"O Algodres"
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As Terras de Algodres (concelho de Fornos de Algodres) são conhecidas pelo seu rico património arqueológico, arquitectónico e artístico, que será seguramente um dos motores do desenvolvimento sustentável deste concelho do interior beirão. A exposição permanente do CIHAFA e o roteiro arqueológico implantado no terreno, permitem ao visitante conhecer a evolução do povoamento da região, desde o Neolítico até à actualidade, passando por sítios tão emblemáticos como as antas da Matança e de Cortiçô, o Castro de Santiago, a Fraga da Pena, o Castelo de Queiriz, as necrópoles medievais das Forcadas e de Vila Ruiva e muitos outros que estão devidamente referenciados e assinalados (1).
No centro do concelho, numa localização privilegiada (2), encontra-se a aldeia de Algodres, que desde tempos imemoriais dá o nome a toda a região.
Algodres continua incompreensivelmente a aguardar lhe seja reconhecido o merecido título de Aldeia Histórica, que seria de capital importância para o desenvolvimento local e para a preservação da identidade e do património cultural multissecular que conserva.
Dos aspectos mais relevantes da sua história e património, apresentamos seguidamente uma breve síntese, destinada ao visitante interessado e à crítica dos que a queiram corrigir ou melhorar, desde logo por correspondência enviada a este blog.
O topónimo Algodres, hoje de obscuro sentido, certifica a antiguidade do povoamento. Segundo a interpretação mais plausível, de José Pedro Machado (3), terá origem árabe, derivando de al godor, plural de gadir, palavra que significa lagoa ou ribeiro. E cursos de água não faltam no planalto de Algodres, chamando-se ainda hoje Alagoas uma das bolsas de terras mais férteis e irrigadas da freguesia.
A primeira ocupação do território da actual freguesia remontará ao Neolítico inicial. Na Quinta da Assentada, no limite das freguesias de Algodres e Infias, foi recentemente escavada uma estação desse período, que revelou também uma ocupação posterior, enquadrável num momento final do Calcolítico (VALERA, 2002-2003).
No núcleo histórico da aldeia, os vestígios mais antigos encontrados datam da época romana. Alguns achados estão expostos no CIHAFA, com destaque para uma ara anepígrafa (4). Em recentes escavações na Praça de Algodres e ruas adjacentes (Maio de 2000 Janeiro de 2001), dirigidas pela arqueóloga Alexandra Soares, foram encontrados diversos materiais atribuíveis a essa época, designadamente restos de estruturas, tegullae, sigillatas hispânicas tardias, cerâmica comum e diversas moedas do século IV (5). No lugar do Furtado, na capela de S. Clemente, existe ainda uma ara votiva, do séc. III ou posterior, dedicada a uma divindade indígena (6).
Para os períodos imediatamente posteriores, a informação disponível é quase nula e só se conhecem novos indícios de povoamento a partir da época da Reconquista.
Nas escavações de 2000-2001, foi intervencionada uma extensa necrópole, com um primeiro momento de utilização provisoriamente enquadrado pela responsável entre os séculos X XIII (7). Julgamos que os sarcófagos não antropomórficos encontrados junto à Igreja Matriz (um dos quais se encontra reutilizado nas fundações da parede Sul do templo), a não serem mais antigos, serão também enquadráveis neste período (séculos IX XI ?).
Desde o século XII, Algodres aparece como vila e cabeça de um vasto concelho, que englobava no seu termo as actuais freguesias de Algodres, Casal Vasco, Ramirão, Cortiçô, Vila Chã, Muxagata, Maceira, Sobral Pichorro e Fuínhas. Exercia também, em alguns domínios, supremacia administrativa sobre os vizinhos concelhos de Fornos, Infias, Matança e Figueiró da Granja (8).
As Inquirições de D. Afonso III (de 1258) (9) documentam que a terra de Algodres recebeu de Donnus S. Menendi uma carta de povoação, em data que não se indica, mas que será seguramente anterior a 1169. Nesse ano, o primeiro foral de Linhares, dado por D. Afonso Henriques, já delimitava o termo daquele concelho, por reporte ao de Algodres, da seguinte forma: os vossos termos são estes: (...) e da terceira parte, como parte pelo Mondego com Algodres (10).
No reinado de D. Sancho I, a importância regional do concelho de Algodres é realçada pelas crónicas que relatam a participação dos seus homens de armas, juntamente com os de Celorico, Linhares, Trancoso e Guarda, numa batalha travada com as tropas de Afonso IX, rei de Leão, que tinham invadido a Beira (11).
Ainda segundo as Inquirições de 1258, D. Sancho II alterou os foros fixados na primitiva carta de D. Soeiro Mendes, convertendo-os em prestações monetárias.
Posteriormente, D. Dinis (em 1311) e D. Manuel I (em 1514) deram novos forais ao concelho (12).
Na primeira metade do século XVI, o senhorio de Algodres foi concedido a D. António de Noronha, Escrivão da Puridade dos reis D. Manuel I e D. João III, que veio a ser agraciado com o título de Conde de Linhares. Após a Restauração de 1640, tendo o 4º. Conde de Linhares permanecido fiel ao rei de Espanha, o senhorio de Algodres reverteu para a Coroa, tendo sido posteriormente atribuído à Casa do Infantado.
Em Setembro de 1810, a 3a. Invasão Francesa passou pelo concelho, tendo deixado em Algodres um rasto de grande violência, de que dá testemunho um relato então lavrado pelo Vigário de Algodres, que refere a prática de roubos, agressões, incêndio de casas, profanação das igrejas, violações e diversos homicídios (13).
O concelho de Algodres foi extinto em 1836 e integrado no novo concelho de Fornos de Algodres (14).
