História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt
Segunda-feira, 7 de Maio de 2007
Apontamentos para a história da Muxagata - I

 

 

A Muxagata, aldeia e sede da freguesia com o mesmo nome, fica situada a cerca de 10 kms. de Fornos de Algodres.

 

 

 

 

 

 

 

Muxagata-Mapa-2.jpg 

 

(imagem adaptada do site da CMFA)

 

 

 

 

 

 

É bem conhecida por albergar no seu território o santuário de Nossa Senhora dos Milagres, local de uma das mais afamadas romarias beirãs.[i]

 

 

 

Presentemente, os mais antigos vestígios de povoamento conhecidos naquela zona remontam à época romana.  Já Mons. Pinheiro Marques[ii] afirmava: “presume-se que na Muxagata e Sobral jazem sepultadas, como em Infias, ruinas de povoações romanas”, mas infelizmente não indicou as razões em que se baseava.  Igualmente vagos e de difícil comprovação são os informes de João de Almeida, ao afirmar que, na Muxagata, no sítio chamado “o Castelo”, “... que se levanta no meio da povoação, sobranceiro à ribeira, existem ainda claros vestígios de uma fortificação, que, pela sua natureza e posição, tudo leva a crer teria sido um poderoso castro luso-romano” [iii] [iv].  O certo é que ao longo da ribeira da Muxagata têm aparecido diversos materiais atribuíveis a esse período, em especial na zona denominada “Trepa” e arredores.  José Coelho referencia aí o achado de um punhal e uma bacia de bonze[v] e dá também conta do achado de moedas do séc. IV, cerâmica, uma fíbula e objectos de bronze[vi].  Fernando de Almeida relata o aparecimento, no mesmo local, de vestígios de olaria romana e fragmentos de uma “patena crismalis”[vii].  Em prospecções realizadas pelo GAFAL, foi ali recolhida cerâmica comum e cerâmica de construção e foram identificadas inúmeras pedras almofadadas integradas em muros[viii].  Foi também recolhida perto da Trepa uma ara romana anepígrafa, que está exposta no CIHAFA[ix]. Existe ainda um “possível marco” romano, na igreja paroquial da Muxagata[x].

 

 

 

 

 

 

 

AraMuxagata.JPG

 

Ara romana da Muxagata

 

 

 

Do povoamento da Muxagata durante a alta Idade Média, dão testemunho a sepultura escavada na rocha (antropomórfica) do Carvalhal[xi] e outras duas sepulturas escavadas na rocha na Quinta do Albuquerque[xii].

 

 

 

Porém, para além dos vestígios arqueológicos acima mencionados[xiii], pouco se sabe da história desta freguesia.

 

 

 

Recordam-se os aspectos essenciais referidos por Mons. Pinheiro Marques[xiv]:

 

 

 

“(...)

 

Esta povoação, que por si só constitui, desde tempos remotos, uma freguesia, fica situada ao fundo da serra do Belcaide, junto da ribeira, e por isso bastante doentia e atreita a febres palustres.

 

Nada se sabe sôbre a origem do seu nome que em 1482 se chamava Mocegata, Muxigata em 1600, e Muxiguata em 1700.

 

Diz João Maria Baptista, não sei com que fundamento, na sua Corografia Moderna, vol. III, pág. 694, que foi couto e vila.  Deve ser engano.

 

Em 1527 já pertencia ao concelho de Algodres com o nome de moxagata, tendo então 68 moradores ou fogos; em 1747 já tinha 112 fogos e 311 fregueses.

 

(...)”.

 

 

 

Na segunda parte destes “Apontamentos”, serão analisados dois documentos, um do séc. XIII , outro do séc. XVI, que permitem conhecer um pouco mais da história da Muxagata.

 

 

 

                                                                                                         (Continua)

 

 

 

Bibliografia e abreviaturas:   v. entradas de 2005-05-09.

 

 

 


 

Notas:

 

 

 

[i] Cf. MARQUES, 1938, pp. 319-320; RODRIGUES, 2005 e Albino Cardoso, aqui e aqui .  

 

 

 

[ii] MARQUES, 1938, p. 40

 

[iii] ALMEIDA, 1945, pp. 234-235.

 

[iv] Analogamente ao que tenho vindo a defender em relação ao caso de Algodres, julgo que convirá aprofundar a hipótese de as alusões toponímicas a “Castelos”, situados em aldeias como a Muxagata ou a Matança (cf. a informação de João Rocha Nunes, em comentário a esta entrada ) se referirem a pequenos redutos defensivos rurais, que, podendo remontar à época do baixo império romano, seriam, mais provavelmente, da alta Idade Média, à semelhança de outros da época da Reconquista que têm sido identificados na região  -  por exemplo, o “Castelo dos Mouros” de S. Pedro de Matos (em Forninhos, Aguiar da Beira  -  cf. COELHO, 1948, pp. 287-288 e pp. 291-293, embora propondo cronologia diversa; LEMOS, 2001, pp. 196-198; MARQUES, 2000b, p. 180; NÓBREGA, 2004, pp. 13-14, que indica mais bibliografia) e, possivelmente, o “Penedo dos Mouros” (em Gouveia  -  cf. ANGELLUCI, TENTE e MARTINS, 2004) e o reduto de “S. Gens”  (em Forno Telheiro, Celorico da Beira  -  cf. LOBÃO, MARQUES e NEVES, 2005).

 

[v] COELHO, 1947, pp. 223-224, cit. por ALARCÃO, 1988b, p. 60.

 

[vi] COELHO, 1949, pp. 97-98, cit. por ALARCÃO, 1988b, p. 60.

 

[vii] Cf. ALMEIDA, 1962, p. 235, cit. por VALERA, 1993, p. 28.

 

[viii] Cf. VALERA, 1993, p. 28 e CIHAFA, 2005 (n. 22 – “Trepa 1”).

 

[ix] Cf. CIHAFA, 2005 (n. 23 – “Trepa 2”).

 

[x] Cf. CIHAFA, 2005 (n. 70 – “Muxagata”).

 

[xi] Cf. MARQUES, 1938, p. 41; VALERA, 1990, p. 23; VALERA, 1993, p. 41; MARQUES, 2000a, p. 61 e CIHAFA, 2005 (n. 24 – “Carvalhal”).

 

[xii] Cf. CIHAFA, 2005 (n. 26 – “Quinta do Albuquerque”).

 

[xiii] E da “Torre da Muxagata”, que abordarei em próxima entrada.

 

[xiv] Cf. MARQUES, 1938, pp.318.

 



publicado por algodrense às 06:10
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3 comentários:
De Nuno Soares a 19 de Julho de 2007 às 19:17
Sobre o "Penedo dos Mouros" (Gouveia), referido na nota iv desta entrada, v. também TENTE, 2007, pp. 45-50 - disponível on-line aqui: http://www.ipa.min-cultura.pt/pubs/TA/folder/47/TA47033.pdf


De al cardoso a 8 de Maio de 2007 às 10:03
Bem haja pela divulgacao das minhas humildes entradas. Um abraco de amizade.


De algodrense a 3 de Julho de 2020 às 15:19


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