Anta da Matança - Postal, s/d, ed. CMFA.
(entrada dedicada ao forcadense Dr. César Costa)
Correspondendo a sugestões recebidas, começamos hoje a alargar as entradas deste blog a outras povoações do concelho de Fornos de Algodres, começando pela freguesia da Matança e pela origem desse impressivo topónimo.
A história da freguesia ficará para outra ocasião. Para já, referiremos apenas que, nos alvores da nacionalidade, as terras da Matança foram reguengos que se constituiram em concelho. O primeiro foral documentado foi-lhe outorgado por D. Afonso III (MARQUES, 1938, p. 299). Nas Inquirições de 1258 (PMH-INQ, p. 791), a vila é referenciada e denominada “Matancia”.
O topónimo Matança está documentado em Portugal pelo menos nos concelhos de Fornos de Algodres, Lamego e Monforte. Aparece também na Galiza, como Matanza, em Lugo e Corunha. A interpretação mais corrente fá-lo derivar do s. f. matança (acção de matar, carnificina, ...) (MACHADO, 2003, vol. 2, p. 961).
Mons. Pinheiro Marques (MARQUES, 1938, p. 298) perfilha a mesma opinião:
“ (...) O nome de Matança vem-lhe de um encarniçado combate ali travado, segundo uns, entre romanos e bárbaros (alanos?) e, segundo outros, entre cristãos e árabes.
Desta segunda opinião é um manuscrito em poder do sr. P.e Pinto Ferreira, actual capelão do santuário da Lapa.
Segundo êste manuscrito, passando Almansor com as suas hostes por Aguiar da Beira, e tendo destruído o convento do Sismiro, marchando para o Sul, pelo vale do Dão iam assolando, incendiando e matando quanto encontravam no seu caminho.
Ao presenciarem tantas calamidades, muitos capitãis cristãos se reuniram e procuraram fazer-lhe frente numa planície que ainda hoje tem o nome de «Campo do Desbarate», na povoação do Souto de Aguiar; mas os cristãos foram vencidos sendo mortos alguns dos principais cavaleiros com muitos soldados a pé.
Continuando os mouros a sua marcha para o Sul, reuniu-se um maior número de cristãos e caíram de improviso e de noite sobre eles, infligindo-lhes uma grande derrota, em que morreu grande número de sarracenos.
O lugar em que se feriu êste combate ficou conhecido pelo nome de Matança.
Os que opinam ter sido o combate entre romanos e bárbaros, fundam-se na tradição local que assim o conta, dizendo-se que os romanos, repelindo os bárbaros, fizeram neles tão grande mortandade que ao sítio se ficou chamando «Matança Grande".
Abonam-se estes ainda com a tradição de que existiu no sítio, até ao fim do século passado, uma lápida romana alusiva ao facto. (...)”.
Porém, um insígne estudioso da toponímia portuguesa, o saudoso A. de Almeida Fernandes, propõe uma explicação diferente, menos ligada ao sentido imediato – quase “falante” – do termo Matança:
“(...) Creio que se trata de derivado de “matto”, como Matados, Matela, Matinho, Matagosa, Matosa, etc., com seus derivados e flexões. Para o suf., cp. “ribança”, “mestrança”, Pinhanços, etc.“ (“A toponímia da Beira Alta no “Dicionário Onomástico Etimológico” de José Pedro Machado”, BA, vol. LVII, nºs. 3-4, 1998, p.251; sublinhado nosso).
No caso particular de Matança do concelho de Fornos de Algodres, inclinamo-nos a considerar que a explicação alvitrada por A. de Almeida Fernandes será a mais plausível.
As opiniões referidas por Mons. Pinheiro Marques, parecem pouco seguras. Para além de não serem coincidentes quanto à cronologia da “matança” que invocam, abonam-se em manuscritos ou epígrafes que, a terem existido, hoje não conhecemos e cujo teor e credibilidade não é possível aferir.
Por outro lado, na envolvente próxima da nossa Matança, registam-se outros topónimos derivados de “mato”, com destaque para a vizinha povoação da Matela, sede de freguesia do concelho de Penalva do Castelo.
As terras da Matança terão sido assim, provavelmente, densos matagais que foram arroteados e povoados na época em que se fixou este topónimo, que não terá a ver com qualquer mortandade ali ocorrida.
Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.
Postal, s/d, ed. Ocogravura, Lisboa.
Este postal terá sido impresso a partir de um negativo virado ao contrário, uma vez que a Igreja se encontra, em relação ao Pelourinho, numa posição "impossível" (compare-se com o postal publicado no n/ post de 2005-05-02).
Um blog sobre Algodres agradece a sua inclusão no Directório do ArqueoBeira e a referência feita na actualização de 2005-06-13 daquele portal.
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