História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt

Segunda-feira, 18 de Junho de 2007
Acerca da origem da localidade de Matança - II

 

 

(colaboração de João Rocha Nunes)

 

 

No que se refere à presença romana na Matança, João de Almeida sugere que a localidade seria um oppidum para “não só servir de base de ocupação e centro administrativo de valor, mas também guardar a estrada militar que servia de transversal entre as da Guarda a Linhares, Conímbriga e a da Guarda a Aguiar da Beira e Lamego...”[i]. Esta tese foi burilada tendo em conta a existência das pontes – cujos alicerces foram por este autor considerados romanos, bem como pelos vestígios de lajes de pedra na via de acesso a uma das pontes. Ora, não é possível considerar as pontes/lajes como romanas, porque até à data não foi apresentado qualquer documento que permita considerar que estes vestígios pertencem à época em questão, já que em períodos muito posteriores a edificação deste tipo de estruturas foi em tudo semelhante às formas constructivas usadas no período romano. Contudo, é possível que a importância da localidade decorresse da sua relevância militar, mormente no controlo de um determinado território do interior da Lusitânia. Com efeito, um espaço situado num dos extremos da provoação tem a designação de Castelo (figura I). Este mesmo local não possui no presente vestígios de quaisquer fortificações. Todavia, um dos blocos de pedra inserido nos alicerces de uma habitação deste mesmo local (figura II) é possivel verificar que o mesmo aparenta ter aparelho romano. Este documento material e a toponímia  - Castelo -   permitem considerar a Matança como uma localidade que teria alguma relevância  militar na Época Romana. Embora não haja uma prova cabal, como já referido, de que as pontes datem efectivamente da Época Romana, é possível que a importância da Matança, tal como João de Almeida sugeriu[ii], tivesse a ver com o controlo militar de uma das estradas secundárias do interior peninsular. Seguramente que esta atalaia – não tendo dimensões significativas, uma vez que os vestígios da estrutura não são actualmente visíveis, até porque o espaço foi objecto de um novo arranjo em épocas posteriores -  terá servido no decurso dos séculos para a protecção dos habitantes da localidade deixando mais tarde, provavelmente no período da Baixa Idade Média, de ter qualquer utilidade na defesa da povoação/território.

 

 

   

 

 Figura I

 

Castelo – Matança

 

 

 

Castelo-Matanca-I.jpg

 

  

 

 

 

 

Figura II

 

Castelo – Matança 

 

 

 

  

 

Castelo-Matanca-II.jpg

 

  

 

João Rocha Nunes 

 

 

 


Notas:

 

 

 

[i] João de Almeida, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Ed. do autor, 1945, vol. I, p.240. 

 

[ii] Idem, p. 240.

 


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Segunda-feira, 11 de Junho de 2007
Acerca da origem da localidade de Matança - I

 

 

(colaboração de João Rocha Nunes)

 

 

 

É indubitável que a presença romana foi uma realidade na localidade de Matança, embora se desconheça se efectivamente esta povoação foi fundada pelos romanos. Alguns autores referem vestígios materiais que decorrem da chegada dos povos do Lácio às Terras de Algodres e em particular à localidade que iria adoptar no decurso da História o nome de Matança[i]. Leite de Vasconcelos, em finais do século XIX, nas prospecções que fez no Monte dos Matos, que dista de Matança cerca de 1 km detectou “destroços de duas ordens de muralhas concentricas; estas têm de largura actualmente 1 metro pouco mais ou menos. Num dos extremos de uma das muralhas ha o alicerce de uma casa rectangular de uns 6m X 4 m, porém não posso dizer a que época pertence. Abaixo dos destroços da ordem de muralhas inferior, num pinhal e em campos, depararamse-me muitos montinhos de pedras, ao parecer, de ruinas de casas. Sobre estes monticulos, e fóra  d’eles, pelo terreno das encostas,  - externamente, como digo ás muralhas – vi, inumeros fragmentos de tegulae de diversas côres (vermelhas, brancas e azulado-negras), e alguns  de imbrices. Concluí d’isto que no monte dos Matos houvera um castro, a que sucedeu, como em muitos outros casos se observa, a civilização romana.[ii]. Este mesmo autor  afirma, igualmente, ter achado no lugar de Matança  “tegulas, um denario de Augusto, e uma inscriçao funeraria[iii]”.

 

 

 

Pese hoje se desconheça o paradeiro dos vestígios assinalados por Leite de Vasconcelos no Monte dos Matos, parece verosímel a interpretação do autor: as “muralhas concêntricas” são susceptíveis de ser da Época Castreja, enquanto que os restantes documentos materiais são claramente da Época Romana. Leite de Vasconcelos sinaliza igualmente na Matança a existência de uma inscrição funerária.

 

 

 

Figura I

 

Inscrição da Matança[iv]

...................

 

XXVCAMI

 

RAIYTAIP

 

AN XVI

 

   ___

 

 

 

TONGETA

 

ARANTO

 

 

 

Como é visível pela figura I, quando Leite de Vasconcelos coligiu a inscrição, esta encontrava-se já muito deteriorada[v].  Todavia, e não obstante se encontrar mutilada,  a inscrição permite a obtenção de preciosos informes acerca da Matança na Época Romana. Com efeito, no documento em questão são perceptíveis os seguintes onomásticos – Camira, Tongeta e Aranto.  Camira é efectivamente um nome feminino de origem indígena[vi].  Tongeta trata-se de uma designação onomástica cuja origem  remete para a etimologia hispânica[vii]. Já Aranto parece ser a abreviatura de Arantonius que é um onomástico de origem celta e uma designação típica de Beira interior[viii]. A inscrição parece evidenciar, igualmente, a idade de dois indivíduos – 25 e16 anos, respectivamente. Esta inscrição data de cerca do século I, uma vez que se insere no tipo de documentos epigráficos funerários erigidos por uma população de origem local que lentamente assimilava a cultura romana, à semelhança do que acontecia em outras localidades da que mais tarde viria a ser designada de Beira Interior[ix]. A menos que surja alguma evidência em contrário, a importância desta inscrição para a história local  é que prova – pela presença de população autóctone na localidade - que a Matança foi fundada na Época Romana, mormente por população autóctone. Poder-se-ia pensar que esta localidade pudesse já ser uma realidade no período anterior à presença romana no território peninsular. Alguns autores referem a existência de um castro que estaria na origem da provoação[x]. Todavia, o facto de o Monte dos Matos ser povoado – não fazia sentido existirem dois núcleos habitacionais tão próximos - sugere que a Matança foi efectivamente fundada  no Périodo Romano, cerca do século I. A crer nas referências de Leite de Vasconcelos, o Monte dos Matos foi um castro romanizado. Este espaço continuou a ser habitado depois da chegada dos romanos. Ora, à semelhança do que aconteceu em outros locais  do norte de Portugal[xi], é possível que tenha existido uma transferência de população do referido Monte dos Matos para um espaço contíguo, situado em um vale e próximo de cursos de água, mais propício nesse sentido à prática agrícola.

