Fornos de Algodres - Postal, s/d, s/ed.
Dimensões: 8,8 x 13,8 cm.; a imagem ocupa uma mancha de 8,8 x 12,3 cm..
Tirando a legenda, esta imagem parece idêntica à publicada em MARQUES, 1938, p. 101.
Os marcos de sepultura em forma de estela discóide são bastante frequentes no registo arqueológico, conhecendo-se várias centenas de exemplares um pouco por todo o país.
Estes monumentos destinavam-se a assinalar a presença de um enterramento, sendo colocados, em regra, à cabeceira da sepultura e, excepcionalmente, também aos pés. Esculpidas em pedra, as estelas deste tipo eram constituídas por uma parte superior em forma de disco, assente num espigão destinado a fixá-las ao solo, que era enterrado. Eram em geral decoradas, numa ou ambas as faces, predominando os símbolos religiosos, mas podendo conter também iconografia de diversa natureza (profissional, ...), siglas e, mais raramente, epígrafes.
A utilização das estelas discóides abrange uma larga diacronia, desde o período medieval até quase à actualidade (conhecem-se exemplares do séc. XX ...), pelo que a datação de achados descontextualizados é sempre problemática. Em todo o caso, tem-se entendido que a maioria datará da Baixa Idade Média. Segundo o Prof. Mário Jorge Barroca, os exemplares anteriores ao séc. XII parecem ser mais ou menos excepcionais, ocorrendo a generalização destas estelas funerárias apenas nos séculos XIII e XIV (BARROCA, 1987, pp. 306 e segs.). A partir do século XVI o seu uso vai rareando, embora se continuem a registar ocorrências nos séculos posteriores.
Até ao momento, que saibamos, foram identificadas apenas duas estelas deste tipo nas Terras de Algodres.
Um dos exemplares foi encontrado em Algodres, na década de oitenta do século passado, quando se realizaram obras numa casa situada a poucos metros da fachada Sul da igreja matriz. Estava quebrada, faltando-lhe o espigão e tinha gravada uma cruz em alto relevo, de braços algo irregulares (VALERA, 1993, p. 54).
Estela funerária de Algodres, seg. VALERA, 1993.
A outra estela conhecida foi encontrada em Figueiró da Granja por Mons. Pinheiro Marques, que a identificou, recolheu e monumentalizou, mandando-a colocar, à laia de cruzeiro, no alto de uma coluna, como conta no livro Terras de Algodres (MARQUES, 1938, p. 42):
Em Figueiró, presumo, sem afirmar, que seja do tempo dos godos uma antiquíssima pequena cruz lavrada em relêvo numa pedra, que, desde há séculos, está no ângulo do caminho do Relão e Quelha da Fonte-Arcada; chamam-lhe a Cruzinha e daí veio ao sítio êsse mesmo nome, que ainda hoje conserva.
Efectivamente, já os godos usavam nas suas moedas uma cruz lisa como esta.
O Conde D. Henrique e seu filho D. Afonso Henriques também usavam no escudo uma cruz lisa, como esta nossa Cruzinha.
Esta cruz de pedra era um marco simbólico da fé cristã, que, como ainda hoje, se colocava à cabeceira das sepulturas, como pedra tumular ou marco funerário.
No Museu Etnográfico de Belém existem duas como esta de Figueiró.
Como êste precioso documento arqueológico andasse, há muitos anos, aos baldões, pelo caminho, recolheu-a com respeito o autor dêste livro, mandando-a colocar, em 1930, no alto de uma coluna, no mesmo sítio a que deu o nome.".
Cruzinha, Figueiró da Granja (Agosto de 2001).
O monumento ainda se conserva, no estado em que a fotografia agora publicada documenta. A meio da coluna foi esculpida uma cruz grega (cruz de braços iguais), semelhante à da estela e a data de 1930. Se a datação proposta por Mons. Pinheiro Marques não será a mais provável, à luz dos conhecimentos actuais, este é mais um monumento do nosso património histórico-cultural cuja preservação o concelho lhe ficou a dever.
