História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt
Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008
Um titular esquecido: o visconde das Torres

Visconde-das-Torres.jpg

 

(Visconde das Torres[i])

 

 

 

Quando se refere a nobreza titular oriunda das terras de Algodres, raramente é mencionado o título de visconde das Torres.

 

 

 

O primeiro e único visconde deste título, António Camelo Fortes de Pina, descendia de uma das principais famílias de fidalgos residentes em Algodres, a família Camelo Fortes (ou Camelo Forte), que tinha solar na rua do Outeiro[ii].  O título foi criado por Decreto de 26 de Dezembro de 1850 e teve curta duração, em virtude de o agraciado ter falecido no ano imediato[iii][iv].

 

 

 

António Camelo Fortes de Pina, nasceu em 14 de Março de 1770 e morreu em 26 de Novembro de 1851.  Era filho de António Camelo Fortes, que foi capitão-mor de Algodres, Fornos, Figueiró da Granja e Matança[v] e de sua mulher D. Josefa Maria de Pina Osório, natural de Torres, povoação e freguesia do concelho de Trancoso.  Casou a primeira vez com D. Emília de Abreu Castelo Branco, filha de João de Abreu Castelo Branco Cardoso e Melo e de sua mulher D. Antónia Clara de Melo Magalhães e Mota (sendo, portanto, irmã de João Maria de Abreu Castelo Branco Cardoso e Melo, que veio a ser o 1º visconde e 1º conde de Fornos de Algodres).  Casou em segundas núpcias, em 1824, com D. Maria Augusta Saraiva da Costa Refóios (n. a 4 de Julho de 1801), filha de Mendo Saraiva da Costa Refóios e de sua mulher D. Luísa Alexandrina de Melo Mascarenhas.  Não teve descendentes de qualquer destes matrimónios[vi].

 

 

 

 

 

Os demais dados que em regra são apresentados sobre a sua vida e obra, resumem-se, praticamente, aos constantes da legenda do retrato acima reproduzido[vii]. 

 

 

 

O visconde das Torres era do Conselho da rainha D. Maria II, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real[viii], foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo[ix] e posteriormente Comendador da mesma Ordem[x].  Jurisconsulto dos mais ilustres, foi doutor e lente catedrático da Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra[xi], Desembargador da Casa da Suplicação e Juíz Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça[xii].  Foi também Deputado às Cortes de 1821, 1826 e 1834.

 

 

 

Nas lutas entre liberais e absolutistas, sabe-se que foi defensor da causa liberal, o que lhe valeu alguns dissabores durante o governo de D. Miguel[xiii].

 

 

 

Segundo uma tradição que em Algodres alguns ainda recordam, o visconde era conhecido como “cabeça de ferro”, porque, dizia-se, seria capaz de reconstituir, de memória, toda a legislação então em vigor...

 

 

 

A designação do título com que foi agraciado é referente à freguesia de Torres, do concelho de Trancoso, na qual, por herança familiar, tinha bens e uma residência[xiv].

 

 

 

 

 

Bibliografia e abreviaturas:  v. entradas de 2005-05-09.

 

 

 



Notas:

 

[i] Seg. uma litografia de 1850.  Esta litografia tem a seguinte legenda: “ANTONIO CAMELLO FORTES DE PINA  -  Do Conselho de S. M. F., Fidalgo Cavalleiro da Sua R. C., Commendador da Ordem de Christo, Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, Lente Cathedratico Jubilado na Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, Dezembargador dos Aggravos da extincta Caza da Supplicaçao, Deputado ás Cortes de 1821, 1826 e 1834.”.  O retrato litografado referido em MARQUES, 1938, pp. 227-228, será, ao que tudo indica, um exemplar desta litografia.

 

 

 

 

 

[ii] Cf. MARQUES, 1938, pp. 226-228, que designa esta família como Camelo Forte. Porém, pelo menos no séc. XIX, os seus membros usavam em geral o apelido “Fortes”.

 

[iii] Cf. GEPB., vol. 32, p. 255.

 

[iv] Há também, no IAN/TT, uma Carta régia de 08/04/1850 (Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 36, fl. 83v-84v) que, a julgar pelo sumário, será referente à concessão deste título  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/09/203797.

 

 

 

[v] Capitania-mor que tinha sede em Algodres – cf. MARQUES, 1938, p. 86.

 

[vi] Dados biográficos compilados a partir de MARQUES, 1938, p. 227-228 e 218-219 e da GEPB, vol. 32, p. 255.

 

[vii] Cf. a nota um, supra e a bibliografia referida na nota antecedente.

