Cruzeiro da Serra da Esgalhada - Infias
Postal, s/d, enviado por Albino Cardoso.
Igreja Matriz de Algodres - Postal, ed. Paróquia de Algodres.
A monumental História Religiosa de Portugal, organizada pelo Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (AZEVEDO, 2004) é uma obra de referência fundamental a que certamente aqui recorreremos com alguma frequência.
Constatámos, porém, que no capítulo “O espaço eclesiástico em território português (1096-1415)”, da autoria do Prof. Doutor Bernardo de Sá Nogueira (AZEVEDO, 2004, vol. 1, pp. 142-201), estão omitidas igrejas então existentes nas “Terras de Algodres”, desde logo a mais importante, a igreja de Santa Maria Maior, matriz de Algodres.
Reportando-se às igrejas de “Aquém-Monte”, da diocese de Viseu, o autor refere apenas, na área do concelho de Fornos de Algodres, as igrejas da Matança e de São Miguel de Fornos de Algodres (AZEVEDO, 2004, vol. 1, p.171). Trata-se, possivelmente, de um lapso - ou de uma opção no mínimo discutível. A listagem apresentada teve assumidamente como fonte principal a conhecida lista de igrejas de 1320-1321, publicada por Fortunato de Almeida (ALMEIDA, 1971). Nessa lista, destinada a elencar as rendas eclesiásticas doadas pelo Papa ao rei D. Dinis, pelo período de três anos, para auxílio na guerra contra os Mouros, vêm também expressamente referidas as igrejas de Santa Maria de Algodres e de São Pedro de Infias. Decorre, aliás, dessa lista, que a igreja de Santa Maria de Algodres era uma das mais importantes – e taxadas – de toda a diocese. Foi taxada em 250 libras, sendo que a paróquia mais taxada do bispado o foi em 350 libras, ficando a maioria das igrejas abaixo destes valores. O peso relativo das igrejas das “Terras de Algodres” pode ser deduzido das contribuições então fixadas (ALMEIDA, 1971):
- Santa Maria de Algodres - 250 libras;
- São Miguel de Fornos - 50 libras;
- Santa Maria da Matança - 40 libras;
- São Pedro de Infias - 10 libras.
Contrariamente ao que supôs Mons. Pinheiro Marques (MARQUES, 1938, p. 290), a lista de igrejas de 1320 não é sequer a mais antiga referência documental conhecida à igreja matriz de Algodres. Nas Inquirições de D. Afonso III, de 1258 (cf. PMH-INQ), já era mencionada a igreja de Algodres, como pertencendo ao padroado real:
“(...)F. Martini (...) dixit quod villa et ecclesia de Algodres sunt Domini Regis. (...)”
Pelas mesmas Inquirições, ficamos a saber que já então esta igreja era detentora de assinalável riqueza, designadamente em bens legados em testamento pelos fiéis, queixando-se o concelho do não pagamento dos foros devidos ao rei por esses bens:
“(...) Item, dixit quod ecclesia de Algodres habet, de testamentis, multam hereditatem forariam Regis de termino de Algodres. (...)”
Refere-se, inclusivamente, que a igreja de Algodres possuía uma aldeia no termo de Algodres, chamada “Soveral”, que corresponderá à actual freguesia de Sobral Pichorro (assim, A. de Almeida Fernandes, “A toponímia da Beira Alta ...”, in BA, vol. LX (2000), ns. 3-4, p. 336), sendo esta a primeira referência documental que conhecemos daquela povoação:
“(...) Item, dixit quod ecclesia de Algodres habet unam aldeyam in termino de Algodres, et nullum forum facit Regi. Et aldeya vocatur Soveral. (…)”
“(…) Item, dixit quod ipsa aldeya que est de ecclesia fuit de testamento et de conpara. Et dixit quod habet ecclesia alias hereditates de testamentis forarias Regis (...)”.
Permitam-nos, pois, os doutos autores da História Religiosa de Portugal este reparo: a não serem citadas naquela obra todas as igrejas das “Terras de Algodres” incluídas na lista de 1320, não deveria deixar de ser mencionada a Igreja de Santa Maria de Algodres, que era, sem dúvida, a mais importante da região e matriz de diversas anexas, no termo de Algodres.
Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.
Interior da Igreja Matriz de Algodres - Postal, ed. Paróquia de Algodres.
Os estudos sobre a igreja matriz de Algodres referem geralmente que a mesma foi comenda da Ordem de Cristo. Já o Padre Carvalho da Costa registava (cf. COSTA, 1868, p. 187) que a comenda rendia dois mil cruzados. Também Mons. Pinheiro Marques (MARQUES, 1938, pp. 290-291) explanou detalhadamente diversos direitos e deveres desta Comenda. Porém, a data e demais circunstâncias de instituição da comenda não aparecem esclarecidas nestas obras.