 

João Rocha Nunes



Notas:

 

[i] A desginação de Matança não oferece dúvidas quanto à origem etimológica. A questão que se coloca é  que contendores teriam travado  o combate. Há quem sugira Romanos e Bárbaros e há quem se incline para Cristãos e Muçulmanos. Pinheiro Marques, Terras de Algodres, Ed. Câmara Municipal de Fornos de Algodres, 1988, p. 308.

[ii] Leite de Vasconcelos, De terra em terra, Ed. Imprensa Nacional, Lisboa, 1927, p. 140.

[iii] Idem, p. 140.

[iv] Esta inscrição aparece citada na obra de Fernando Barbosa Barros Leite, Concelho de Penalva do Castelo:  Recolha bibliográfica, contributo para uma monografia, Câmara Municipal de Penalva do Castelo, 1997, p. 40.

[v] É possível que esta  inscrição seja a que se encontre em uma das casas do Arrabalde, contíguo ao espaço designado de Castelo, e que no decurso do século XX foi coberta com argamassa em virtude de obras de melhoramento da referida habitação.  

[vi] Ana Paula Ramos Ferreira, Epigrafia Romana na Beira Interior: Evolução ou Continuidade?, Instituto Português de Arqueologia, 2004, p. 23.

[vii] O onomástico “Tongeta” encontra-se no  território português e em algumas regiões de Espanha, designadamente em Cárceres . J.J. Sayas; J.L. Sánchez, Nuevas inscripciones cacerenas, In Anejos de Gerión, II, Ed. Universidad Complutense, Madrid, 1989, p. 434 – 436.

[viii] Idem, p. 23.

[ix] Idem, p. 21.

[x] João de Almeida, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Ed. do autor, 1945, vol. I, p.240.

[xi] Jorge Alarcão,  Notas de Arqueologia, epigrafia e toponímia, In Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 7, nº 1, 2004 p. 208 – 209.


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Quarta-feira, 31 de Janeiro de 2007
Documentos para a história de Algodres (4)

  

 

Juntamente com a transcrição hoje publicada, o Dr. Pedro Pinto teve a amabilidade de nos remeter uma listagem de documentos relativos a Algodres, constantes das publicações das Chancelarias Portuguesas efectuadas pelo Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa.

 

 

 

Trata-se de um conjunto documental de inegável importância para a história das Terras de Algodres (exceptuando, talvez, o “Doc. 7”, que poderá ser referente à aldeia de Algodres de Figueira de Castelo Rodrigo).

 

 

 

Tanto quanto sabemos, a generalidade destes documentos ainda não foi objecto de atenção nos estudos até agora publicados, pelo que ficamos a aguardar, com expectativa, os estudos e / ou comentários que os leitores nos queiram enviar.

 

 

 

Transcreve-se a informação recebida:

 

 

 

Doc. 1, 07.02.1362

 

            Carta de confirmaçam dos priujlegios dos moradores d algodres ect

 

            em euora viij dias de feuereiro de mjl iijc lRbiij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro I, fol. 41v.º, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa, Inic, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1984, p. 169

 

 

 

 

 

Doc. 2, 01.09.1364

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou e outorgou ao concelho e homens boons d algodres todos seus priujlegios foros liberdades e boons custumes que sempre ouuerom ect

 

            na cidade da guarda primeiro dia de setembro de mjl iiijc e dous annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro I, fol. 100, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa, Inic, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1984, p. 432

 

 

 

 

 

Doc. 3, 02.05.1384

 

 

 

doaçam da terra d algodres e fornos e pena uerde e matança a fernam nunez homem etc

 

 

 

            Dom Joham etc A quantos esta carta virem fazemos saber que nos querendo fazer graça e mercee a fernam nunez homem comendador do casal por mujto serujço que nos fez e faz E del entendemos de Receber mais ao / [B] diante E querendo lho nos conhecer com mercees e graças o que cada hu6 senhor he theudo de fazer aaquelles que o seruem bem e lealmente Teemos por bem e damos lhe e doamos lhe e lhe fazemos pura doaçam antre viuos ualledoira pera todo sempre E pera elle e todos aquelles que del descenderem da terra de algodres com seu termo e de fornos e de pena uerde e da matança com todas suas perteenças e de folhadal que he em terra de senhorim, a qual terra lhe damos por Jur d erdade com todas rendas e foros trabutos perteenças e nouos e djreitos assy e pella guisa que a nos auemos e de djreito ou de custume deuemos d auer e mjlhor e mais compridamente se a el mjlhor puder auer Com entendimento que morendo o dicto fernam nunez homem ser [sic] herdeiros que a dicta terra se torne liuremente a coroa dos regnos,

 

            Porem mandamos a quaesquer almoxarifes e scpriuaães que ora sam ou forem ao diante dos almoxarifados onde as dictas terras sam que lhes leixem daquj en diante auer e logar [sic] e posujr a el e a seus herdeiros com todas rendas foros e djreitos trabutos perteenças e nouos E fazer delles e em elles todo o que lhe prouuer e por bem teuer assy como de sua herdade propria

 

            E queremos E outorgamos que o dicto fernam nunez homem per ssy e per sua propria auctoridade que lhe pera esto damos ou per outrem quem lhe aprouuer tome e possa tomar a posse das dictas terras e dos djreitos e perteenças dellas e os aia e logre pera todo sempre elle e seus herdeiros pella guisa que suso dicto he

 

            E em testimunho desto lhe mandamos dar esta nossa carta signada per nos

 

            dante em a nobre cidade de lixboa ij dias de mayo o meestre o mandou afomso martjnz a fez era de mjl iiijc xxij annos.,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 9v.º, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p. 44

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 4, 02.12.1384

 

 

 

Que os moradores d algodres posam enleger Jujzes etc

 

 

 

            Dom Joham etc A quantos esta carta virem fazemos saber que nos querendo fazer graça e mercee ao concelho e homeens boons d algodres termo de trancosso Teemos por bem e damos lhe e outorgamos lhe liure poder que elles per ssy enleiam e possam enleger e fazer Jujzes em esse logo d algodres que possam ouujr e liurar e desembargar todollos fectos preitos e demandas do dicto logo d algodres e de seu termo que forem conthia de xx libras afundo E estes Jujzes que assy enlegerem seiam confirmados per o concelho de trancoso cujo termo he

 

            ¶ E outrossy mandamos que as apellaçoões que desses fectos sairem que uaão perante os Jujzes de trancoso e delles vanham a nos

 

            Porem mandamos e queremos que elles possam ouujr e decedir os dictos fectos d algodres e de seu termo nom embargando que esse logo com seu termo seia dado por termo e Julgado a trancoso

 

            ¶ E outrossy per nos seia dado de Jur d erdade a fernam munjz homem comendador do casal nom embargante outros quaãesquer husos custumes foros priujllegios que em contrairo desto seiam os quaães aquj auemos por expresos e nomeados e declarados

 

            E em testimunho desto lhe mandamos dar esta nossa carta

 

            dante em alanquer dous dias de dezenbro o meestre o mandou per o doutor martim afomso da folha e do conselho do dicto senhor nom semdo hi Joham afomso bacharel em degredos a que esto perteentia [sic] bras steuez a fez era de mjl iiijc xxij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 68, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p. 260