 

[viii] Alvará de 12/01/1824: IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv. 18, fl. 88v  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/07/146210 (repetido na ref. PT-TT-RGM/07/164423). 

 

[ix] Carta de 10/05/1826: IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. João VI, liv. 21, fl. 224  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/07/164424.

 

 

 

[x] Portaria de 10/12/1834: IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 1, fl. 183  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/09/203795.

 

 

 

[xi] Jubilado por Portaria de 19/01/1836: IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 4, fl. 242  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/09/203796.

 

 

 

[xii] Carta de 05/11/1834: IAN/TT, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 1, fl. 140-140v  -  cf. em TT OnLine a ref. PT-TT-RGM/09/203794.

 

 

 

[xiii] O Prof. José Adelino Maltez informa que em 1828, nos primeiros tempos do governo de D. Miguel, foram expulsos oito lentes da Universidade de Coimbra, entre os quais António Camelo Fortes de Pina, por serem tidos como maçons (v. aqui).  Mons. Pinheiro Marques relata que António Camelo Fortes de Pina seguiu a causa liberal e que, em 1828, aquando “...do movimento revolucionário de Coimbra contra o govêrno de D. Miguel, fez parte da Comissão de censura dos escritos que houvessem de se imprimir nessa cidade...” (MARQUES, 1938, p. 227).

 

 

 

 

 

 

 

[xiv] Numa visita a Torres, realizada no início deste século, nenhum dos residentes casualmente contactados recordava a existência do visconde das Torres, ou sabia indicar qual teria sido a sua casa, embora me tenham alvitrado que poderá ter sido num grande solar que existe ao fundo da povoação.

 



publicado por algodrense às 20:25
link desta entrada | comentar | ver comentários (5) | favorito

Publicações recentes (6)

Acaba de ser publicado o nº. 1 da nova revista electrónica  Apontamentos de Arqueologia e Património, editada pelo NIA, que inclui um artigo de Maria Isabel Dias, António Carlos Valera e Maria Isabel Prudêncio, intitulado “Evidência de metalurgia calcolítica na Beira Alta: o cadinho da Malhada (Fornos de Algodres)” (pp.7-10).



publicado por algodrense às 19:35
link desta entrada | comentar | favorito

III Encontro Nacional de Estudantes de História

Vai ser realizado na Universidade de Évora, entre 06 e 09 de Março de 2008.


 


As inscrições estão abertas até 22 de Fevereiro de 2008.


 


Mais informações neste site. 



publicado por algodrense às 06:57
link desta entrada | comentar | favorito

Quarta-feira, 16 de Janeiro de 2008
Assembleia Geral da associação “Terras de Algodres”

A Assembleia Geral da Terras de Algodres – Associação de Promoção do Património de Fornos de Algodres vai reunir, em sessão ordinária, no próximo dia 26 de Janeiro (Sábado), pelas 14:00 horas, nas instalações do CIHAFA.


 


A respectiva convocatória está disponível aqui.



publicado por algodrense às 13:45
link desta entrada | comentar | ver comentários (1) | favorito

pesquisar
 
Julho 2022
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
29
30

31


entradas recentes

"Estudantina de Jayme de ...

"Roteiro pré-histórico de...

"Algodres - a aldeia de M...

...

Sobral Pichorro e Fuínhas...

...

Freguesia de Muxagata no ...

...

Freguesia de Maceira no C...

...

links
temas

abreviaturas

algodres

alminhas

anta da matança

anta de cortiçô

bibliografia (a - f)

bibliografia (g - r)

bibliografia (s - z)

bibliografia algodrense

capelas

casal do monte

casal vasco

castro de santiago

cortiçô

crime e castigo

documentos

estatuto editorial

estelas discóides

figueiró da granja

fornos de algodres

fortificações

fraga da pena

fuínhas

heráldica

humor

índice

infias

invasões francesas

juncais

leituras na rede

lendas e tradições

maceira

marcas mágico-religiosas

matança

migração do blog

mons. pinheiro marques

muxagata

notícias de outros tempos

personalidades

pesos e medidas

publicações recentes

queiriz

quinta da assentada

ramirão

rancozinho

sepulturas escavadas na rocha

sobral pichorro

toponímia

vias romanas

vila chã

todas as tags

arquivos

Julho 2022

Maio 2022

Julho 2020

Agosto 2015

Julho 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Março 2013

Maio 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

blogs SAPO
mais sobre mim
subscrever feeds
Redes

Academia

Facebook

Twitter

LinkedIn

Instagram