História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt
Quarta-feira, 26 de Outubro de 2005
"Errata" à “História Religiosa de Portugal”

Igreja Matriz.jpg 

 

Igreja Matriz de Algodres   -   Postal,  ed. Paróquia de Algodres.

 

  

 

A monumental História Religiosa de Portugal, organizada pelo Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa (AZEVEDO, 2004) é uma obra de referência fundamental a que certamente aqui recorreremos com alguma frequência.

 

 

 

Constatámos, porém, que no capítulo “O espaço eclesiástico em território português (1096-1415)”, da autoria do Prof. Doutor Bernardo de Sá Nogueira (AZEVEDO, 2004, vol. 1, pp. 142-201), estão omitidas igrejas então existentes nas  “Terras de Algodres”, desde logo a mais importante, a igreja de Santa Maria Maior, matriz de Algodres. 

 

 

 

Reportando-se às igrejas de “Aquém-Monte”, da diocese de Viseu, o autor refere apenas, na área do concelho de Fornos de Algodres, as igrejas da Matança e de São Miguel de Fornos de Algodres (AZEVEDO, 2004, vol. 1, p.171).  Trata-se, possivelmente, de um lapso - ou de uma opção no mínimo discutível.  A listagem apresentada teve assumidamente como fonte principal a conhecida lista de igrejas de 1320-1321, publicada por Fortunato de Almeida (ALMEIDA, 1971). Nessa lista, destinada a elencar as rendas eclesiásticas doadas pelo Papa ao rei D. Dinis, pelo período de três anos, para auxílio na guerra contra os Mouros, vêm também expressamente referidas as igrejas de Santa Maria de Algodres e de São Pedro de Infias.  Decorre, aliás, dessa lista, que a igreja de Santa Maria de Algodres era uma das mais importantes – e taxadas – de toda a diocese.  Foi taxada em 250 libras, sendo que a paróquia mais taxada do bispado o foi em 350 libras, ficando a maioria das igrejas abaixo destes valores.  O peso relativo das igrejas das “Terras de Algodres” pode ser deduzido das contribuições então fixadas (ALMEIDA, 1971):

 

-         Santa Maria de Algodres  -  250 libras;

 

-         São Miguel de Fornos       -    50 libras;

 

-         Santa Maria da Matança   -    40 libras;

 

-         São Pedro de Infias           -    10 libras.

 

 

 

Contrariamente ao que supôs Mons. Pinheiro Marques (MARQUES, 1938, p. 290), a lista de igrejas de 1320 não é sequer a mais antiga referência documental conhecida à igreja matriz de Algodres.  Nas Inquirições de D. Afonso III, de 1258 (cf. PMH-INQ), já era mencionada a igreja de Algodres, como pertencendo ao padroado real:

 

“(...)F. Martini (...) dixit quod villa et ecclesia de Algodres sunt Domini Regis. (...)”

 

 

 

Pelas mesmas Inquirições, ficamos a saber que já então esta igreja era detentora de assinalável riqueza, designadamente em bens legados em testamento pelos fiéis, queixando-se o concelho do não pagamento dos foros devidos ao rei por esses bens:

 

“(...) Item, dixit quod ecclesia de Algodres habet, de testamentis, multam hereditatem forariam Regis de termino de Algodres. (...)”

 

 

 

Refere-se, inclusivamente, que a igreja de Algodres possuía uma aldeia no termo de Algodres, chamada “Soveral”, que corresponderá à actual freguesia de Sobral Pichorro (assim, A. de Almeida Fernandes, “A toponímia da Beira Alta ...”, in BA, vol. LX (2000), ns. 3-4, p. 336), sendo esta a primeira referência documental que conhecemos daquela povoação:

 

“(...) Item, dixit quod ecclesia de Algodres habet unam aldeyam in termino de Algodres, et nullum forum facit Regi.  Et aldeya vocatur  Soveral. (…)”

 

“(…) Item, dixit quod ipsa aldeya que est de ecclesia fuit de testamento et de conpara.  Et dixit quod habet ecclesia alias hereditates de testamentis forarias Regis (...)”.

 

 

 

Permitam-nos, pois, os doutos autores da História Religiosa de Portugal este reparo: a não serem citadas naquela obra todas as igrejas das “Terras de Algodres” incluídas na lista de 1320, não deveria deixar de ser mencionada a Igreja de Santa Maria de Algodres, que era, sem dúvida, a mais importante da região e matriz de diversas anexas, no termo de Algodres.