Numa monografia dedicada à Igreja de S. Julião de Azurara (Mangualde), o Dr. Alexandre Alves dá resposta a essa questão (cf. ALVES, 1990, pp. 22, 54-61 e 122-123). Segundo este autor, a pedido do rei D. Manuel I, o papa Leão X autorizou a transferência dos bens, rendas e direitos de cinquenta igrejas do padroado real, para servirem de base à criação de outras tantas comendas da Ordem de Cristo, destinadas a recompensar serviços prestados no Ultramar. Por alvará régio datado de 28 de Maio de 1517 (Torre do Tombo, Gaveta VII, 2-9, transcrito in As Gavetas da Torre do Tombo, II (Gav. III-XII), Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1962, pp. 422-432 - cit. in ALVES, 1990, pp. 122-123), foram especificadas as igrejas abrangidas, entre elas a de S. Julião de Azurara e a de “Sancta Maria d´Alguodres”, ficando mandatado o Bispo do Funchal para dar execução à bula papal.
Remonta, assim, a 1517, a afectação da Igreja de Algodres a uma comenda da Ordem de Cristo.
Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.
Um visitante deste blog, com ligações familiares a Algodres, teve a amabilidade de nos enviar um e-mail dando a conhecer uma meritória iniciativa da paróquia de Algodres. Trata-se da edição de uma nova colecção de postais, com imagens recentes de alguns dos principais pontos de interesse daquela aldeia.
Agradecendo ao João Nunes a informação e as imagens enviadas, aqui iremos divulgar (apenas) algumas delas, procurando dar o devido destaque a esta edição, que reputamos imperdível para todos quantos se interessam pela história e património cultural das Terras de Algodres.
Santa Eufémia, Matança - Foto de Albino Cardoso, 198?.
(colaboração de Albino Cardoso)
Em todos os roteiros ou referências históricas do município de Fornos de Algodres, poucas são as vezes que se referem a capela da Santa Eufémia, situada na freguesia e outrora antiquíssimo concelho da Matança.
É uma capela romano-gótica que em meu entender é a mais genuína construção da época medieval nas "Nossas Terras". Datando provavelmente dos séculos XIII ou XIV, é uma construção da transição do estilo românico para o gótico. Felizmente ainda hoje se conserva (para além da adição do alpendre fronteiro e da sacristia) praticamente da forma como terá sido construída, pois tendo passado provavelmente por algumas reconstruções durante os muitos séculos que por ela passaram, nunca os homens nela fizeram grandes modificações.
Nesta capela podemos admirar o belo portal ogival, as suas grossas paredes de granito onde ainda se vêem alguns cachorros de suporte da antiga cobertura, mas é, em meu entender, a cachorrada de suporte ao telhado da capela-mor o mais interessante. É composta por figuras mitológicas e vegetalistas, principalmente do lado norte, pois o lado sul foi encoberto (ou destruído) aquando da construção da referida sacristia, restando à vista creio que unicamente um ou dois cachorros.
Se no nosso concelho quisermos conhecer como eram os nossos templos medievais, teremos que visitar a capela da Santa Eufémia, pois para além do já referido, é com os seus tectos baixos e a ausência de aberturas de iluminação, envolvida na penumbra que nos faz lembrar as antigas catacumbas onde se iniciou a religião católica romana.
Segundo uma lenda, esta capela era para ser erguida no cume do monte Milho que lhe fica relativamente perto, "mas tendo o devoto construtor para lá transportado a pedra para essa construção, durante a noite e inexplicavelmente a pedra vinha aparecer no local onde hoje a capela se encontra implantada. Vendo nisto vontade divina, deixou de lado a ideia original e aqui construiu a capela". Digamos até que a localização nem é a ideal em relação ao terreiro contíguo, pois encontra-se numa ponta deste e na parte mais baixa pelo que nem tem uma grande proeminência (mas os desígnios divinos são insondáveis).
Santa Eufémia foi uma virgem e mártir dos primeiros tempos do cristianismo e é muito venerada por toda esta nossa Beira, com várias capelas e santuários. É considerada pelo nosso povo a santa protectora das doenças de pele, principalmente das doenças "ruins" como diz o mesmo. A este santuário acorrem peregrinos durante todo o ano, em cumprimento de promessas ou em orações de pedido. O mesmo povo crê que a Santa aceita com bom grado ofertas florais, principalmente de cravos. É no entanto durante as duas grandes romarias anuais que se juntam as grandes multidões. Estas romarias são realizadas uma na segunda-feira da Páscoa e a outra no dia 16 de Setembro, dia festivo da Santa.
Ainda até há relativamente pouco tempo, o dia da feira e romaria da Santa Eufémia era quase que dia feriado numa grande parte do nosso concelho. Principalmente pela Páscoa, aqui vinham e ainda vêm também muitos devotos dos vizinhos concelhos de Aguiar da Beira e de Penalva do Castelo. É ainda a mais genuína e popular de todas as romarias das "Terras de Algodres".