Património arquitectónico e artístico (15)
A Igreja Matriz de Algodres é o monumento mais antigo da aldeia. A actual construção, que terá sucedido a outras anteriores, datará do século XII e foi sucessivamente alterada desde então. De raíz românica, conserva o portal axial original, em arco ligeiramente apontado, assente sobre duas rudes colunas, numa das quais se encontram gravadas as medidas padrão do côvado e da vara vigentes no concelho. O campanário de três ventanas que remata a fachada principal data do século XVIII. Na fachada posterior, está embutido um notável relevo, figurando o busto de um homem, popularmente conhecido como o Algodres e tido pelo fundador da povoação. Trata-se, a n/ ver, de uma escultura de filiação românica, possivelmente coeva da construção inicial do templo, que parece representar um homem de religião, envergando um hábito monástico. No interior da igreja, merecem especial referência os frontais dos altares laterais, decorados com azulejos de aresta hispano-mouriscos (s. XVI), o altar-mor em talha dourada (no qual se destacam duas excelentes pinturas, representando o baptismo de Cristo e S. Pedro) e o tecto em caixotões (ambos do séc. XVIII).
Na praça contígua, domina o Pelourinho (s. XVI), um dos mais imponentes e elegantes no seu género. Trata-se de um pelourinho de gaiola, que tem como particularidades notáveis a coluna de fuste octogonal com cerca de 5,5 m., construída numa única pedra, o fino lavor do capitel e dos colunelos da gaiola - decorados com pequenas meias esferas - e os restos dos ferros de sujeição que ainda conserva. À entrada da praça pode ver-se uma casa com uma janela quinhentista, igualmente decorada com meias esferas.
Nas traseiras da Matriz encontra-se a Igreja da Misericórdia, que uma tradição arreigada afirma ter sido construída no local e com pedras do antigo Castelo (o que até hoje não foi possível confirmar). É plausível que uma povoação com a importância de Algodres tenha tido um reduto defensivo, desde os tempos problemáticos da Reconquista, a exemplo de outros que se conhecem na região (alguns até em locais posteriormente despovoados). Porém, estando situada à ilharga das principais vias de comunicação N/S e E/O, Algodres nunca terá tido relevo estratégico que motivasse o investimento em fortificações de vulto. A Misericórdia foi fundada em 1621, conjecturando-se que o templo tenha sido edificado entre os séculos XVII - XVIII. Tem adossado o edifício da Santa Casa da Misericórdia que comunica com o interior da igreja por uma tribuna (o balcão dos mesários). Possui um curioso púlpito exterior, conhecido como Varanda de Pilatos. No interior merecem destaque a imagem em madeira articulada do Senhor da Cama e um rico políptico do século XVII, tendo ao centro Nossa Senhora das Misericórdias, no qual José Hermano Saraiva quer ver, anacronicamente, um retrato da 2a. Condessa de Linhares, D. Violante de Andrade (16). No largo fronteiro à Misericórdia está implantado um Cruzeiro, de cruz trilobada, que será contemporâneo da construção daquela igreja. Associados à Misericórdia, existem espalhados pela povoação seis nichos em pedra, nos quais são colocados painéis representando a paixão de Cristo, nas cerimónias litúrgicas da Páscoa. O percurso que definem culmina no Calvário (que inclui a Capela da Senhora do Pé da Cruz), no Alto de S. João, um recinto belíssimo, povoado por cedros seculares, infelizmente descaracterizado pela adaptação a salão de festas da freguesia.
Vale também a pena conhecer o edifício dos Paços do Concelho, Tribunal e Cadeia, que terá sucedido ao que primitivamente se localizava na Praça e que dá ideia da importância que o concelho alcançou. Este edifício foi, depois, por algum tempo, solar da família Osório de Castro, o que explica o brasão que hoje ostenta. Uma outra casa, situada no Largo da Nogueira, conserva também um brasão da mesma família.
Vejam-se, noutra residência senhorial, outrora da família Camelo Forte, duas janelas de avental, provavelmente seiscentistas e, na cerca anexa, a torre romântica do Mirante.
Depois de conhecidos estes ex-libris da terra, perca-se o visitante nas graníticas ruas da aldeia, no prazer da descoberta de recantos e outras memórias do passado, que seria impossível aqui registar.
Notas:
1 (VALERA, 1993); v. também a página internet da CMFA.
2 V. a entrada Um blog sobre quê...?, de 2005-05-18.
3 (MACHADO, 2003, vol. I, p. 97).
4 (GOMES, 1988).
5 (SOARES e CARDOSO, 2003, s/d)
6 (CURADO, 1986) e (ALARCÃO, 1989, p. 309).
7 - (SOARES e CARDOSO, s/d).
8 (MARQUES, 1938, pp. 15 - 17).
9 Cf. PMH-INQ.
10 (MOREIRA, 1980, pp. 48 - 55).
11 (RODRIGUES, 1979, pp. 64 - 69), (MARQUES, 1938, pp. 190 - 191).
12 (MARQUES, 1938, pp. 286 - 287).
13 (MARQUES, 1938, pp. 196 - 199).
14- (MARQUES, 1938, pp. 95 - 99).
15 V., em especial: (CONCEIÇÃO, 1992a, 1992b), (DIONÍSIO, 1985), (FIGUEIREDO, 2004), (LEMOS, s/d a), (MARQUES, 1938), (REAL, 1949), (RODRIGUES, s/d) e (SOUSA, 1998).
16 Cf. (SARAIVA, 1994) e a crítica de (LEMOS, s/d a).
Bibliografia e abreviaturas: v. entradas de 2005-05-09.
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