 

  

 

Bibliografia:  v. entrada de 2005-05-09.

 


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publicado por algodrense às 06:30
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5 comentários:
De Nuno Soares a 7 de Julho de 2008 às 15:45
Anoto que tive entretanto conhecimento de outras referências documentais à Igreja de Santa Maria de Algodres, anteriores a 1258 (cf. entrada de 2008-07-07):
1208 - Num documento de 1208, em que os habitantes de Fornos reconhecem a propriedade dos frades de S. João de Tarouca sobre a “herdade” de Barraseiro no couto de Figueiró (da Granja) do mesmo mosteiro, aparece mencionado um “(...) donnum Pelagium clericum de Algodres (...)” (“Livro das Doações de Tarouca”, fl. 65 v - cf. FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, p. 83).
1243 - No primeiro foral que foi concedido a Figueiró da Granja, outorgado pela abadia de S. João de Tarouca em 1243, refere-se, a dado passo: “(...) Et nos supradictus abbas et fraters debemus dare VII modios et sestarium panis et vini prelato Sancte Marie de Algodres ut dicat vobis missam sicut costume et est usus inter nos et illum, et quod faciat vobis habere communionem et confessionem sicut scriptum est in carta vetera quam habemus cum illo prelato de Algodres, et istud fuit per consensu episcopi. (...)” (“Livro das Doações de Tarouca”, fl. 66 e v - cf. FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, p. 96).
Ou seja, nesse documento, o mosteiro comprometia-se a pagar ao “prelado” de Santa Maria de Algodres a assistência religiosa prestada aos moradores de Figueiró (missas, comunhão, confissão, ...), de acordo com o costume e o acordado por escrito com o dito pároco, com o acordo do bispo. Esta referência documental é mais um indício de que (contrariamente ao que vem sendo geralmente admitido - cf. MARQUES, 1938, pp. 257-258), anteriormente à delimitação do couto em 1170 (cf. AZEVEDO, 1958, p. 403; doc. reproduzido em entrada de 2008-07-06), Figueiró pertenceria à paróquia de Algodres (assim, FERNANDES, 1973-1976, vol. 86, p. 54), já que demonstra que, com a delimitação do couto de Figueiró em benefício da abadia de S. João de Tarouca, foi necessário regular, com intervenção do bispo (de Viseu), a questão da assistência religiosa (e obrigações a ela associadas), tendo-se acordado que continuaria a ser assegurada pelo pároco de Algodres, mediante um pagamento que ficava a cargo da abadia de Tarouca.


De Nuno Soares a 27 de Outubro de 2005 às 00:25
Caro Albino:
De momento não tenho informações sobre essas questões. Se entretanto descobrir alguma coisa dar-lhe-ei notícias.
Um abraço,


De a. cardoso a 26 de Outubro de 2005 às 23:46
Bem haja Nuno, creio que ate a pouco todos concordavam com Pinheiro Marques, afinal tanto ai como noutras coisas estava errado, ainda bem que o meu amigo vem repor a verdade, quanto a S. Miguel de Fornos. Ja agora sabe se havera alguma relacao entre os fidalgos de apelido Soveral de Vila Cha e de Figueiro, com Sobral (Pichorro). E nao sendo abusar sabe algo novo acerca da igreja de Vila Cha? Ja em 1525 era Na.Sa. das Bouvas Novas, no entanto o templo e romanico e muito antigo


De Nuno Soares a 26 de Outubro de 2005 às 23:33
Caro Albino:
Assim se tem dito.
Mas, salvo melhor opinião, Fortunato de Almeida limitou-se a transcrever a lista de 1320. E nas Inquirições de 1258 aparece como depoente em Fornos um "Stephanus Moniz, prelatus Sancti Michaelis de Fornos".
Quanto à Matança, nada posso acrescentar.
Um abraço,


De al cardoso a 26 de Outubro de 2005 às 22:55
Creio que Fortunato de Almeida devera ter cometido um erro ao afirmar que a Igreja de Fornos era S. Miguel, pois no seculo XIII nao tinha essa invocacao, havendo quem como o padre Luiz de Lemos creia que era S. Salvador, a invocacao de S. Miguel so aparece a partir do seculo XVI. Quanto a igreja da Matanca nao sei se estara certo em designa-la por Santa Maria, desde tempos remotos e Santa Maria Madalena, mas nao sei se seria o seculo XIII.


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