A Muxagata, aldeia e sede da freguesia com o mesmo nome, fica situada a cerca de 10 kms. de Fornos de Algodres.
(imagem adaptada do site da CMFA)
É bem conhecida por albergar no seu território o santuário de Nossa Senhora dos Milagres, local de uma das mais afamadas romarias beirãs.[i]
Presentemente, os mais antigos vestígios de povoamento conhecidos naquela zona remontam à época romana. Já Mons. Pinheiro Marques[ii] afirmava: presume-se que na Muxagata e Sobral jazem sepultadas, como em Infias, ruinas de povoações romanas, mas infelizmente não indicou as razões em que se baseava. Igualmente vagos e de difícil comprovação são os informes de João de Almeida, ao afirmar que, na Muxagata, no sítio chamado o Castelo, ... que se levanta no meio da povoação, sobranceiro à ribeira, existem ainda claros vestígios de uma fortificação, que, pela sua natureza e posição, tudo leva a crer teria sido um poderoso castro luso-romano [iii] [iv]. O certo é que ao longo da ribeira da Muxagata têm aparecido diversos materiais atribuíveis a esse período, em especial na zona denominada Trepa e arredores. José Coelho referencia aí o achado de um punhal e uma bacia de bonze[v] e dá também conta do achado de moedas do séc. IV, cerâmica, uma fíbula e objectos de bronze[vi]. Fernando de Almeida relata o aparecimento, no mesmo local, de vestígios de olaria romana e fragmentos de uma patena crismalis[vii]. Em prospecções realizadas pelo GAFAL, foi ali recolhida cerâmica comum e cerâmica de construção e foram identificadas inúmeras pedras almofadadas integradas em muros[viii]. Foi também recolhida perto da Trepa uma ara romana anepígrafa, que está exposta no CIHAFA[ix]. Existe ainda um possível marco romano, na igreja paroquial da Muxagata[x].
Ara romana da Muxagata
Do povoamento da Muxagata durante a alta Idade Média, dão testemunho a sepultura escavada na rocha (antropomórfica) do Carvalhal[xi] e outras duas sepulturas escavadas na rocha na Quinta do Albuquerque[xii].
Porém, para além dos vestígios arqueológicos acima mencionados[xiii], pouco se sabe da história desta freguesia.
Recordam-se os aspectos essenciais referidos por Mons. Pinheiro Marques[xiv]:
(...)
Esta povoação, que por si só constitui, desde tempos remotos, uma freguesia, fica situada ao fundo da serra do Belcaide, junto da ribeira, e por isso bastante doentia e atreita a febres palustres.
Nada se sabe sôbre a origem do seu nome que em 1482 se chamava Mocegata, Muxigata em 1600, e Muxiguata em 1700.
Diz João Maria Baptista, não sei com que fundamento, na sua Corografia Moderna, vol. III, pág. 694, que foi couto e vila. Deve ser engano.
Em 1527 já pertencia ao concelho de Algodres com o nome de moxagata, tendo então 68 moradores ou fogos; em 1747 já tinha 112 fogos e 311 fregueses.
(...).
Na segunda parte destes Apontamentos, serão analisados dois documentos, um do séc. XIII , outro do séc. XVI, que permitem conhecer um pouco mais da história da Muxagata.
(Continua)
Bibliografia e abreviaturas: v. entradas de 2005-05-09.
[i] Cf. MARQUES, 1938, pp. 319-320; RODRIGUES, 2005 e Albino Cardoso, aqui e aqui .
[ii] MARQUES, 1938, p. 40
[iii] ALMEIDA, 1945, pp. 234-235.
[iv] Analogamente ao que tenho vindo a defender em relação ao caso de Algodres, julgo que convirá aprofundar a hipótese de as alusões toponímicas a Castelos, situados em aldeias como a Muxagata ou a Matança (cf. a informação de João Rocha Nunes, em comentário a esta entrada ) se referirem a pequenos redutos defensivos rurais, que, podendo remontar à época do baixo império romano, seriam, mais provavelmente, da alta Idade Média, à semelhança de outros da época da Reconquista que têm sido identificados na região - por exemplo, o Castelo dos Mouros de S. Pedro de Matos (em Forninhos, Aguiar da Beira - cf. COELHO, 1948, pp. 287-288 e pp. 291-293, embora propondo cronologia diversa; LEMOS, 2001, pp. 196-198; MARQUES, 2000b, p. 180; NÓBREGA, 2004, pp. 13-14, que indica mais bibliografia) e, possivelmente, o Penedo dos Mouros (em Gouveia - cf. ANGELLUCI, TENTE e MARTINS, 2004) e o reduto de S. Gens (em Forno Telheiro, Celorico da Beira - cf. LOBÃO, MARQUES e NEVES, 2005).
[v] COELHO, 1947, pp. 223-224, cit. por ALARCÃO, 1988b, p. 60.
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