Medidas gravadas no portal axial
da Igreja  Matriz  de Algodres.
Espectacular!
Deveremos conservar nossa história e preservar nosso património cultural
Abraços
Sobre este tipo de medidas-padrão lineares, gravadas em monumentos medievais, encontrei ontem, casualmente, um importante artigo do Prof. Doutor Mário Jorge Barroca, intitulado “Medidas-padrão medievais portuguesas” (v., na Bibliografia do blog: BARROCA, 1992).
Sintetizo, de seguida, alguns dos aspectos mais relevantes desse estudo, com interesse para o caso das medidas-padrão de Algodres.
O artigo inclui um inventário das gravações conhecidas de Norte a Sul do paÃs, com indicação das respectivas medidas em cm (os casos que pessoalmente já tinha visitado estão todos incluÃdos nesta publicação, havendo por vezes pequenas diferenças relativamente à s medidas que registei, o que é normal, desde logo porque as extremidades de algumas gravações estão erodidas e são susceptÃveis de alguma interpretação).
As medidas gravadas com maior frequência são a Vara e o Côvado (que em vários casos estão associadas). Na Beira Interior, o inventário refere gravações conjuntas da Vara e do Côvado, como sucede em Algodres, em S. Martinho de Mouros, Marialva e Sortelha.
As gravações das medidas-padrão aparecem geralmente em locais/edifÃcios cuja natureza ajudava a sublinhar a sua legitimidade: igrejas, portas de amuralhamentos urbanos ou castelos. Na Beira Interior, à semelhança de Algodres, o inventário regista medidas gravadas em igrejas em Resende, S. Martinho de Mouros, Moreira de Rei, Sabugal e Monsanto.
Com base neste inventário, o autor questiona as equivalências apontadas na generalidade dos estudos históricos para o Palmo (20 cm) e para o Côvado (70 cm, como referido no comentário anterior), propondo que se fixem, respectivamente, nos 22 cm e nos 66 cm. O sistema seria baseado no Palmo, de 22 cm. de comprimento, do qual o Côvado (66 cm) e a Vara (110 cm) eram múltiplos, registando-se uma assinalável uniformidade de valores nas gravações encontradas em todo o território nacional, que parece apontar para uma uniformidade destas medidas já a partir dos meados do séc. XIII.
Embora as medidas gravadas na Igreja Matriz de Algodres não estejam incluÃdas no inventário, o artigo refere-as numa “Nota Final”, com o seguinte teor (p. 82):
“Já depois de este trabalho ter dado entrada em tipografia tivemos oportunidade de identificar um novo caso de medidas-padrão. Em Algodres, aldeia a 4 km de Fornos de Algodres, nas colunas do lado esquerdo do portal ocidental da Igreja Paroquial estão gravados o Côvado (com 66 cm) e a Vara (com 109,5 cm). Cada medida foi gravada no seu fuste de coluna, ambas arrancando da moldura superior. Trata-se, portanto, de mais um exemplo onde se associam estas duas medidas destinadas ao comércio de tecidos finos e comuns, que eleva o número de medidas-padrão sobreviventes aqui inventariadas para 31 repartidas por 20 locais distintos. O predomÃnio das Varas e Côvados vê-se assim ligeiramente ampliado, com 67,74% dos casos inventariados. O exemplo de Algodres vem apenas sublinhar o facto de o levantamento aqui apresentado não ser exaustivo mas tão somente um ponto de situação que, esperemos, será em breve ampliado com novos exemplos”.
Ressalvo apenas, que, como se vê na fotografia, em Algodres ambas as medidas estão gravadas no mesmo fuste, da única coluna do lado esquerdo do portal.
Este percursor e fundamental artigo do Prof. M. J. Barroca pode ser consultado on-line aqui:
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2182.pdf (http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2182.pdf)
O meu amigo Albino Cardoso referiu-se, em 2007-06-01, a esta entrada no seu blog: http://dalgodres.blogspot.com/2007/06/igreja-medieval-e-as-suas-funcoes.html . Transcrevo um comentário que ali coloquei:
“(...) Creio que esta gravação registava as medidas medievais de comprimento conhecidas como "Vara" e "Côvado". Por elas se aferiam as medidas que traziam os vendedores de panos. Segundo o "Dicionário de História de Portugal" (vol. V, p. 68), corresponderiam, em regra, a cerca de 1,10 m (a Vara) e 0,70 m (o Côvado).
Pelo que tenho visto, a Vara seria em geral invariável. Já o Côvado apresenta ligeiras variações locais.
As medidas da igreja matriz de Algodres (se bem medi e não me falham as notas...) têm 1,10 m e 0,67 m. No exterior da porta Oeste da muralha de Sortelha ("Porta da Covilhã") pode ver-se uma gravação semelhante, com as medidas de 1,10 m e 0,66m.`
Por vezes aparecem gravadas a vara e a meia-vara (como sucede numa das portas da muralha de Monsaraz, no lado interior - com as medidas de 1,10 m e 0,55 m).
Outras vezes aparece apenas uma das medidas. Há referências, por ex., à gravação do Côvado numa lápide existente na fachada Norte da igreja da misericórdia do Sabugal, mas é um caso que ainda não verifiquei pessoalmente. Faz-nos falta o "Arqueoblogo" Marcos Osório para ajudar a esclarecer esse caso...
(...) gostaria de revisitar estes e outros casos para registar com maior rigor este tipo de gravações de medidas-padrão.
Talvez os leitores do blog possam ir dando umas achegas!(...)”.
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