(colaboração de Albino Cardoso)
Em todos os roteiros ou referências históricas do município de Fornos de Algodres, poucas são as vezes que se referem a capela da Santa Eufémia, situada na freguesia e outrora antiquíssimo concelho da Matança.
É uma capela romano-gótica que em meu entender é a mais genuína construção da época medieval nas "Nossas Terras". Datando provavelmente dos séculos XIII ou XIV, é uma construção da transição do estilo românico para o gótico. Felizmente ainda hoje se conserva (para além da adição do alpendre fronteiro e da sacristia) praticamente da forma como terá sido construída, pois tendo passado provavelmente por algumas reconstruções durante os muitos séculos que por ela passaram, nunca os homens nela fizeram grandes modificações.
Nesta capela podemos admirar o belo portal ogival, as suas grossas paredes de granito onde ainda se vêem alguns cachorros de suporte da antiga cobertura, mas é, em meu entender, a cachorrada de suporte ao telhado da capela-mor o mais interessante. É composta por figuras mitológicas e vegetalistas, principalmente do lado norte, pois o lado sul foi encoberto (ou destruído) aquando da construção da referida sacristia, restando à vista creio que unicamente um ou dois cachorros.
Se no nosso concelho quisermos conhecer como eram os nossos templos medievais, teremos que visitar a capela da Santa Eufémia, pois para além do já referido, é com os seus tectos baixos e a ausência de aberturas de iluminação, envolvida na penumbra que nos faz lembrar as antigas catacumbas onde se iniciou a religião católica romana.
Segundo uma lenda, esta capela era para ser erguida no cume do monte Milho que lhe fica relativamente perto, "mas tendo o devoto construtor para lá transportado a pedra para essa construção, durante a noite e inexplicavelmente a pedra vinha aparecer no local onde hoje a capela se encontra implantada. Vendo nisto vontade divina, deixou de lado a ideia original e aqui construiu a capela". Digamos até que a localização nem é a ideal em relação ao terreiro contíguo, pois encontra-se numa ponta deste e na parte mais baixa pelo que nem tem uma grande proeminência (mas os desígnios divinos são insondáveis).
Santa Eufémia foi uma virgem e mártir dos primeiros tempos do cristianismo e é muito venerada por toda esta nossa Beira, com várias capelas e santuários. É considerada pelo nosso povo a santa protectora das doenças de pele, principalmente das doenças "ruins" como diz o mesmo. A este santuário acorrem peregrinos durante todo o ano, em cumprimento de promessas ou em orações de pedido. O mesmo povo crê que a Santa aceita com bom grado ofertas florais, principalmente de cravos. É no entanto durante as duas grandes romarias anuais que se juntam as grandes multidões. Estas romarias são realizadas uma na segunda-feira da Páscoa e a outra no dia 16 de Setembro, dia festivo da Santa.
Ainda até há relativamente pouco tempo, o dia da feira e romaria da Santa Eufémia era quase que dia feriado numa grande parte do nosso concelho. Principalmente pela Páscoa, aqui vinham e ainda vêm também muitos devotos dos vizinhos concelhos de Aguiar da Beira e de Penalva do Castelo. É ainda a mais genuína e popular de todas as romarias das "Terras de Algodres".
Tenho pena que as adições do alpendre e da sacristia lhe tivesse tirado parte da beleza original, mas a comodidade das pessoas a isso terá obrigado. No entanto, continua a ser, na minha humilde opinião, o templo medieval mais representativo do concelho de Fornos de Algodres.
Termino com uma quadra popular:
Ó Senhora Santa Eufémia,
Viradinha para os pinhais.
P’ra ver se vê chegar,
Uma só devota mais.
Albino Cardoso
2005-10-18
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