Tenho pena que as adições do alpendre e da sacristia lhe tivesse tirado parte da beleza original, mas a comodidade das pessoas a isso terá obrigado. No entanto, continua a ser, na minha humilde opinião, o templo medieval mais representativo do concelho de Fornos de Algodres.
Termino com uma quadra popular:
Ó Senhora Santa Eufémia,
Viradinha para os pinhais.
P’ra ver se vê chegar,
Uma só devota mais.
Albino Cardoso
2005-10-18
Entre 8 e 21 de Outubro está patente no CIHAFA – Centro de Interpretação Histórica e Arqueológica de Fornos de Algodres a exposição itinerante “25 sítios arqueológicos da Beira Interior”.
Organizada pela ARA – Associação de Desenvolvimento, Estudo e Defesa do Património da Beira Interior, esta exposição divulga 25 sítios arqueológicos dos distritos da Guarda e Castelo Branco que têm sido objecto de intervenções arqueológicas nos últimos anos. A exposição tem vindo a percorrer as sedes de concelho da Beira Interior e é complementada por um catálogo, com o mesmo título, apresentado pelo Prof. Doutor Jorge de Alarcão e editado pela ARA.
O concelho de Fornos de Algodres está representado pelo sítio arqueológico da Fraga da Pena.
(colaboração de Albino Cardoso)
Foi logo na apresentação deste blog que se tratou de explicar sucintamente a origem conhecida destas nossas "Terras de Algodres". Já o Monsenhor Pinheiro Marques, na sua monografia, se referia à importância desta antiga vila de Algodres, desde pelo menos do tempo da fundação de Portugal, embora aquando da publicação daquela obra ainda se não tivessem descoberto alguns documentos hoje conhecidos que confirmam isso mesmo. Também aqui se fez referência às várias hipóteses da origem deste nome. Não me vou debruçar sobre a história da nossa região mas somente referir-me a algo que, em meu ver, se está a perder com o passar do tempo, fazendo que a nossa região passe cada vez mais desapercebida e descaracterizada.
Ao que me vou refiro é ao nome de "Algodres" que, de tão importante, deu o nome a esta região, tendo-o até emprestado a vilas que não pertenciam ao antigo termo como é o caso de Figueiró e de Fornos. Com a excepção do Casal Vasco, Ramirão, Sobral Pichorro e Fuínhas - e isto porque são nomes invulgares - todas as outras freguesias para além do nome próprio tinham o complemento "de Algodres". Assim tínhamos: Cortiçô de Algodres, Vila Chã de Algodres, Muxagata de Algodres e Maceira de Algodres. Assim deveria ter continuado a ser, porque povoações com estes nomes próprios existem muitas, por todo este Portugal e era o seu complemento designativo que as identificava e ao mesmo tempo as localizava geograficamente.
Não sei, para além da simplificação de quando se escreve o topónimo, qual foi a vantagem para a eliminação deste complemento tão antigo e tão significativo. Creio que seria de toda a utilidade o uso dele, pois se temos Figueiró e Cortiçô da Serra, se existe Vila Chã de Sá, se há Maceira do Lis, se até a própria vila é Fornos de Algodres, porque razão se não há-de complementar a toponímia destas antigas freguesias, da forma como eram conhecidas outrora.
Eu, pessoalmente, sendo natural de Vila Chã "de Algodres", ainda há relativamente pouco tempo tive o grato prazer, ao ler a acta de casamento dos meus pais, de ver nela a grafia correcta, ainda usada em meados do século passado e que ainda hoje se usa nos documentos da diocese de Viseu. Ficaria muito grato e creio que também os meus conterrâneos, se aquando da colocação das novas placas toponímicas, a Câmara do nosso concelho fizesse a devida correcção.
Foto publicada aqui.
É hoje inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a exposição À Luz de Einstein (1905-2005), em torno do tema da luz e da matéria. Segundo os organizadores, a mostra ...põe em evidência alguns aspectos dos importantes progressos científicos dos últimos cem anos, sem esquecer os mais significativos marcos do conhecimento científico ao longo dos séculos... e foi concebida como espaço interactivo que permite ...a realização de várias experiências, a observação de fenómenos invulgares e a tomada de consciência de como a física está hoje presente no quotidiano..
Nesta exposição estão patentes alguns materiais arqueológicos recolhidos nas escavações realizadas na Fraga da Pena (Fornos de Algodres), a propósito dos estudos arqueométricos realizados sobre os mesmos por investigadores do Instituto Tecnológico e Nuclear.
Na magnífica noite do passado Sábado - e como prometido no Programa que aqui publicámos um conjunto de espectáculos encantou o sítio arqueológico da Fraga da Pena.
O evento ficará decerto na memória dos que o viveram. Para registo, aqui ficam algumas imagens:
Montagem do equipamento
A magia nocturna da Fraga da Pena
"A música (en)canta o Património".
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