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 5, 14.04.1385

 

doaçam d aldeas ao concelho de trancoso

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou h6a doaçam que fez em seendo regedor destes regnos ao concelho de trancoso per que lhe deu por termo e Jurdiçam as aldeas d enfias e figueiroo e fornos segundo se mais compridamente se contem na carta da dicta doacam etc

 

            em cojmbra xiiij dias d abril de j iiijc xxiij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 155, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo 3, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 51

 

 

 

 

 

Doc. 6, 16.01.1391

 

priujllegios d algodres

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou e outorgou ao concelho e homeens boons d algodres todos seus priujlegios foros liberdades e boons custumes de que sempre husarom etc

 

            em euora xvj dias de janeiro de mjl iiijc xxix annos

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 2, fol. 52, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume II, Tomo 1, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 247

 

 

 

 

 

Doc. 7, 16.01.1391

 

Priujllegios d algodres e confirmaçam delles

 

            Dom joham etc A uos jujzes de castel Rodrigo e a todallas outras nossas Justiças e outros quaãesquer que esto ouuerem de ueer a que esta carta for mostrada saude

 

            sabede que o concelho e homens boons d algodres nos enujarom dizer que elles ham priujllegio que nemhu6 seu vizinho nom seia ousado de uender nem dar nem doar nem escambar nem emprazar nemh6as casas nem vinhas nem herdades nem ortas nem prados nem outra nemh6a cousa que seia de raiz a Rico homem nem a Rica dona nem a outro nemhu6 homem fidalgo nem aarcebispo nem a bispo nem a frades nem a donas nem a outras hodeens [sic] de clerizia E que qualquer que contra esto for que peite duzentas libras a metade pera nos e a metade pera elles segundo dizem que mjlhor e mais compridamente no dicto priujllegio he contheudo E que o dicto priujllegio lhes foe dado por o dicto lugar seer mjlhor e mais pobrado

 

            E que nos pediam por mercee que lho confirmasemos e mandasemos guardar

 

            E Nos veendo o que nos pediam e querendo lhe fazer graça e mercee visto per nos o dicto priujllegio Teemos por bem E confirmamos lhe o dicto priujllegio que assy sobre esta razam teem

 

e porem uos mandamos que o veiades e lho comprades e guardedes e façades comprir e guardar // pella guisa que em elle he contheudo e lhes nom uaades nem consentades hir contra ello em nemh6a guisa que seia Ca nossa mercee he que lhe seia comprido e guardado

 

            vmde al nom façades

 

            dante na cidade d euora xvj dias de janeiro el rrey o mandou per Ruy lourenço dayam de cojmbra licenciado em degredos do seu desembargo aluaro gonçalluez a fez era de mjl iiijc xxix annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 2, fol. 52, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume II, Tomo 1, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 247

 

 

 

 

 

Doc. 8, 25.12.1433 [Estes 2 documentos referem-se à confirmação dos privilégios, foros, liberdades e bons costumes de dezenas de terras]

 

 

 

            Outra ouue o concelho de fornos de cabo d algodres

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 1, fol. 55, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 197

 

 

 

 

 

Doc. 9, 25.12.1433

 

 

 

            Outra ouue o concelho d algodres

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 1, fol. 55, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 197

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 10, 24.3.1435       

 

           

 

            Jtem carta de luis diaz de bairos criado de dom fernando de castro per que o dam por coudell da billa de çatam e de gudufar E de Redemoynhos e de pena uerde e de fornos d algodres e de figueiroo da grania e d enfiaas e de matança e de pena alua e de lodairo e de outelo e de folgasinho da fectura desta carta ataa dous anos e meo assy e pella guisa que ora elle he e o forom os outros coudees dante elle etc em forma

 

            dada em euora xxiiij dias de março Steuam uaasquez a fez Era de mjll E iiijc e xxxb annos

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 3, fol. 71, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume III, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2002, p. 409

 

 

 

 



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Terça-feira, 4 de Julho de 2006
...

Ponte2.jpg

Ponte sobre a Ribeira das Forcadas - Matança

(foto de  Albino Cardoso   -   Fevereiro de 2006).


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Sexta-feira, 30 de Junho de 2006
Muralhas, Castelos e Torres em Terras de Algodres

 

(colaboração de Albino Cardoso)

 

 

 

Para além do já referido "Castelo de Algodres", existem na nossa sub-região vestígios documentais, arqueológicos, toponímicos e lendários de outras muralhas defensivas, nomeadamente em Muxagata, Queiriz, Figueiró da Granja, Matança e Vila Chã de Algodres:

 

 - na Muxagata persiste entre o povo a tradição da existência do castelo, sendo o sítio da referida fortaleza identificado toponimicamente por: "Castelo".  Teria sido uma estrutura "luso-romana", tendo sido herdeiro de um castro pré-romano, servindo de defesa da povoação e da provável estrada romana com passagem por aqui.
João Almeida, na sua obra "Castelos de Portugal" (págs. 234-5), em 1945, refere a existência desta estrutura defensiva, de que existiam ainda naquela altura vestígios claros, informando que pedras do castelo podiam ser visíveis em várias construções de casas antigas e bem assim em muros de suporte e vedação.
 
- Em Queiriz, não só persiste a existência do topónimo "Castelo", como existe parte ainda relativamente bem conservada de uma muralha, que alguns estudiosos fazem recuar também à época romana.  
Fica situada num esporão, a cerca de 500m SE do marco geodésico identificado por "Castelo".
Esta estrutura defensiva faria provavelmente parte do sistema defensivo do vale do Mondego.  Tem contacto visual com o castelo de Celorico da Beira, havendo quem afirme ter sido uma atalaia do mesmo.
Este "castelo" é referido por Pinheiro Marques, em 1938, por João de Almeida, em 1945, por António Carlos Valera, em 1993 e por Adolfo Marques, em 2001.
João de Almeida refere também que a serra onde se encontra localizado se chama: "Almansor"  e que no seu sopé existe uma estrada romana.
António C. Valera informa-nos que no topo se podem ver vestígios arruinados de uma estrutura circular e, embora os artefactos encontrados não nos possam dar uma datação exacta, pela configuração da estrutura, a fazer lembrar um "opus recticulatum" romano, deverá ser romano tardio ou alto medieval.
 
- Reportando-nos agora a Figueiró da Granja, existe a leste da povoação e junto ao actual cemitério, o sítio da "Torre".  No referido local, embora sem nunca se ter efectuado uma escavação extensiva, têm sido encontrados vários artefactos e pedras indiscutivelmente romanos. Pelo que é de supor que, tal como as já referidas fortificações, a "Torre" a que a toponímia faz referência deve ter sido também uma construção romana.
Também no mesmo local  está assinalada a passagem de uma via romana, que, vindo de Viseu e passando por Infias e Fornos, por aqui se dirigia a Celorico, com atravessamento do rio Mondego pela ponte da "Lavandeira".
Há quem afirme também que neste local existiu uma "viccus" (aldeia romana) e que a referida torre seria uma "mulatio" (estância de mudança de cavalos) de apoio à via romana.
 