Muito possivelmente ainda estarão por descobrir, em Terras de Algodres, ocultas pelo solo ou por construções, mais estelas funerárias deste tipo. Outras poderão estar, como é frequente, reutilizadas e esquecidas, à espera de quem nelas repare e as reconheça. Aqui fica pois um repto, aos algodrenses e visitantes: vamos descobrir as estelas perdidas! Este blog fica à espera das notícias e/ou fotografias dos vossos achados.
Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.
O nº. 12 do Boletim Cultural do Inatel - Guarda, datado de Maio p.p., publica um dossier especial dedicado a Fornos de Algodres, que inclui os seguintes artigos:
- CMFA, “Câmara Municipal de Fornos de Algodres: Linhas da Política Cultural”, pp. 52-54;
- AAVV, “Associações”, pp. 55-57 (“A Associação Recreativa e Cultural de Figueiró da Granja”, p. 55; “Associação Prom. Soc. Rec. Desp. Hum. de Maceira”, pp. 55-56; “Banda Filarmónica de Fornos de Algodres”, p. 57);
- Nuno Soares, “Algodres – Uma aldeia com História”, pp.58-60; (1)
- António Carlos Valera, “Património histórico-arqueológico de Fornos de Algodres”, pp.61-63;
- Joaquim Martins Igreja, “Olaria de Juncais – Artesanato para todo o país”, pp. 64-65;
- Padre Virgílio Marques Rodrigues, “Romarias – Nossa Senhora dos Milagres (Muxagata)”, pp. 66-68.
O Boletim é editado pela Delegação do INATEL na Guarda.
Notas:
1 – Este texto é uma síntese ainda mais resumida que a entrada aqui publicada em 19 de Maio p.p., pelo que não trará novidades aos leitores deste blog.
... ao Bloguices - que nos brindou com um simpático link no seu Destak semanal...;
... ao Alex, que anda a tentar perceber como se perdeu o castelo de Algodres (post 413, de 29 de Julho p.p.) ;-) ;
e uma cordial saudação à Sebentaria, agora chamada Cartografia do exílio.
De facto, para além das ocupações do Bronze Final, a Quinta das Rosas em Maceira forneceu materiais que documentam outras ocupações anteriores, nomeadamente do final do Calcolítico (c. de 4000 anos) e do Neolítico Inicial (c. de 6500). O recipiente da imagem é precisamente uma das evidências desses momentos mais antigos. A Quinta das Rosas, em Maceira, e a Quinta da Assentada, na freguesia de Algodres, são os dois sítios com ocupações humanas mais antigas conhecidos no concelho, datáveis do início do processo de neolitização desta região beirã.
Quem busque obras monográficas que sirvam de introdução ao estudo do concelho de Fornos de Algodres, continua a ter como referência fundamental o livro “Terras de Algodres (concelho de Fornos)”, da autoria de Monsenhor José Pinheiro Marques (1871-1940), cuja primeira edição foi impressa em Setembro de 1938 (MARQUES, 1938).
Este livro é ainda a única monografia publicada abrangendo todo o concelho.
Como salientou José Alfredo Pinheiro Marques nas notas introdutórias à segunda e terceira edições, o trabalho de Mons. Pinheiro Marques foi, para o seu tempo, uma obra notável e tem servido de base à generalidade dos estudos e publicações que lhe sucederam. Trabalho pioneiro na historiografia do concelho, transcende essa dimensão pela extensa e bem informada abordagem multidisciplinar de outras temáticas relativas à região (geografia, economia, toponímia, arqueologia, epigrafia, genealogia, património arquitectónico e artístico, ...). É também um importante repositório de dados etnográficos, de tradições e de outros factos e acontecimentos do conhecimento do seu autor, muitos dos quais se teriam perdido, se não tivessem sido registados nesta obra. O mesmo sucede com alguns documentos citados e/ou transcritos, de capital importância para a história local e hoje com paradeiro desconhecido.
A principal crítica que, já à época, se poderia fazer a esta monografia, seria a desproporcionada atenção que, na economia geral da obra, dedicou à freguesia de Figueiró da Granja. Porém, tratando-se da terra natal do autor, é “pecado” que merece absolvição e tentação na qual a maioria dos mortais certamente cairia...
