hipótese de que Vila Chã e Muxagata já existissem também como aldeias em meados do séc. XII. Quanto à Muxagata, as Inquirições de meados do séc. XIII (1258) referem que era uma aldeia do termo de Algodres, cuja posse estava então usurpada pelo alcaide de Celorico ( http://algodres.blogs.sapo.pt/arquivo/1068268.html (http://algodres.blogs.sapo.pt/arquivo/1068268.html) ), o que permite supôr que já existiria como povoação em época anterior.
Creio que só com novos elementos será possível esclarecer cabalmente o alcance desta referência a "Belcaire".
Talvez os leitores do blog - incluindo o meu Amigo que é o mais assíduo! - possam encontrar e aqui trazer os elementos de informação que ainda nos faltam.
Um grande abraço,


De al cardoso a 23 de Maio de 2008 às 08:18
Caro Nuno: Caso repare bem a Granja de Figueiro (creio que os limites sao praticamente os mesmos) parte com Celorico pelo lado da actual freguesia de Vila Boa do Mondego, pelo que estara certa a antiga delimitacao. A unica duvida realmente e a parte de "Belcaire" (Belcaide) mas mesmo essa provavelmente sera mais ou menos a actual.
Nao havendo nesses antigos documentos referencias a Vila Cha e a Muxagata, (terras de Algodres) podera indiciar que nessas alturas ainda nao existiam como povoacoes, no entanto as suas igrejas sao antigas, mas provavelmente nao tanto!


De Nuno Soares a 20 de Maio de 2008 às 22:01
Caro Albino:
Muito obrigado pelos seus comentários. Não tenho podido passar por aqui, pelo que só hoje lhe estou a responder.
Este documento é extremamente interessante mas levanta, como referiu, algumas dúvidas.
Quanto à data, esta cópia do documento original indica a Era de 1134, mas, como anotou o autor da transcrição, segundo Viterbo o documento original estaria datado da Era de 1184. Assim, subtraindo 38 anos
a 1184 da Era de César, chega-se à data de 1146 do calendário actual, que Rui Pinto de Azevedo afirma concordar “inteiramente com os restantes dados cronológicos do diploma”.
A fazer fé na data de 1146, de momento este é o documento escrito mais antigo de que disponho, versando expressamente e sem margem para dúvidas as “terras de Algodres”. Para além da venda nele documentada, da maior importância para a história local de Figueiró da Granja, tem também o interesse de confirmar o que outros indícios revelavam: Algodres e Fornos já existiam, com termos próprios e separados, tal como Linhares e Celorico (o reguengo da “villa Figueroa” estaria então no termo de Algodres, como parece resultar das Inquirições de D. Afonso III de 1258 - cf. PMH-INQ, pp. 790 e 791). E contém diversos outros motivos de interesse, como, por ex., o de registar que, à data, um João Faria era o tenente daquela “Terra”.
Porém, como o meu amigo bem refere, a menção que se faz a “Belcaire” (“...et quomodo extremat per Belcaire”) é bastante enigmática. As demais extremas aparecem descritas por reporte aos termos próprios de povoações/concelhos (Algodres, Fornos, Linhares e Celorico). Mas, no caso de “Belcaire”, como o Albino referiu, o topónimo próximo “Belcaide” refere-se a um monte, no qual, até ao momento, não são conhecidos vestígios de povoamentos coevos (embora esteja em aberto a caracterização e cronologia do sítio da “torre do alcaide”: http://algodres.blogs.sapo.pt/arquivo/1068269.html ). A priori, não me parece muito plausível que o topónimo se tenha deslocado/circunscrito ou que a actual Vila Chã tenha tido à época esse nome (não conheço quaisquer elementos que abonem essas hipóteses...). Mas, por outro lado, como, ao que tudo indica, o limite de Figueiró não chegava até ao monte/“serra” de Belcaide, será razoável pressupor que a extrema não estaria a ser definida por reporte a esse monte mas sim a um território mais amplo, com essa denominação… Para complicar mais a questão, deve ser tido em conta que os limites de Figueiró, pelas bandas de “Belcaire” e Celorico, se faziam com terras de Vila Chã e Muxagata, que já integrariam o termo de Algodres…
Não dispondo para já de elementos que possam ajudar a esclarecer esta questão, limito-me a anotar que os limites de Figueiró aparecem descritos neste documento em termos muito genéricos e até de concretização muito duvidosa no que se refere às extremas com Celorico e “Belcaire”. As circunstâncias em que o documento foi elaborado poderão estar na base desta imprecisão quanto às extremas (que, por excesso, poderia até convir ao adquirente). O certo é que, alguns anos volvidos, Egas Gonçalves doou Figueiró ao Mosteiro de São João de Tarouca, a favor do qual foi outorgada, em 1170, uma carta de couto, na qual se optou por fixar as extremas com grande precisão, por referência a acidentes naturais e micro-topónimos facilmente identificáveis, ao contrário das menções genéricas constantes da carta de venda de 1146. Nessa carta de couto, curiosamente, volta a aparecer o topónimo “Belcaire”, mas continua a não ser possível determinar a que se refere: “… et per illam stratam quae vadit ad Belcaire” (cf. MARQUES, 1938, pp. 244-245).
Assim, só posso concluir que muito haverá ainda a investigar sobre esta menção a “Belcaire” e sobre outras questões relativas às divisões concelhias e paroquiais em torno de Figueiró da Granja (designadamente quanto à questão dos limites paroquias aludida por MARQUES, 1938, p. 258).
Um grande abraço, com a amizade de sempre do,


De al cardoso a 15 de Maio de 2008 às 08:52
So mais uma pergunta, nas demarcacoes, aprarecem por um lado; Algodres e Fornos, por outro Linhares e Celorico, tudo toponimos de localidades, e por fim Belcaire (Belcaide)!
Sera que so se referiam ao monte e Serra de Belcaide ou nessa altura Vila Cha chamar-se-ia "Belcaide"?
Gostava de saber a sua opiniao.


De al cardoso a 15 de Maio de 2008 às 08:46
Caro Nuno:
Desculpe a minha ignorancia, mas encontro neste documento algumas incongroencias!
Se no documento esta escrito "Die III Kalendas de Julli Era de M. C. XXX IIII, onde se chegou a conclusao das datas de 1169 ou 1146?
Ja vi que Santa Rosa Viterbo, refere uma ma translacao, sera verdade?
E que ele tambem escreveu muitas inverdades!

Como deve saber eu de latim nao sei quase nada, pelo que gostaria de uma explicacao sua.

Bem haja e um grande abraco dalgodrense,


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