- Na Matança, logo à entrada da antiga vila e relativamente perto da ponte sobre a ribeira das Forcadas, existe também o sítio do "Castelo". Pessoas mais conhecedoras da localidade, entre as quais o Dr. Rocha Nunes, colaborador neste blog, já nos deram conhecimento de que embora já não persistam nenhuns vestígios materiais deste "Castelo", foram encontradas algumas pedras de silhar romano que poderiam ter-lhe pertencido.
Embora a actual ponte de um arco em volta inteira, seja provavelmente medieval, deverá ter tido fundação romana, pelo que coloco a hipótese de o referido "Castelo" ter sido algum sistema defensivo da ponte, devendo ter sido alguma muralha relativamente pequena.

 Ponte.jpg

 

Ponte  -  Matança.

 

Ainda no referente à Matança, o Professor Leite de Vasconcelos, em fins do século XIX, refere também a existência de troços de muralhas, no Monte dos Matos. No entanto, tanto o editor deste blog como o Dr. Rocha Nunes, em tempos mais recentes, tendo feito visitas ao referido monte, não identificaram nenhumas muralhas. Sem pôr em dúvida o reputado especialista, já se pensou se ele terá feito alguma confusão geográfica e se as muralhas por ele referidas serão as de S. Pedro de Matos.
 
- Quanto a Vila Chã (d'Algodres), persiste tanto na toponímia como na tradição popular a existência da "Torre", sendo ainda hoje assim identificados vários terrenos circundantes. Terá sido uma construção do baixo império romano ou alto medieval e ficava num outeiro da "Serra de Belcaide" ou da Muxagata.
João de Almeida (Castelos de Portugal, pág. 241), refere-se a esta estrutura defensiva como: "Torre da Muxagata", informando-nos, em 1945, que esta torre terá sido uma atalaia do "Castelo da Muxagata".  Na realidade, esta "Torre" deve ser identificada como de Vila Chã, pois fica situada nos limites desta freguesia, ou até mais propriamente por: "Torre de Belcaide" (ou seria do alcaide?).
Interessante também é o facto de o ponto mais alto da referida serra ser identificado como: "Cabeço do Pendão". Este topónimo é antiquíssimo, sendo referido também na "memória paroquial de Vila Cham, em 1758, pelo cura F. Melo da Costa" por "cabeço dopendam".  Sabendo-se que na Idade Média os mais importantes fidalgos (filhos de algo) eram conhecidos por "senhores de pendão e caldeira", será que este topónimo estará relacionado com algum fidalgo medieval? Provavelmente nunca o saberemos, mas sabe-se que por aqui existiram os antigos fidalgos "Soveral".  Irá esta família até à época medieval?
Já existia em 1258 a antiga aldeia de Soveral, relativamente perto desta torre, pelo que não será de descartar terem sido os "Soverais" que a terão fundado, ou dela terão retirado o apelido.

 

 Albino Cardoso

 

 2006-06-06

 



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Domingo, 26 de Março de 2006
A CASA DA FAMÍLIA DE MANUEL DE PINA CABRAL EM FONTE FRIA

CasaPinaCabral.jpg

 

 

 

(colaboração de João Rocha Nunes)

 

  

 

No seguimento do artigo referente à biografia de Manuel de Pina Cabral, importa saber se na localidade de Fonte Fria existem, na actualidade, elementos materiais ligados à figura do latinista. No conjunto do casario da Fonte Fria, uma das casas, junto à entrada da povoação, chama a atenção pelo facto de ser claramente uma estrutura habitacional que se distingue de todas as outras na localidade. Esta distinção decorre da habitação ter sido de uma família abastada, embora sem quaisquer foros de nobreza (a casa não tem qualquer brasão ou símbolo nobiliárquico). De notar, que Pina Cabral era oriundo de uma família de lavradores abastados -  o avô, Manuel de Andrade, que era capitão de ordenanças, obteve uma mercê de D. João V que lhe possibilitou o aforamento de terras concelhias[i]. A prática agrícola fazia, igualmente, parte da vida dos progenitores, como se verifica pelo facto de os pais de Pina Cabral terem vinculado terras à Igreja: António de Pina e Maria de Santiago [pais de Manuel de Pina Cabral] eram “senhores e posuidores de duas capelas hua das quais se compunha de umas fazendas sitas na dita vila [Matança] com a obrigação de 26 missas e alem desta mais hua com hum responso e a outra capela se compunha de fazendas sitas no lugar de Pindo concelho de Penalva (…) com encargo de hua missa e hum responso” [ii]. Estas capelas foram extintas em 22 de Fevereiro de 1774, por não terem de rendimento anual 100 mil réis.

 

 Em virtude de nesta localidade não ter existido outra família que tivesse a mesma importância na sociedade local, podemos considerar que esta casa pode muito bem ter sido da família de Pina Cabral. Se analisarmos a estrutura (cantaria; contrafortes; janelas) verificamos que a casa foi edificada nos séculos XVII ou XVIII, o que mais uma vez vem corroborar a hipótese sugerida. Contudo, não há provas documentais que permitam referenciar esta habitação como local do berço de Manuel de Pina Cabral. No registo de baptismo faz-se referência ao facto do franciscano ter nascido na localidade de Fonte Fria[iii]. Todavia, nos registos paroquiais dos irmãos do latinista refere-se que nasceram na quinta do Deserto[iv]. Sabe-se que esta quinta se situava no termo de Matança (Pedro Leitão, em 1708, edificou aqui uma capela consagrada a Nossa Senhora da Assunção)[v]. É sabido, também, que António de Pina e Maria de Santiago, pais de Pina Cabral, residiam na quinta do Deserto. É possível que esta quinta, da qual não se conhece a localização, estivesse situada num local próximo da Fonte Fria e que o pároco no momento do baptismo de Pina Cabral tivesse feito referência ao aglomerado populacional próximo e mais densamente povoado. Ao invés, é igualmente possível que Frei Manuel de Pina Cabral, por um qualquer motivo que hoje desconhecemos, tenha nascido na Fonte Fria, na habitação que era pertença do seu avô. Como uma última nota, importa fazer referência ao estado de ruína em que se encontra a casa que foi da família de Pina Cabral que, à semelhança do que aconteceu com a erosão da memória do latinista, se encontra também num total estado de degradação.

 



[i] IAN/TT – Chancelaria de D. João V, Mercês, liv. 96, fl. 171v. Em 27 de Maio de 1738, Manuel de Andrade conseguiu uma provisão de D. José que lhe permitiu aforar terras concelhias na Matança, mais precisamente “um pedaço de terra que era de tojal no limite da mesma vila aonde chamam de barrocal da atalaya que partia com o suplicante e ribeira de carapito que não rendia cousa alguma ao dito concelho”. 

 

[ii] IAN/TT – Chancelaria de D. José – Extinção de Capelas, lv. 11, fl. 308. Sobre as questões associadas à morte e em particular aos legados pios na época moderna ver Ana Cristina Araújo – A Morte em Lisboa: Atitudes e representações 1700-1830, Lisboa, Editorial Notícias, 1997, p. 271-295.

