História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt

Segunda-feira, 19 de Agosto de 2013
Publicações recentes (28)

 

Acaba de ser distribuído mais um volume da revista Beira Alta (vol. LXX, referente a 2011) que inclui um interessante artigo do Mestre António Tavares intitulado “Duas estelas funerárias em Abrunhosa do Mato, Mangualde” (pp. 159 – 172).

 



publicado por algodrense às 07:10
link desta entrada | comentar | favorito

Quarta-feira, 17 de Agosto de 2005
Em busca das estelas perdidas

Os marcos de sepultura em forma de estela discóide são bastante frequentes no registo arqueológico, conhecendo-se várias centenas de exemplares um pouco por todo o país.

Estes monumentos destinavam-se a assinalar a presença de um enterramento, sendo colocados, em regra, à cabeceira da sepultura e, excepcionalmente, também aos pés. Esculpidas em pedra, as estelas deste tipo eram constituídas por uma parte superior em forma de disco, assente num espigão destinado a fixá-las ao solo, que era enterrado. Eram em geral decoradas, numa ou ambas as faces, predominando os símbolos religiosos, mas podendo conter também iconografia de diversa natureza (profissional, ...), siglas e, mais raramente, epígrafes.

A utilização das estelas discóides abrange uma larga diacronia, desde o período medieval até quase à actualidade (conhecem-se exemplares do séc. XX ...), pelo que a datação de achados descontextualizados é sempre problemática. Em todo o caso, tem-se entendido que a maioria datará da Baixa Idade Média. Segundo o Prof. Mário Jorge Barroca, os exemplares anteriores ao séc. XII parecem ser mais ou menos excepcionais, ocorrendo a generalização destas estelas funerárias apenas nos séculos XIII e XIV (BARROCA, 1987, pp. 306 e segs.). A partir do século XVI o seu uso vai rareando, embora se continuem a registar ocorrências nos séculos posteriores.

Até ao momento, que saibamos, foram identificadas apenas duas estelas deste tipo nas Terras de Algodres.

Um dos exemplares foi encontrado em Algodres, na década de oitenta do século passado, quando se realizaram obras numa casa situada a poucos metros da fachada Sul da igreja matriz. Estava quebrada, faltando-lhe o espigão e tinha gravada uma cruz em alto relevo, de braços algo irregulares (VALERA, 1993, p. 54).

Estela-Algodres.jpg

Estela funerária de Algodres, seg. VALERA, 1993.

A outra estela conhecida foi encontrada em Figueiró da Granja por Mons. Pinheiro Marques, que a identificou, recolheu e monumentalizou, mandando-a colocar, à laia de cruzeiro, no alto de uma coluna, como conta no livro Terras de Algodres (MARQUES, 1938, p. 42):

“Em Figueiró, presumo, sem afirmar, que seja do tempo dos godos uma antiquíssima pequena cruz lavrada em relêvo numa pedra, que, desde há séculos, está no ângulo do caminho do Relão e Quelha da Fonte-Arcada; chamam-lhe a Cruzinha e daí veio ao sítio êsse mesmo nome, que ainda hoje conserva.

Efectivamente, já os godos usavam nas suas moedas uma cruz lisa como esta.

O Conde D. Henrique e seu filho D. Afonso Henriques também usavam no escudo uma cruz lisa, como esta nossa Cruzinha.

Esta cruz de pedra era um marco simbólico da fé cristã, que, como ainda hoje, se colocava à cabeceira das sepulturas, como pedra tumular ou marco funerário.

No Museu Etnográfico de Belém existem duas como esta de Figueiró.

Como êste precioso documento arqueológico andasse, há muitos anos, aos baldões, pelo caminho, recolheu-a com respeito o autor dêste livro, mandando-a colocar, em 1930, no alto de uma coluna, no mesmo sítio a que deu o nome.". 

 

Estela-Figueiro.JPG

Cruzinha, Figueiró da Granja (Agosto de 2001).

O monumento ainda se conserva, no estado em que a fotografia agora publicada documenta. A meio da coluna foi esculpida uma cruz grega (cruz de braços iguais), semelhante à da estela e a data de 1930. Se a datação proposta por Mons. Pinheiro Marques não será a mais provável, à luz dos conhecimentos actuais, este é mais um monumento do nosso património histórico-cultural cuja preservação o concelho lhe ficou a dever.

Muito possivelmente ainda estarão por descobrir, em Terras de Algodres, ocultas pelo solo ou por construções, mais estelas funerárias deste tipo. Outras poderão estar, como é frequente, reutilizadas e esquecidas, à espera de quem nelas repare e as reconheça. Aqui fica pois um repto, aos algodrenses e visitantes: vamos descobrir as estelas perdidas! Este blog fica à espera das notícias e/ou fotografias dos vossos achados.

Bibliografia: v. entrada de 2005-05-09.



publicado por algodrense às 06:40
link desta entrada | comentar | ver comentários (4) | favorito

pesquisar
 
Julho 2022
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
15
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
29
30

31


entradas recentes

Publicações recentes (28)

Em busca das estelas perd...

links
temas

abreviaturas

algodres

alminhas

anta da matança

anta de cortiçô

bibliografia (a - f)

bibliografia (g - r)

bibliografia (s - z)

bibliografia algodrense

capelas

casal do monte

casal vasco

castro de santiago

cortiçô

crime e castigo

documentos

estatuto editorial

estelas discóides

figueiró da granja

fornos de algodres

fortificações

fraga da pena

fuínhas

heráldica

humor

índice

infias

invasões francesas

juncais

leituras na rede

lendas e tradições

maceira

marcas mágico-religiosas

matança

migração do blog

mons. pinheiro marques

muxagata

notícias de outros tempos

personalidades

pesos e medidas

publicações recentes

queiriz

quinta da assentada

ramirão

rancozinho

sepulturas escavadas na rocha

sobral pichorro

toponímia

vias romanas

vila chã

todas as tags

arquivos

Julho 2022

Maio 2022

Julho 2020

Agosto 2015

Julho 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Março 2013

Maio 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

blogs SAPO
mais sobre mim
subscrever feeds
Redes

Academia

Facebook

Twitter

LinkedIn

Instagram