Realizou-se no passado fim de semana alargado (25 27 de Abril) uma visita de estudo a sítios arqueológicos da Beira Alta, organizada pelo Núcleo de Investigação Arqueológica da ERA Arqueologia, S.A., abrangendo os concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Freixo de Numão, Vila Nova de Paiva e Fornos de Algodres.
A visita a Fornos de Algodres ocupou a manhã e o início da tarde do dia 27. Guiados pelo Doutor António Valera, os participantes visitaram detalhadamente a Anta da Matança, a necrópole de Forcadas, a Fraga da Pena, o Castro de Santiago e a exposição permanente do CIHAFA.
A Terras de Algodres - Associação de Promoção do Património de Fornos de Algodres vai realizar em Fornos de Algodres, nos próximos dias 16 e 17 de Maio, as III Jornadas de Etnobotânica.
As inscrições estão abertas até 09 de Maio p.f., sendo limitadas a 60 participantes.
O programa provisório do evento está publicado aqui.
Adenda (em 2008-05-07):
O programa definitivo e a ficha de inscrição estão disponíveis aqui.
O altar-mor da Igreja Matriz de Algodres é constituído por um magnífico retábulo de talha dourada e policromada de vermelho, que integra nos eixos laterais, entre colunas, duas pinturas sobre tábua, envolvidas por acantos e tendo um querubim na zona superior[i].
A pintura do lado do Evangelho representa o Baptismo de Cristo; na do lado da Epístola, está retratado São Pedro, de corpo inteiro, em pé.
Estas duas pinturas destacam-se claramente, pela sua qualidade, do conjunto da obra pictórica - de diversas épocas - existente neste templo. Na descrição da Matriz de Algodres, Mons. Pinheiro Marques deu relevo a ... dois quadros bons a óleo, o do baptismo de Cristo, que é o melhor, e do lado da Epístola o de S. Pedro, de pé[ii]. Noutro passo da sua obra, volta a referir estes Dois magníficos quadros em madeira..., acrescentando que são ...atribuídos pela tradição a Grão Vasco...[iii]. O Guia de Portugal também chamou a atenção do visitante para estas ... duas tábuas apreciáveis, não estudadas...[iv].
Não conhecemos elementos ou estudos que permitam confirmar a tradição registada por Mons. Pinheiro Marques quanto à autoria destas obras[v].
Trata-se, em todo o caso, de duas pinturas de invulgar qualidade, que não parecem ser contemporâneas do retábulo em que estão integradas, sendo, provavelmente, quinhentistas.
Na verdade, o actual retábulo do altar-mor foi mandado executar pelo Visitador em 1703, por considerar que o anterior estava ... velho, sem columnas, e constar somente de huas táboas lizas, o que no prezente tempo hé indecência, ...[vi]. Em 1712 já estava concluído, feito à salomónica e com sua tribuna fermoza[vii].
As duas pinturas acima referidas, por seu lado, apresentam ... um reportório formal que deriva dos modelos difundidos a partir da escola de pintura quinhentista dominante na região[viii] (a escola de Grão Vasco), o que indicia a reutilização naquele retábulo setecentista de quadros executados em época anterior, que possivelmente já pertenceriam ao acervo da paróquia de Algodres, como defende a Doutora Maria de Fátima dos Prazeres Eusébio[ix].
Atento o manifesto valor artístico e patrimonial destes dois quadros da Matriz de Algodres, seria de todo desejável que a Diocese de Viseu e o Instituto dos Museus e da Conservação (que sucedeu ao ex-IPCR) pudessem articular esforços no sentido de os restaurar (na sequência, aliás, do Protocolo celebrado em 2000 entre a Diocese e o IPCR), afigurando-se particularmente urgente o restauro do Baptismo de Cristo, que se apresenta bastante fendilhado[x].
Bibliografia e abreviaturas: v. entradas de 2005-05-09.
[i] Cf. a descrição efectuada por FIGUEIREDO, 2004 e EUSÉBIO, 2005, pp. 322-323.
[ii] Cf. MARQUES, 1938, p. 293.
[iii] Cf. MARQUES, 1938, p. 323.
[iv] Cf. DIONÍSIO, 1985, p. 846.
[v] Sendo conhecida, por outro lado, a propensão para atribuir a Grão Vasco as boas pinturas de feição quinhentista, de autor não estabelecido, existentes na região.
[vi] Arquivo Paroquial de Algodres - Livro das Pastorais, fl. 32, transcrito por EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170, pp. 322-323 e Ap. Doc., p. 173 (documento também transcrito por MARQUES, 1938, p. 292). Esta avaliação depreciativa do retábulo anterior, seria devida, essencialmente ou em boa parte, à alteração de pressupostos estilísticos, que levava a considerar esteticamente desactualizadas e indecentes as obras de períodos anteriores (cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170 e 322-323).
[vii] Arquivo Paroquial de Algodres - Livro das Pastorais, fl. 47, transcrito por EUSÉBIO, 2005, p. 323 e Ap. Doc., p. 174. Mons. Pinheiro Marques, afirma que a feitura deste retábulo foi concluída em 1715 (cf. MARQUES, 1938, p. 292).
[viii] Cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 322-323.
[ix] Cf. EUSÉBIO, 2005, pp. 169-170 e pp. 322-323. Esta investigadora defende a hipótese, bastante plausível, de que as duas pinturas em apreço tenham feito parte do retábulo do altar-mor que foi mandado substituir em 1703, que deveria ser do século XVI (pp. 169-170).
[x] Agradeço ao Dr. Pedro Pina Nóbrega, ter-me facultado os extractos da dissertação da Doutora Maria de Fátima dos Prazeres Eusébio citados na presente entrada.
O blog Dolmenes y Megalitos del Mundo tem vindo a publicar diversas entradas sobre monumentos megalíticos da Beira Alta, entre os quais a Anta de Cortiçô e a Anta da Matança, do concelho de Fornos de Algodres.
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