 

[iii] Arquivo Distrital da Guarda – Livro de registos de Baptismo da Matança, rolo 687/068, item 5, fl. 62

 

[iv] Idem, fls. 71v, 85, 100.

 

[v] Arquivo Distrital de Viseu, Câmara Eclesiástica, Livros de Registo, 10/424, fl. 93  - 93v; 94v - 97.

 



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Sábado, 4 de Fevereiro de 2006
Evocar a memória de Manuel de Pina Cabral (1746 – c.1810)

autografo.jpg

 

 

 

 (colaboração de João Rocha Nunes)

 

Comemoram-se no presente ano de 2006, 260 anos da data de nascimento de Manuel de Pina Cabral. Este distinto latinista do século XVIII nasceu em Matança, mais concretamente no local de Fonte Fria, no ano de 1746. Oriundo de uma família de lavradores, eclesiásticos e militares, fez os primeiros estudos nesta localidade, tendo mais tarde, na década de 60, ingressado no curso de cânones da Universidade de Coimbra. Data precisamente deste período a relação de amizade que estabelece com Frei Manuel do Cenáculo, distinta figura das letras do século XVIII. A pouca vocação que sentia em relação ao curso e a relação de amizade com Manuel do Cenáculo, que aliás se manteria por toda a vida do canonista, foram determinantes para o abandono da Universidade e ingresso na Ordem Terceira de S. Francisco, prosseguindo aqui o estudos de Filosofia e Latim. Foi um dos mais brilhantes alunos da Ordem Terceira. O conhecimento da língua latina (era um dos especialistas  do seu tempo) foi determinante para que tivesse sido o autor de um novo léxico de latim  -  o Magnum Lexicon. Esta monumental obra foi deveras importante no panorama das letras portuguesas do século XVIII e XIX, contando-se 11 edições que bem atestam a relevância da obra. Foi igualmente tradutor e autor de uma gramática latina, sob o pseudónimo de António de Pina Andrade. A importância de Pina Cabral não tem a ver apenas com a sua obra. Na Ordem Terceira fez uma carreira notável, que de simples estudante no colégio da ordem de Coimbra chega, em inícios do século XIX, a provincial da Ordem, figura máxima da instituição. Desconhece-se a data da sua morte – deve ter ocorrido cerca de 1810, uma vez que a última carta que escreve a Manuel do Cenáculo data de 1807 e a edição de 1812 do Magnum Lexicon já não é revista pelo autor.

 

ANEXOS

 

 

Anexo1 – Registo de Baptismo de Manuel de Pina Cabral

 

fac_simile.jpg

 

 

 

 Anexo 2 – Magnum Lexicon (1ª Edição) – folha de rosto

 

 Capa.jpg

 



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Segunda-feira, 7 de Novembro de 2005
5000 ANOS DE PATRIMÓNIO E HISTÓRIA

Anta-Matanca2.JPG

 

Anta das Corgas   -   Matança.

 

 

 

(colaboração de Albino Cardoso)

 

 

 

    Para se conhecer a evolução humana no município de Fornos de Algodres, de há cerca de cinco mil anos para cá, não é preciso andar muitos quilómetros. Basta percorrer o território do que foi a antiga "terra da Matancia"; concelho medieval com foral dado por D. Afonso III em 1358, mais tarde confirmado por um outro em tempo do rei D. Manuel I, e que hoje é uma freguesia do concelho de Fornos desde 1836.

 

 

 

    Ainda antes de se chegar à antiga vila e seguindo por um ramal, identificado e pavimentado, podemos admirar a imponente e antiquíssima Anta das Corgas, escavada e documentada desde o Neolítico e com utilizações no Calcolítico.

 

 

 

   Já à entrada da Matança e antes de passarmos a ponte romana de um arco, temos ao lado direito a antiga Igreja românica de Santa Maria Madalena, com portal de arco pleno e campanário de três ventanas.

 

 

 

    No centro da povoação e rumando para as Forcadas passamos pela praça onde outrora estava a casa da Câmara e onde ainda podemos admirar o alto e original pelourinho do século XVI.

 

 

 

    Nas Forcadas, aldeia de casas graníticas, podemos observar nalgumas os sinais da presença judaica, com símbolos de cristãos novos e, relativamente perto, interrogarmo-nos na vasta necrópole acerca das sepulturas escavadas na rocha.

 

 

 

    Voltando à Matança e seguindo em direcção a Matela, passamos junto à antiga fonte e chafariz de cristalina água, antes de observarmos os restos da antiga estrada romana e a bela ponte de dois arcos, depois da qual se encontra a singela mas antiga capela da Senhora dos Milagres.

 

 

 

    Saiamos agora da aldeia que já foi vila e pela estrada que nos levará à Fonte Fria, paremos na frescura dos pinheiros e prestemos atenção à bela capela barroca de São Miguel, com magnífico frontão com volutas.

 

 

 

    Já bem perto daquela pequena aldeia, dá-nos as boas vindas, com os braços abertos, um antigo cruzeiro, no recinto da Santa Eufémia.

 

 

 

    Ao fundo, a capela românica, com o seu portal ogival e a cachorrada da capela mor, que segundo uma lenda tentaram construir no cume do monte Milho.

 

 

 

    E por falar em lendas, porque não visitar também o Penedo Furado e recordar a sua lenda e tradição.

 

 

 

    Na freguesia da Matança, para além do mencionado, podemos comprar o belíssimo queijo "Serra da Estrela" e admirar a confecção artesanal de cestos e "canastros" e outros objectos em verga, que serão provavelmente vestígios hebraicos.

 

 

 

    Espero ter feito um resumo detalhado, mas simples, das marcas que a história deixou nestas terras e com isto talvez despertar a curiosidade de possíveis visitantes.  Assim o nosso município saiba promover mais eventos para a sua divulgação, trazendo com eles investidores e visitantes.

 

 

 

     Faço votos de que a nova auto-estrada que irá servir o nosso concelho, sirva muito mais para trazer-lhe desenvolvimento e visitantes, do que para que os naturais de terras com tanta história e património, rumem definitivamente para outras paragens.

 

 

 

al. cardoso

 

2005-11-05 

 


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Terça-feira, 25 de Outubro de 2005
...

santa eufemia.JPG

Santa Eufémia,  Matança   -   Foto de Albino Cardoso, 198?.


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Domingo, 23 de Outubro de 2005
Santa Eufémia da Matança

 

 

(colaboração de Albino Cardoso)

 

Em todos os roteiros ou referências históricas do município de Fornos de Algodres, poucas são as vezes que se referem a capela da Santa Eufémia, situada na freguesia e outrora antiquíssimo concelho da Matança.

 

É uma capela romano-gótica que em meu entender é a mais genuína construção da época medieval nas "Nossas Terras". Datando provavelmente dos séculos XIII ou XIV, é uma construção da transição do estilo românico para o gótico. Felizmente ainda hoje se conserva (para além da adição do alpendre fronteiro e da sacristia) praticamente da forma como terá sido construída, pois tendo passado provavelmente por algumas reconstruções durante os muitos séculos que por ela passaram, nunca os homens nela fizeram grandes modificações.

