
(colaboração de João Rocha Nunes) No seguimento do artigo referente à biografia de Manuel de Pina Cabral, importa saber se na localidade de Fonte Fria existem, na actualidade, elementos materiais ligados à figura do latinista. No conjunto do casario da Fonte Fria, uma das casas, junto à entrada da povoação, chama a atenção pelo facto de ser claramente uma estrutura habitacional que se distingue de todas as outras na localidade. Esta distinção decorre da habitação ter sido de uma família abastada, embora sem quaisquer foros de nobreza (a casa não tem qualquer brasão ou símbolo nobiliárquico). De notar, que Pina Cabral era oriundo de uma família de lavradores abastados - o avô, Manuel de Andrade, que era capitão de ordenanças, obteve uma mercê de D. João V que lhe possibilitou o aforamento de terras concelhias[i]. A prática agrícola fazia, igualmente, parte da vida dos progenitores, como se verifica pelo facto de os pais de Pina Cabral terem vinculado terras à Igreja: António de Pina e Maria de Santiago [pais de Manuel de Pina Cabral] eram “senhores e posuidores de duas capelas hua das quais se compunha de umas fazendas sitas na dita vila [Matança] com a obrigação de 26 missas e alem desta mais hua com hum responso e a outra capela se compunha de fazendas sitas no lugar de Pindo concelho de Penalva (…) com encargo de hua missa e hum responso” [ii]. Estas capelas foram extintas em 22 de Fevereiro de 1774, por não terem de rendimento anual 100 mil réis. Em virtude de nesta localidade não ter existido outra família que tivesse a mesma importância na sociedade local, podemos considerar que esta casa pode muito bem ter sido da família de Pina Cabral. Se analisarmos a estrutura (cantaria; contrafortes; janelas) verificamos que a casa foi edificada nos séculos XVII ou XVIII, o que mais uma vez vem corroborar a hipótese sugerida. Contudo, não há provas documentais que permitam referenciar esta habitação como local do berço de Manuel de Pina Cabral. No registo de baptismo faz-se referência ao facto do franciscano ter nascido na localidade de Fonte Fria[iii]. Todavia, nos registos paroquiais dos irmãos do latinista refere-se que nasceram na quinta do Deserto[iv]. Sabe-se que esta quinta se situava no termo de Matança (Pedro Leitão, em 1708, edificou aqui uma capela consagrada a Nossa Senhora da Assunção)[v]. É sabido, também, que António de Pina e Maria de Santiago, pais de Pina Cabral, residiam na quinta do Deserto. É possível que esta quinta, da qual não se conhece a localização, estivesse situada num local próximo da Fonte Fria e que o pároco no momento do baptismo de Pina Cabral tivesse feito referência ao aglomerado populacional próximo e mais densamente povoado. Ao invés, é igualmente possível que Frei Manuel de Pina Cabral, por um qualquer motivo que hoje desconhecemos, tenha nascido na Fonte Fria, na habitação que era pertença do seu avô. Como uma última nota, importa fazer referência ao estado de ruína em que se encontra a casa que foi da família de Pina Cabral que, à semelhança do que aconteceu com a erosão da memória do latinista, se encontra também num total estado de degradação. [i] IAN/TT – Chancelaria de D. João V, Mercês, liv. 96, fl. 171v. Em 27 de Maio de 1738, Manuel de Andrade conseguiu uma provisão de D. José que lhe permitiu aforar terras concelhias na Matança, mais precisamente “um pedaço de terra que era de tojal no limite da mesma vila aonde chamam de barrocal da atalaya que partia com o suplicante e ribeira de carapito que não rendia cousa alguma ao dito concelho”. [ii] IAN/TT – Chancelaria de D. José – Extinção de Capelas, lv. 11, fl. 308. Sobre as questões associadas à morte e em particular aos legados pios na época moderna ver Ana Cristina Araújo – A Morte em Lisboa: Atitudes e representações 1700-1830, Lisboa, Editorial Notícias, 1997, p. 271-295.
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