Fraga da Pena (sítio arqueológico do Calcolítico Final / Bronze Inicial)
Postal, s/d, ed. CMFA (foto de António Valera, 1993).
Das várias actividades a decorrer em Fornos de Algodres (cf. site da CMFA) destacamos a iniciativa “Património em (Des)envolvimento…”, em 01 de Outubro, com o seguinte Programa:
I PARTE:
9h00 – Encontro dos Participantes junto aos Paços do Município
Visita guiada ao Roteiro Patrimonial do Município de Fornos de Algodres, em Todo-o-Terreno (TT)
(da responsabilidade do Esgalhada Clube Todo-o-Terreno)
Almoço na Praia Fluvial do Cadoiço
(da responsabilidade da Associação de P.S.C.D. de Juncais)
II PARTE:
SEMINÁRIO sob o tema: “Património em (Des)envolvimento…”
Local: Auditório da Associação de Promoção Social Cultural e Desportiva de Fornos de Algodres
14h00 – Sessão de Abertura, presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Fornos de Algodres
14h15 – “Breve Visão sobre o Património Histórico de Fornos de Algodres”
- Dr. Miguel Leal, Historiador, Câmara Municipal de Fornos de Algodres
14h30 – “18 anos de investigação e valorização do Património Arqueológico de Fornos d Algodres”
– Dr. António Carlos Valera, Arqueólogo, Director do Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres.
15h30 – “Património e Desenvolvimento Local”
- Arquitecto José Afonso, Director Regional de Castelo Branco – IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico.
16h00 – “Rede Social – Fórum de Articulação do Desenvolvimento Social”
– Dra. Carmo Sofia Ambrósio, Socióloga da ADRUSE – Associação de Desenvolvimento Rural da Serra da Estrela
16h30 – Debate e Encerramento
Moderador: Arquitecto José Fernando Oliveira, Coordenador da Equipa da Revisão do PDM, de Fornos de Algodres.
17h00 – Visita ao Museu do CIHAFA
III PARTE:
18h00 - Local: FRAGA DA PENA
- ...à Roda do Espeto…
- “A Lenda da Fraga da Pena” - apresentada pelo Grupo Etnográfico da Casa do Pessoal da Câmara Municipal de Fornos de Algodres
- Actuação do Grupo POPULARIS (musica celta, medieval e popular portuguesa)
- Sons e Chamas de J.P & Martine Animações.
Antigo Hospital da Misericórdia de Fornos de Algodres
Postal, s/d - enviado por Albino Cardoso.
Necrópole das Forcadas, Matança.
(colaboração de Albino Cardoso)
A dúvida acerca das sepulturas escavadas na rocha, é saber-se exactamente a sua datação, pois esta, segundo os entendidos, poderá ir do século VII até ao XII ou XIII, (mas será que são antigas, ou serão mais modernas?). Parece que existe uniformidade de opinião sobre o facto de as mais antigas serem as não antropomórficas. Sendo assim, a necrópole das Forcadas será dos tempos mais recuados, podendo ir até ao século VII, portanto antes do ano 700 da era cristã.
Tanto quanto sei, todos os especialistas na matéria dizem que estas sepulturas são cristãs, pelo facto de serem da nossa era e tentam encontrar sempre conexão entre elas e algum lugar de culto dessa religião (mas os templos ou outros símbolos cristãos não poderiam ter sido construídos mais tarde e não terem nenhuma relação?). Nunca se levantaram outras possibilidades, sabendo-se no entanto que nesses tempos havia no nosso território muitas outras religiões, entre as quais: o paganismo romano, o Arianismo, o Islão, o Judaísmo e até outras religiões praticadas pelos nossos antepassados Lusitanos que devido ao facto de não existirem provas documentadas delas pouco se sabe.
Se tivermos em conta essas datações, a necrópole das Forcadas tanto poderia ser cristã, como de qualquer uma dessas outras religiões. Eu pessoalmente ponho muito em dúvida que o seja, pelos factos já adiantados na outra entrada sobre o mesmo tema.
O nosso povo com o seu saber milenar, muitas vezes sem muita instrução (digo instrução e não educação, porque esta é muito subjectiva), costuma referir-se a estas sepulturas como: "covas ou sepulturas dos mouros". Até pode muito bem ter razão, pois foi por essas alturas que os muçulmanos começaram a conquista da península. Haveria que investigar se era comum esse tipo de enterramento na cultura e religião do Islão. Eu pessoalmente e sem ter feito nenhuma pesquisa a fundo, não o creio, pois de acordo com essa religião o defunto tem que ser sepultado dentro de 24 horas e não creio que eles tivessem as sepulturas já escavadas a espera do cadáver. Sabe-se também que pela nossa região não existem vestígios (para além de alguns orais e topónimos) de nenhum grande povoamento promovido por essa gente; foi mais uma região de fronteira entre o norte mais cristão e o sul mais muçulmano. O que eu creio que a sabedoria popular quer com essa expressão dizer é que são tão antigas como antigo é o tempo em que os mouros andaram por cá.
Dos romanos tampouco creio que sejam, pois eles usavam um tipo de sepultura muito mais elaborado e tinham o hábito de colocar lápides acerca do defunto, algumas ainda hoje existentes na nossa região. No entanto, não se conhece nem se sabe que tenha existido nenhuma junto à necrópole ou a esta antiga aldeia.
Quanto à religião Ariana, que foi trazida pelos Visigodos, era uma variação da cristã e estes passado algum tempo, por ser talvez politicamente mais favorável, converteram-se ao cristianismo e começaram a praticar todos os costumes dessa religião, entre os quais o enterramento dos seus mortos dentro e junto das igrejas; facto este que ainda hoje se pode comprovar na igreja de Açores, em Celorico da Beira e numa igreja em Trancoso, relativamente perto de nós.