 

Nesta capela podemos admirar o belo portal ogival, as suas grossas paredes de granito onde ainda se vêem alguns cachorros de suporte da antiga cobertura, mas é, em meu entender, a cachorrada de suporte ao telhado da capela-mor o mais interessante. É composta por figuras mitológicas e vegetalistas, principalmente do lado norte, pois o lado sul foi encoberto (ou destruído) aquando da construção da referida sacristia, restando à vista creio que unicamente um ou dois cachorros.

 

Se no nosso concelho quisermos conhecer como eram os nossos templos medievais, teremos que visitar a capela da Santa Eufémia, pois para além do já referido, é com os seus tectos baixos e a ausência de aberturas de iluminação, envolvida na penumbra que nos faz lembrar as antigas catacumbas onde se iniciou a religião católica romana.

 

Segundo uma lenda, esta capela era para ser erguida no cume do monte Milho que lhe fica relativamente perto, "mas tendo o devoto construtor para lá transportado a pedra para essa construção, durante a noite e inexplicavelmente a pedra vinha aparecer no local onde hoje a capela se encontra implantada. Vendo nisto vontade divina, deixou de lado a ideia original e aqui construiu a capela".  Digamos até que a localização nem é a ideal em relação ao terreiro contíguo, pois encontra-se numa ponta deste e na parte mais baixa pelo que nem tem uma grande proeminência (mas os desígnios divinos são insondáveis).

 

Santa Eufémia foi uma virgem e mártir dos primeiros tempos do cristianismo e é muito venerada por toda esta nossa Beira, com várias capelas e santuários. É considerada pelo nosso povo a santa protectora das doenças de pele, principalmente das doenças "ruins" como diz o mesmo. A este santuário acorrem peregrinos durante todo o ano, em cumprimento de promessas ou em orações de pedido. O mesmo povo crê que a Santa aceita com bom grado ofertas florais, principalmente de cravos. É no entanto  durante as duas grandes romarias anuais que se juntam as grandes multidões. Estas romarias são realizadas uma na segunda-feira da Páscoa e a outra no dia 16 de Setembro, dia festivo da Santa.

 

Ainda até há relativamente pouco tempo, o dia da feira e romaria da Santa Eufémia era quase que dia feriado numa grande parte do nosso concelho.  Principalmente pela Páscoa, aqui vinham e ainda vêm também muitos devotos  dos vizinhos concelhos de Aguiar da Beira e de Penalva do Castelo. É ainda a mais genuína e popular de todas as romarias das "Terras de Algodres".

 

Tenho pena que as adições do alpendre e da sacristia lhe tivesse tirado parte da beleza original, mas a comodidade das pessoas a isso terá obrigado.  No entanto, continua a ser, na minha humilde opinião, o templo medieval mais representativo do concelho de Fornos de Algodres.

 

 

 

Termino com uma quadra popular:

                                                   Ó Senhora Santa Eufémia,
                                                   Viradinha para os pinhais.
                                                   P’ra ver se vê chegar,
                                                   Uma só devota mais.

 

 

 

Albino Cardoso

 

 2005-10-18

 


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Sexta-feira, 30 de Setembro de 2005
As Forcadas e as sepulturas escavadas na rocha II

Forcadas3.JPG

 

Necrópole das Forcadas,  Matança.

 

 (colaboração de Albino Cardoso)

 

 

A dúvida acerca das sepulturas escavadas na rocha, é saber-se exactamente a sua datação, pois esta, segundo os entendidos, poderá ir do século VII até ao XII ou XIII, (mas será que são antigas, ou serão mais modernas?). Parece que existe uniformidade de opinião sobre o facto de as mais antigas serem as não antropomórficas. Sendo assim, a necrópole das Forcadas será dos tempos mais recuados, podendo ir até ao século VII, portanto antes do ano 700 da era cristã.

 

 Tanto quanto sei, todos os especialistas na matéria dizem que estas sepulturas são cristãs, pelo facto de serem da nossa era e tentam encontrar sempre conexão entre elas e algum lugar de culto dessa religião (mas os templos ou outros símbolos cristãos não poderiam ter sido construídos mais tarde e não terem nenhuma relação?). Nunca se levantaram outras possibilidades, sabendo-se no entanto que nesses tempos havia no nosso território muitas outras religiões, entre as quais: o paganismo romano, o Arianismo, o Islão, o Judaísmo e até outras religiões praticadas pelos nossos antepassados Lusitanos que devido ao facto de não existirem provas documentadas delas pouco se sabe.

 

 Se tivermos em conta essas datações, a necrópole das Forcadas tanto poderia ser cristã, como de qualquer uma dessas outras religiões. Eu pessoalmente ponho muito em dúvida que o seja, pelos factos já adiantados na outra entrada sobre o mesmo tema.

 

 O nosso povo com o seu saber milenar, muitas vezes sem muita instrução (digo instrução e não educação, porque esta é muito subjectiva), costuma referir-se a estas sepulturas como: "covas ou sepulturas dos mouros". Até pode muito bem ter razão, pois foi por essas alturas que os muçulmanos começaram a conquista da península. Haveria que investigar se era comum esse tipo de enterramento na cultura e religião do Islão. Eu pessoalmente e sem ter feito nenhuma pesquisa a fundo, não o creio, pois de acordo com essa religião o defunto tem que ser sepultado dentro de 24 horas e não creio que eles tivessem as sepulturas já escavadas a espera do cadáver. Sabe-se também que pela nossa região não existem vestígios (para além de alguns orais e topónimos) de nenhum grande  povoamento promovido por essa gente; foi mais uma região de fronteira entre o norte mais cristão e o sul mais muçulmano.  O que eu creio que a sabedoria popular quer com essa expressão dizer é que são tão antigas como antigo é o tempo em que os mouros andaram por cá.

 

 Dos romanos tampouco creio que sejam, pois eles usavam um tipo de sepultura  muito mais elaborado e tinham o hábito de colocar lápides acerca do defunto, algumas ainda hoje existentes na nossa região. No entanto, não se conhece nem se sabe que tenha existido nenhuma junto à necrópole ou a esta antiga aldeia.

 

 Quanto à religião Ariana, que foi trazida pelos Visigodos, era uma variação da cristã e estes passado algum tempo, por ser talvez politicamente mais favorável, converteram-se ao cristianismo e começaram a praticar todos os costumes dessa religião, entre os quais o enterramento dos seus mortos dentro e junto das igrejas; facto este que ainda hoje se pode comprovar na igreja de Açores, em Celorico da Beira e numa igreja em Trancoso, relativamente perto de nós.

 

 Serão então estas sepulturas dos nossos antepassados Lusitanos? Eu pessoalmente muito gostaria que isso fosse uma realidade, no entanto nada o faz supor. Primeiro, porque, tanto quanto se sabe e embora pudesse haver algumas excepções, esses povos tinham o costume de incinerar os seus mortos e não sepultá-los; por último, lá está a datação a dar esta necrópole para muito mais tarde.