Como é natural, face aos desenvolvimentos entretanto ocorridos, a obra de Mons. Pinheiro Marques encontra-se bastante desactualizada, quer na metodologia de construção do discurso científico, quer ao nível dos dados empíricos e do quadro de referência geral em que o mesmo se baseou. Mas continua a ser leitura não só útil como indispensável, enquanto não aparecer um trabalho monográfico de fôlego que a ultrapasse.
Existem, é certo, inúmeros estudos dispersos, sobre o concelho de Fornos de Algodres, muitos deles recentes e de grande relevo científico, designadamente no domínio da história e da arqueologia. Mas faltam as sínteses monográficas, que “organizem” tais conhecimentos, em benefício do leitor comum ou de quem inicia novas investigações.
Especificamente sobre a aldeia de Algodres, há duas pequenas monografias mais recentes (LEMOS, s/d; RODRIGUES, s/d), que acrescentam informações de inegável utilidade. Há ainda um outro estudo do mesmo género, sobre a aldeia de Infias (LEMOS, s/d a). Trata-se, porém, de trabalhos policopiados, que não tiveram edição comercial e são bastante difíceis de obter.
Sobre o riquíssimo património arqueológico do concelho, foi publicada há cerca de uma dúzia de anos uma carta arqueológica (VALERA, 1993), que dá testemunho da profunda evolução do conhecimento nessa matéria. Infelizmente, esta obra, que é também uma referência fundamental, pode considerar-se já bastante desactualizada - em virtude das descobertas e trabalhos entretanto realizados – e está praticamente esgotada.
Resta assim, à generalidade dos interessados, o recurso à obra de Mons. Pinheiro Marques, que a diligência da CMFA tem mantido disponível. Em 1988, foi publicada uma segunda edição, comemorativa dos cinquenta anos da edição original. Rapidamente esgotada, está agora disponível a terceira edição, datada de 2001, que pode ser adquirida junto da CMFA ou na recepção do CIHAFA – Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres.
Nota final:
Na edição de 1988 do livro Terras de Algodres, foi alterada a numeração das páginas que constava na edição original. Essa opção foi corrigida na terceira edição, de 2001. Neste blog, a citação de págs. desta obra é sempre referida à paginação das edições de 1938 e de 2001.
Bibliografia e abreviaturas: v. entradas de 2005-05-09.
Igreja de Santa Maria Maior, Matriz de Algodres.
(colaboração de Albino Cardoso)
Estive quase tentado a escrever o título desta entrada da seguinte forma: as Forcadas e as sepulturas antropomórficas. Depois pensei melhor e realmente não fazia sentido, na realidade não são antropomórficas, pois não foram escavadas com a forma do corpo humano. De acordo com os especialistas na matéria esse facto tê-los-á levado à conclusão que são muitíssimo mais antigas do que as outras com forma antropomórfica, estaríamos então perante uma necrópole datada dos séculos VII ao IX. Ora tanto quanto sei não foram encontrados nenhuns materiais, que possam ser tratados e datados com radiação de carbono e portanto estas datas são especulativas. Mas supondo que são datadas dessa época, são dos primeiros séculos da nossa era cristã. Ainda de acordo com os mesmos técnicos, como são dos primeiros séculos da era cristã, então são sepulturas cristãs.
Aqui é que começa a minha dúvida; serão mesmo sepulturas cristãs? Tentando arranjar uma explicação lógica os mesmos estudiosos tentam localiza-las junto a algum templo antigo ou tentar encontrar na sua orientação canónica a explicação para essa afirmação. Ora tanto quanto tenho conhecimento com a excepção da necrópole de Vila Ruiva da Serra, nem nas Forcadas nem em nenhum outro grupo ou sepulturas isoladas no nosso concelho fica situado junto a nenhum templo cristão ou vestígios orais ou materiais dele. Junto ao nosso município, mas no de Celorico, existe até o facto de, na necrópole de S. Gens, em vez de haver restos de um templo cristão, existirem isso sim vestígios de culto a outras divindades, ainda gostaria de saber em que se basearam para lhe dar esse nome.
Em Vila Ruiva como afirmei a necrópole já antropomórfica encontra-se localizada junto à capela do arcanjo S. Gabriel. Esta capela é muito recente pois foi construída em meados do século XX sobre as ruínas de outra mais antiga. No entanto ponho muitas dúvidas que aquela capela antiga pudesse datar dos primeiros séculos da era cristã. É também curioso que a invocação de S. Gabriel até pode coincidir com outra teoria que gostaria de explorar noutra entrada.