Serão então estas sepulturas dos nossos antepassados Lusitanos? Eu pessoalmente muito gostaria que isso fosse uma realidade, no entanto nada o faz supor. Primeiro, porque, tanto quanto se sabe e embora pudesse haver algumas excepções, esses povos tinham o costume de incinerar os seus mortos e não sepultá-los; por último, lá está a datação a dar esta necrópole para muito mais tarde.
Seriam então sepulturas judaicas? Talvez pudessem ter sido, pois o povo Hebraico já anda na Hispania desde o tempo dos romanos, sendo de uma maneira geral um povo culto e rico e como este tipo de sepultura é dispendioso e excepcional bem poderia ser deles. Existem ainda mais alguns factos que me poderiam levar a pensar desta maneira. Nas Forcadas, como já referi, nunca existiu nenhum templo cristão, tanto quanto se saiba ( a capela hoje existente foi construída nos anos 70 do século XX e um cruzeiro perto da necrópole ainda é mais recente) e está provado, pelas marcas nas pedras nas antigas habitações dessa aldeia, que ali viveram judeus, mais tarde convertidos a "cristãos-novos". Sabe-se também, estando isto até documentado na Bíblia, que esta gente tinha o costume de escavar os seus túmulos na rocha. Além disso, gostaria de acrescentar que relativamente perto existem indícios de povoamento do tempo romano.
Isto leva-me a verificar se existe algo que pudesse corroborar esta minha ideia nas outras necrópoles ou sepulturas isoladas do nosso concelho. Vou-me unicamente referir aquelas que eu conheço pessoalmente.
A necrópole de Vila Ruiva, como sabemos, encontra-se localizada nas imediações da capela do arcanjo S. Gabriel. Esta capela foi edificada no século XX, no sítio de uma outra mais antiga. No entanto não existem nenhuns indícios de que date da baixa idade média, alturas em que os estudiosos datam esta necrópole. Portanto, ou eles erram na datação, ou a capela nada tem que ver com a necrópole. Além disto, gostaria de chamar a atenção para alguns pormenores: a necrópole da Tapada do Anjo é cortada por um caminho antiquíssimo que se dirige para a serra e que o Monsenhor Pinheiro Marques supõe romano, afirmando que enterrado debaixo dele existe uma calçada romana; o arcanjo Gabriel também é de certa forma venerado pelo povo judaico; e se estas sepulturas eram longe das povoações para cumprir as recomendações conciliares, então para que é preciso fazer referência à capela?
Referindo-me às sepulturas de Infias: A primeira, uma sepultura de enormes dimensões, está situada no que foi o antigo passal da abadia de S. Pedro e relativamente perto da igreja, templo este que, de acordo com a maioria senão a totalidade dos historiadores, não data senão dos séculos XIII ou XIV. No entanto também se encontra à mesma distância, senão mais perto, dos vestígios do que foi uma "villae" ou "civitas" romana. Além disso, na igreja de Infias existe uma lápide romana ao deus Mercúrio e, por curiosidade, o padre Luiz de Lemos, no seu ensaio de monografia, quando se refere a ela não lhe faz nenhuma conotação com o cristianismo. As outras duas sepulturas estão situadas mais longe da povoação e da igreja, no sopé do monte da Raza, onde existem vestígios dum castro pré-romano; ao mesmo tempo estão relativamente perto do que terá sido a "civitas" romana.
Vou-me agora referir às sepulturas dos Cabeços, que ficam relativamente perto da arruinada Aldeia de Cortes, próximo da freguesia de Vila Chã de Algodres. Os entendidos na matéria datam-nas entre os séculos VIII e IX. Não creio que estas sepulturas sejam cristãs, pois a povoação mais perto, hoje desabitada, foi fundada no século XVI, não se conhecendo nenhuns vestígios de ocupação humana nas imediações. Também se não conhece nenhum vestígio cristão por perto e a paróquia de Vila Chã, embora bastante antiga, não creio que vá muito para lá dos séculos XIV ou XV.
Concluo então as minhas dúvidas do seguinte modo: ou as sepulturas rupestres escavadas na rocha são realmente cristãs e datam de épocas muito mais recentes, havendo então um grande erro de datação, ou então não o são e, datando das épocas avançadas, serão de outros povos: Romanos, Muçulmanos, Judeus, ou outros povos autóctones sem nome.
Esta obsessão de querer relacionar estas sepulturas com templos cristãos, chegou ao extremo de recentemente, na cidade da Guarda, com as obras da Praça Velha, ao descobrirem algumas, com a particularidade de terem ainda restos mortais (o que ajudaria muito a sua datação) querem ou quiseram relacioná-las com a catedral, sabendo-se (e para isso nem é preciso ser historiador) que esta catedral data dos séculos XIV ao XVI e as outras catedrais anteriores estavam localizadas numa outra área da cidade. O que sim estava nesta área da cidade, desde a idade média, era a judiaria, que foi uma das mais importantes na nossa Beira Alta.
Albino Cardoso
2005-08-30
Igreja de S. Pelágio, Cortiçô - Foto de Albino Cardoso (2001)
a todos os que por aqui continuaram a passar durante estas semanas em que o blog esteve de “pousio”.
Saudamos também o aparecimento de um novo blog, dedicado primordialmente à presença judaica nas Terras de Algodres, da autoria do nosso amigo Albino Cardoso, que pode ser encontrado aqui. Fazendo votos do maior sucesso para mais esta iniciativa do incansável Albino, aproveitamos para lhe agradecer o link que colocou para este blog e as várias colaborações que entretanto nos enviou.
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