 

 Seriam então sepulturas judaicas? Talvez pudessem ter sido, pois o povo Hebraico já anda na Hispania desde o tempo dos romanos, sendo de uma maneira geral um povo culto e rico e como este tipo de sepultura é dispendioso e excepcional bem poderia ser deles. Existem ainda mais alguns factos que me poderiam levar a pensar desta maneira. Nas Forcadas, como já referi, nunca existiu nenhum templo cristão, tanto quanto se saiba  ( a capela hoje existente foi construída nos anos 70 do século XX e um cruzeiro perto da necrópole ainda é mais recente) e está provado, pelas marcas nas pedras nas antigas habitações dessa aldeia, que ali viveram judeus, mais tarde convertidos a "cristãos-novos". Sabe-se também, estando isto até documentado na Bíblia, que esta gente tinha o costume de escavar os seus túmulos na rocha. Além disso, gostaria de acrescentar que relativamente perto existem indícios de povoamento do tempo romano.

 

Isto leva-me a verificar se existe algo que pudesse corroborar esta minha ideia nas outras necrópoles ou sepulturas isoladas do nosso concelho.  Vou-me unicamente referir aquelas que eu conheço pessoalmente.

 

 A necrópole de Vila Ruiva, como sabemos, encontra-se localizada nas imediações da capela do arcanjo S. Gabriel.  Esta capela foi edificada no século XX, no sítio de uma outra mais antiga. No entanto não existem nenhuns indícios de que date da baixa idade média, alturas em que os estudiosos datam esta necrópole. Portanto, ou eles erram na datação, ou a capela nada tem que ver com a necrópole. Além disto, gostaria de chamar a atenção para alguns pormenores: a necrópole da Tapada do Anjo é  cortada por um caminho antiquíssimo que se dirige para a serra e que o Monsenhor Pinheiro Marques supõe romano, afirmando que enterrado debaixo dele existe uma calçada romana; o arcanjo Gabriel  também é de certa forma venerado pelo povo judaico; e se estas sepulturas eram longe das povoações para cumprir as recomendações conciliares, então para que é preciso fazer referência à capela? 

 

 Referindo-me às sepulturas de Infias: A primeira, uma sepultura de enormes dimensões, está situada no que foi o antigo passal da abadia de S. Pedro e relativamente perto da igreja, templo este que, de acordo com a maioria senão a totalidade dos historiadores, não data senão dos séculos XIII ou XIV. No entanto também se encontra à mesma distância, senão mais perto, dos vestígios do que foi uma "villae" ou "civitas" romana. Além disso, na igreja de Infias existe uma lápide romana ao deus Mercúrio e, por curiosidade, o padre Luiz de Lemos, no seu ensaio de monografia, quando se refere a ela não lhe faz nenhuma conotação com o cristianismo. As outras duas sepulturas estão situadas mais longe da povoação e da igreja, no sopé do monte da Raza, onde existem vestígios dum castro pré-romano; ao mesmo tempo estão relativamente perto do que terá sido a "civitas" romana.

 

 Vou-me agora referir às sepulturas dos Cabeços, que ficam relativamente perto da arruinada Aldeia de Cortes, próximo da freguesia de Vila Chã de Algodres. Os entendidos na matéria datam-nas entre os séculos VIII e IX.  Não creio que estas  sepulturas sejam cristãs, pois a povoação mais perto, hoje desabitada, foi fundada no século XVI, não se conhecendo nenhuns vestígios de ocupação humana nas imediações. Também se não conhece nenhum vestígio cristão por perto e a paróquia de Vila Chã, embora bastante antiga, não creio que vá muito para lá dos séculos XIV ou XV.

 

 Concluo então as minhas dúvidas do seguinte modo: ou as sepulturas rupestres escavadas na rocha são realmente cristãs e datam de épocas muito mais recentes, havendo então um grande erro de datação, ou então não o são e, datando das épocas avançadas, serão de outros povos: Romanos, Muçulmanos, Judeus, ou outros povos autóctones sem nome.

 

 Esta obsessão de querer relacionar estas sepulturas com templos cristãos, chegou ao extremo de recentemente, na cidade da Guarda, com as obras da Praça Velha, ao descobrirem algumas, com a particularidade de terem ainda restos mortais (o que ajudaria muito a sua datação) querem ou quiseram relacioná-las com a catedral, sabendo-se (e para isso nem é preciso ser historiador) que esta catedral data dos séculos XIV ao XVI e as outras catedrais anteriores estavam localizadas numa outra área da cidade. O que sim estava nesta área da cidade, desde a idade média, era a judiaria, que foi uma das mais importantes na nossa Beira Alta.

 

Albino Cardoso

 

2005-08-30

 



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Segunda-feira, 8 de Agosto de 2005
As Forcadas e as sepulturas escavadas na rocha I

 

  

 

(colaboração de  Albino Cardoso)

 

 

 

Estive quase tentado a escrever o título desta entrada da seguinte forma: as Forcadas e as sepulturas antropomórficas. Depois pensei melhor e realmente não fazia sentido, na realidade não são antropomórficas, pois não foram escavadas com a forma do corpo humano. De acordo com os especialistas na matéria esse facto tê-los-á levado à conclusão que são muitíssimo mais antigas do que as outras com forma antropomórfica, estaríamos então perante uma necrópole datada dos séculos VII ao IX. Ora tanto quanto sei não foram encontrados nenhuns materiais, que possam ser tratados e datados com radiação de carbono e portanto estas datas são especulativas. Mas supondo que são datadas dessa época, são dos primeiros séculos da nossa era cristã. Ainda de acordo com os mesmos técnicos, como são dos primeiros séculos da era cristã, então são sepulturas cristãs.

 

 

 

      Aqui é que começa a minha dúvida; serão mesmo sepulturas cristãs? Tentando arranjar uma explicação lógica os mesmos estudiosos tentam localiza-las junto a algum templo antigo ou tentar encontrar na sua orientação canónica a explicação para essa afirmação. Ora tanto quanto tenho conhecimento com a excepção da necrópole de Vila Ruiva da Serra, nem nas Forcadas nem em nenhum outro grupo ou sepulturas isoladas no nosso concelho fica situado junto a nenhum templo cristão ou vestígios orais ou materiais dele. Junto ao nosso município, mas no de Celorico, existe até o facto de, na necrópole de S. Gens, em vez de haver restos de um templo cristão, existirem isso sim vestígios de culto a outras divindades, ainda gostaria de saber em que se basearam para lhe dar esse nome.

 

     

 

 Em Vila Ruiva como afirmei a necrópole já antropomórfica encontra-se localizada junto à capela do arcanjo S. Gabriel.  Esta capela é muito recente pois foi construída em meados do século XX  sobre as ruínas de outra mais antiga. No entanto ponho muitas dúvidas que aquela capela antiga pudesse datar dos primeiros séculos da era cristã. É também curioso que a invocação de S. Gabriel até pode coincidir  com outra teoria que gostaria de explorar noutra entrada.