Voltemos então às Forcadas e isso até pode servir, para todas as outras sepulturas escavadas na rocha, conhecidas na nossa região. Todos quantos têm estudado e evolução da religião cristã sabem que desde que foram construídos os primeiros templos, os cristãos sempre foram sepultados no seu interior ou nas suas imediações. Temos entre nós o caso da "recente" descoberta da necrópole de Algodres situada junto a antiquíssima igreja de Santa Maria. Suponho eu sem grandes receios de ser desmentido que é a mais antiga igreja do nosso concelho (este costume estava de tal maneira enraizado na tradição das nossas gentes, que no século XIX quando Costa Cabral decretou a construção dos cemitérios originou uma revolta que originou a queda do seu governo). Ora admitindo que a fundação da igreja da Matança possa datar dos séculos VII ao IX, o que eu duvido, porque haveriam dos seus fregueses e contra toda a lógica desses tempos, mandar construir esta necrópole relativamente longe da sua igreja e não ser sepultados junto ou dentro da mesma como era costume. Dirão talvez que as Forcadas é uma povoação mais antiga que a Matança e que aí houve um outro templo mais antigo que a igreja de Sta. Maria Madalena. Tanto quanto sei nem uma nem outra dessas possíveis teorias tem fundamento documental. Não existem vestígios nem memória de nenhum templo cristão nas Forcadas e tampouco se conhecem vestígios arqueológicos que possam comprovar essa tese (a capela hoje existente foi construída na década 80 do século XX).
Voltemos então à minha dúvida: nada prova para além de puras especulações que são sepulturas cristãs, pois até a orientação canónica (decretada muito mais tarde) não está comprovada nelas, embora haja algumas em que isso se possa no entanto encontrar, mas até isso pode ser explicado por outras razões. Também temos que admitir que este tipo de sepultura não era a regra mas sim uma excepção e seria para pessoas de mais posses materiais ou possivelmente para classes superiores, pois a maioria era sepultada na terra e não em sepulcros escavados na rocha. Então ou estas sepulturas são muito mais antigas do que a era crista, ou, sendo da época em que tentativamente estão datadas, serão de outra gente que não cristãos, pois nesses tempos nem toda a gente o era: havia os romanos, os povos autóctones que eles chamaram "Lusitanos", depois vieram os suevos os alanos e mais tarde os visigodos que finalmente se converteram ao cristianismo e havia um outro povo que por estas bandas andava desde o tempo dos romanos: os judeus!!! que infelizmente não são estudados quando é abordada a historia das Terras de Algodres. Além disso também existe entre as nossas gentes a tradição de chamar a estas sepulturas: "sepulturas dos mouros".
Este é o espaço integrado na Quinta das Rosas, junto a Maceira, onde têm decorrido escavações arqueológicas nos últimos anos. Ali foi pela primeira vez documentada uma ocupação do final da Idade do Bronze no território do concelho, datada de há cerca de 3000 anos. Uns dia destes veremos alguns materiais.
Maceira, de outros tempos - Postal, s/d - enviado por Albino Cardoso.
Esta é uma das várias moedas recuperadas nas recentes escavações realizadas na praça de Algodres, junto à Igreja Matriz. Mosta três torres de um castelo. São várias com a mesma imagem. Será este o mítico Castelo desaparecido? Ainda se notam alguns vestígios do recobrimento a ouro (noutras esse recobrimento é bem mais evidente). Seria uma prática parecida com a de pintar o cavalo velho. Quem sabe não foi o que aconteceu ao velho Castelo, o qual poderá estar hoje irreconhecível sob uma qualquer cosmética moderna. As escavações que se avizinham no centro da povoação (de modo a permitirem a conclusão do empreendimento de infraestruturas) trarão certamente mais dados e, quem sabe, permitam esclarecer de vez o enigma. Não desesperem, pois, os "crentes". O Castelo existe, nem que seja seguindo as modernas filosofias da contingência, as quais postulam que "o que existe é o discurso", o qual pode ser sempre materializável (em vez de a ideia ser representação do objecto, o objecto é representação da ideia).
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