História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt
Sexta-feira, 18 de Abril de 2008
Pinturas quinhentistas na Igreja Matriz de Algodres

O altar-mor da Igreja Matriz de Algodres é constituído por um magnífico retábulo de talha dourada e policromada de vermelho, que integra nos eixos laterais, entre colunas, duas pinturas sobre tábua, envolvidas por acantos e tendo um querubim na zona superior[i]. 

 

Interior Igreja Matriz.jpg

 

 

 

  

 

 A pintura do lado do Evangelho representa o Baptismo de Cristo; na do lado da Epístola, está retratado São Pedro, de corpo inteiro, em pé. 

 

  

 

Algodres-BaptismoCristo.JPG    Algodres-SPedro.JPG

 

 

 

Estas duas pinturas destacam-se claramente, pela sua qualidade, do conjunto da obra pictórica - de diversas épocas - existente neste templo.  Na descrição da Matriz de Algodres, Mons. Pinheiro Marques deu relevo a  “... dois quadros bons a óleo, o do baptismo de Cristo, que é o melhor, e do lado da Epístola o de S. Pedro, de pé”[ii].  Noutro passo da sua obra, volta a referir estes “Dois magníficos quadros em madeira...”, acrescentando que são “...atribuídos pela tradição a Grão Vasco...”[iii].  O Guia de Portugal também chamou a atenção do visitante para estas “... duas tábuas apreciáveis, não estudadas...”[iv].

 

 

 

Não conhecemos elementos ou estudos que permitam confirmar a tradição registada por Mons. Pinheiro Marques quanto à autoria destas obras[v]. 

 

 

 

Trata-se, em todo o caso, de duas pinturas de invulgar qualidade, que não parecem ser contemporâneas do retábulo em que estão integradas, sendo, provavelmente, quinhentistas.

 

 

 

Na verdade, o actual retábulo do altar-mor foi mandado executar pelo Visitador em 1703, por considerar que o anterior estava “... velho, sem columnas, e constar somente de huas táboas lizas, o que no prezente tempo hé indecência, ...”[vi]. Em 1712 já estava concluído, “feito à salomónica e com sua tribuna fermoza”[vii].

 

 

 

As duas pinturas acima referidas, por seu lado, apresentam “... um reportório formal que deriva dos modelos difundidos a partir da escola de pintura quinhentista dominante na região”[viii] (a escola de Grão Vasco), o que indicia a reutilização naquele retábulo setecentista de quadros executados em época anterior, que possivelmente já pertenceriam ao acervo da paróquia de Algodres, como defende a Doutora Maria de Fátima dos Prazeres Eusébio[ix].

 

 

 

Atento o manifesto valor artístico e patrimonial destes dois quadros da Matriz de Algodres, seria de todo desejável que a Diocese de Viseu e o Instituto dos Museus e da Conservação (que sucedeu ao ex-IPCR) pudessem articular esforços no sentido de os restaurar (na sequência, aliás, do Protocolo celebrado em 2000 entre a Diocese e o IPCR), afigurando-se particularmente urgente o restauro do Baptismo de Cristo, que se apresenta bastante fendilhado[x].

 

 

 

Bibliografia e abreviaturas:  v. entradas de 2005-05-09.

 

  

 

 

 

 

 

 


 

Notas:

 

[i] Cf. a descrição efectuada por FIGUEIREDO, 2004 e EUSÉBIO, 2005, pp. 322-323.

 

[ii] Cf. MARQUES, 1938, p. 293.

 

[iii] Cf. MARQUES, 1938, p. 323.

 

[iv] Cf. DIONÍSIO, 1985, p. 846.

 

[v] Sendo conhecida, por outro lado, a propensão para atribuir a Grão Vasco as boas pinturas de feição quinhentista, de autor não estabelecido, existentes na região.

 

[vi] Arquivo Paroquial de Algodres - Livro das Pastorais, fl. 32, transcrito por EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170, pp. 322-323 e Ap. Doc., p. 173 (documento também transcrito por MARQUES, 1938, p. 292).  Esta avaliação depreciativa do retábulo anterior, seria devida, essencialmente ou em boa parte, à alteração de pressupostos estilísticos, que levava a considerar esteticamente desactualizadas e “indecentes” as obras de períodos anteriores (cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170 e 322-323).

 

[vii] Arquivo Paroquial de Algodres - Livro das Pastorais, fl. 47, transcrito por EUSÉBIO, 2005, p. 323 e Ap. Doc., p. 174.   Mons. Pinheiro Marques, afirma que a feitura deste retábulo foi concluída em 1715 (cf. MARQUES, 1938, p. 292).

 

[viii] Cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 322-323.

 

[ix] Cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170 e pp. 322-323.  Esta investigadora defende a hipótese, bastante plausível, de que as duas pinturas em apreço tenham feito parte do retábulo do altar-mor que foi mandado substituir em 1703, que deveria ser do século XVI (pp. 169-170).

 

[x] Agradeço ao Dr. Pedro Pina Nóbrega, ter-me facultado os extractos da dissertação da Doutora Maria de Fátima dos Prazeres Eusébio citados na presente entrada.

 


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publicado por algodrense às 05:45
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3 comentários:
De Nuno Soares a 21 de Abril de 2008 às 18:14
Caros: agradeço as v/ visitas e os amáveis comentários. Agradeço também ao Pedro Correia, do incontornável "Corta-Fitas", o link em: http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/2007041.html (http://corta-fitas.blogs.sapo.pt/2007041.html) . Cordiais cumprimentos do,


De al cardoso a 21 de Abril de 2008 às 07:40
Seria uma mais valia a restauracao dessas pinturas, quem sabe a sua lembranca nao va cair em saco roto.
Como "dalgodrense", interessado em tudo o que a nossa terra diz respeito, uno-me a si no agradecimento ao Dr. Pina Nobrega.
Um grande abraco de amizade a ambos.


De Joo Severino a 19 de Abril de 2008 às 19:26
Caro Nuno Soares

Visitei o seu blogue através do Pedro Correia no Corta-Fitas. Parabéns. Gostei.

http://pauparatodaaobra.blogspot.com (http://pauparatodaaobra.blogspot.com)


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