 

 

 

       Voltemos então às Forcadas e isso até pode servir, para todas as outras sepulturas escavadas na rocha, conhecidas na nossa região. Todos quantos têm estudado e evolução da religião cristã sabem que desde que foram construídos os primeiros templos, os cristãos sempre foram sepultados no seu interior ou nas suas imediações. Temos entre nós o caso da "recente" descoberta da necrópole de Algodres situada junto a antiquíssima igreja de Santa Maria. Suponho eu sem grandes receios de ser desmentido que é a mais antiga igreja do nosso concelho (este costume estava de tal maneira enraizado na tradição das nossas gentes, que no século XIX quando Costa Cabral decretou a construção dos cemitérios originou uma revolta que originou a queda do seu governo).  Ora admitindo que a fundação da igreja da Matança possa datar dos séculos VII ao IX,  o que eu duvido, porque haveriam dos seus fregueses e contra toda a lógica desses tempos, mandar construir esta necrópole relativamente longe da sua igreja e não ser sepultados junto ou dentro da mesma como era costume. Dirão talvez que as Forcadas é uma povoação mais antiga que a Matança e que aí houve um outro templo mais antigo que a igreja de Sta. Maria Madalena. Tanto quanto sei nem uma nem outra dessas possíveis teorias tem fundamento documental. Não existem vestígios nem memória de nenhum templo cristão nas Forcadas e tampouco se conhecem vestígios arqueológicos que possam comprovar essa tese (a capela hoje existente foi construída na década 80 do século XX).

 

 

 

         Voltemos então  à minha dúvida: nada prova para além de puras especulações que são sepulturas cristãs, pois até a orientação canónica (decretada muito mais tarde) não está comprovada nelas, embora haja algumas em que isso se possa no entanto encontrar, mas até isso pode ser explicado por outras razões. Também temos que admitir que este tipo de sepultura não era a regra mas sim uma excepção e seria para pessoas de mais posses materiais ou possivelmente para classes superiores, pois a maioria era sepultada na terra e não em sepulcros escavados na rocha. Então ou estas sepulturas são muito mais antigas do que a era crista, ou, sendo da época em que tentativamente estão datadas, serão de outra gente que não cristãos, pois nesses tempos nem toda a gente o era: havia os romanos, os povos autóctones que eles chamaram "Lusitanos", depois vieram os suevos os alanos e mais tarde os visigodos que finalmente se converteram ao cristianismo e havia um outro povo que por estas bandas andava desde o tempo dos romanos: os judeus!!! que infelizmente não são estudados quando é abordada a historia das Terras de Algodres. Além disso também existe entre as nossas gentes a tradição de chamar a estas sepulturas: "sepulturas dos mouros".

 



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Quarta-feira, 27 de Julho de 2005
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Forcadas1.JPG

Necrópole medieval  (sécs. VII – IX ?)     Forcadas (Matança).



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Domingo, 26 de Junho de 2005
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Anta.jpg

Anta da Matança   -   Postal,  s/d,  ed. CMFA.


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Toponímia algodrense 2: a vegetal Matança.

(entrada dedicada ao forcadense Dr. César Costa)

 

Correspondendo a sugestões recebidas, começamos hoje a alargar as entradas deste blog a outras povoações do concelho de Fornos de Algodres, começando pela freguesia da Matança e pela origem desse impressivo topónimo.

 

 

 

A história da freguesia ficará para outra ocasião. Para já, referiremos apenas que, nos alvores da nacionalidade, as terras da Matança foram reguengos que se constituiram em concelho. O primeiro foral documentado foi-lhe outorgado por D. Afonso III (MARQUES, 1938, p. 299). Nas Inquirições de 1258 (PMH-INQ, p. 791), a vila é referenciada e denominada “Matancia”.

 

 

 

O topónimo Matança está documentado em Portugal pelo menos nos concelhos de Fornos de Algodres, Lamego e Monforte. Aparece também na Galiza, como Matanza, em Lugo e Corunha.  A interpretação mais corrente fá-lo derivar do s. f. matança (acção de matar, carnificina, ...)  (MACHADO, 2003, vol. 2, p. 961).

 

 

 

Mons. Pinheiro Marques  (MARQUES, 1938, p. 298) perfilha a mesma opinião:

 

“ (...) O nome de Matança vem-lhe de um encarniçado combate ali travado, segundo uns, entre romanos e bárbaros (alanos?) e, segundo outros, entre cristãos e árabes.

 

Desta segunda opinião é um manuscrito em poder do sr. P.e Pinto Ferreira, actual capelão do santuário da Lapa.

 

Segundo êste manuscrito, passando Almansor com as suas hostes por Aguiar da Beira, e tendo destruído o convento do Sismiro, marchando para o Sul, pelo vale do Dão iam assolando, incendiando e matando quanto encontravam no seu caminho.

 

Ao presenciarem tantas calamidades, muitos capitãis cristãos se reuniram e procuraram fazer-lhe frente numa planície que ainda hoje tem o nome de «Campo do Desbarate», na povoação do Souto de Aguiar; mas os cristãos foram vencidos sendo mortos alguns dos principais cavaleiros com muitos soldados a pé.

 

Continuando os mouros a sua marcha para o Sul, reuniu-se um maior número de cristãos e caíram de improviso e de noite sobre eles, infligindo-lhes uma grande derrota, em que morreu grande número de sarracenos.

 

O lugar em que se feriu êste combate ficou conhecido pelo nome de Matança.

 


Os que opinam ter sido o combate entre romanos e bárbaros, fundam-se na tradição local que assim o conta, dizendo-se que os romanos, repelindo os bárbaros, fizeram neles tão grande mortandade que ao sítio se ficou chamando «Matança Grande".

 

Abonam-se estes ainda com a tradição de que existiu no sítio, até ao fim do século passado, uma lápida romana alusiva ao facto. (...)”.

 

 Porém, um insígne estudioso da toponímia portuguesa, o saudoso A. de Almeida Fernandes, propõe uma explicação diferente, menos ligada ao sentido imediato – quase “falante” – do termo Matança:

 

“(...) Creio que se trata de derivado de “matto”, como Matados, Matela, Matinho, Matagosa, Matosa, etc., com seus derivados e flexões. Para o suf., cp. “ribança”, “mestrança”, Pinhanços, etc.“ (“A toponímia da Beira Alta no “Dicionário Onomástico Etimológico” de José Pedro Machado”, BA, vol. LVII, nºs. 3-4, 1998, p.251; sublinhado nosso).

 

 No caso particular de Matança do concelho de Fornos de Algodres, inclinamo-nos a considerar que a explicação alvitrada por A. de Almeida Fernandes será a mais plausível.

 

 As opiniões referidas por Mons. Pinheiro Marques, parecem pouco seguras. Para além de não serem coincidentes quanto à cronologia da “matança” que invocam, abonam-se em manuscritos ou epígrafes que, a terem existido, hoje não conhecemos e cujo teor e credibilidade não é possível aferir.

 

 Por outro lado, na envolvente próxima da nossa Matança, registam-se outros topónimos derivados de “mato”, com destaque para a vizinha povoação da Matela, sede de freguesia do concelho de Penalva do Castelo.

 

 As terras da Matança terão sido assim, provavelmente, densos matagais que foram arroteados e povoados na época em que se fixou este topónimo, que não terá a ver com qualquer mortandade ali ocorrida.

 

 Bibliografia:  v. entrada de 2005-05-09.

 



publicado por algodrense às 22:22
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