Os marcos de sepultura em forma de estela discóide são bastante frequentes no registo arqueológico, conhecendo-se várias centenas de exemplares um pouco por todo o país.
Estes monumentos destinavam-se a assinalar a presença de um enterramento, sendo colocados, em regra, à cabeceira da sepultura e, excepcionalmente, também aos pés. Esculpidas em pedra, as estelas deste tipo eram constituídas por uma parte superior em forma de disco, assente num espigão destinado a fixá-las ao solo, que era enterrado. Eram em geral decoradas, numa ou ambas as faces, predominando os símbolos religiosos, mas podendo conter também iconografia de diversa natureza (profissional, ...), siglas e, mais raramente, epígrafes.
A utilização das estelas discóides abrange uma larga diacronia, desde o período medieval até quase à actualidade (conhecem-se exemplares do séc. XX ...), pelo que a datação de achados descontextualizados é sempre problemática. Em todo o caso, tem-se entendido que a maioria datará da Baixa Idade Média. Segundo o Prof. Mário Jorge Barroca, os exemplares anteriores ao séc. XII parecem ser mais ou menos excepcionais, ocorrendo a generalização destas estelas funerárias apenas nos séculos XIII e XIV (BARROCA, 1987, pp. 306 e segs.). A partir do século XVI o seu uso vai rareando, embora se continuem a registar ocorrências nos séculos posteriores.
Até ao momento, que saibamos, foram identificadas apenas duas estelas deste tipo nas Terras de Algodres.
Um dos exemplares foi encontrado em Algodres, na década de oitenta do século passado, quando se realizaram obras numa casa situada a poucos metros da fachada Sul da igreja matriz. Estava quebrada, faltando-lhe o espigão e tinha gravada uma cruz em alto relevo, de braços algo irregulares (VALERA, 1993, p. 54).
Estela funerária de Algodres, seg. VALERA, 1993.
A outra estela conhecida foi encontrada em Figueiró da Granja por Mons. Pinheiro Marques, que a identificou, recolheu e monumentalizou, mandando-a colocar, à laia de cruzeiro, no alto de uma coluna, como conta no livro Terras de Algodres (MARQUES, 1938, p. 42):
Em Figueiró, presumo, sem afirmar, que seja do tempo dos godos uma antiquíssima pequena cruz lavrada em relêvo numa pedra, que, desde há séculos, está no ângulo do caminho do Relão e Quelha da Fonte-Arcada; chamam-lhe a Cruzinha e daí veio ao sítio êsse mesmo nome, que ainda hoje conserva.
Efectivamente, já os godos usavam nas suas moedas uma cruz lisa como esta.
O Conde D. Henrique e seu filho D. Afonso Henriques também usavam no escudo uma cruz lisa, como esta nossa Cruzinha.
Esta cruz de pedra era um marco simbólico da fé cristã, que, como ainda hoje, se colocava à cabeceira das sepulturas, como pedra tumular ou marco funerário.
No Museu Etnográfico de Belém existem duas como esta de Figueiró.
Como êste precioso documento arqueológico andasse, há muitos anos, aos baldões, pelo caminho, recolheu-a com respeito o autor dêste livro, mandando-a colocar, em 1930, no alto de uma coluna, no mesmo sítio a que deu o nome.".
Cruzinha, Figueiró da Granja (Agosto de 2001).
O monumento ainda se conserva, no estado em que a fotografia agora publicada documenta. A meio da coluna foi esculpida uma cruz grega (cruz de braços iguais), semelhante à da estela e a data de 1930. Se a datação proposta por Mons. Pinheiro Marques não será a mais provável, à luz dos conhecimentos actuais, este é mais um monumento do nosso património histórico-cultural cuja preservação o concelho lhe ficou a dever.
Muito possivelmente ainda estarão por descobrir, em Terras de Algodres, ocultas pelo solo ou por construções, mais estelas funerárias deste tipo. Outras poderão estar, como é frequente, reutilizadas e esquecidas, à espera de quem nelas repare e as reconheça. Aqui fica pois um repto, aos algodrenses e visitantes: vamos descobrir as estelas perdidas! Este blog fica à espera das notícias e/ou fotografias dos vossos achados.
Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.
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