(colaboração de Albino Cardoso)
Para além do já referido "Castelo de Algodres", existem na nossa sub-região vestígios documentais, arqueológicos, toponímicos e lendários de outras muralhas defensivas, nomeadamente em Muxagata, Queiriz, Figueiró da Granja, Matança e Vila Chã de Algodres:
- na Muxagata persiste entre o povo a tradição da existência do castelo, sendo o sítio da referida fortaleza identificado toponimicamente por: "Castelo". Teria sido uma estrutura "luso-romana", tendo sido herdeiro de um castro pré-romano, servindo de defesa da povoação e da provável estrada romana com passagem por aqui.
João Almeida, na sua obra "Castelos de Portugal" (págs. 234-5), em 1945, refere a existência desta estrutura defensiva, de que existiam ainda naquela altura vestígios claros, informando que pedras do castelo podiam ser visíveis em várias construções de casas antigas e bem assim em muros de suporte e vedação.
- Em Queiriz, não só persiste a existência do topónimo "Castelo", como existe parte ainda relativamente bem conservada de uma muralha, que alguns estudiosos fazem recuar também à época romana. Fica situada num esporão, a cerca de 500m SE do marco geodésico identificado por "Castelo".
Esta estrutura defensiva faria provavelmente parte do sistema defensivo do vale do Mondego. Tem contacto visual com o castelo de Celorico da Beira, havendo quem afirme ter sido uma atalaia do mesmo.
Este "castelo" é referido por Pinheiro Marques, em 1938, por João de Almeida, em 1945, por António Carlos Valera, em 1993 e por Adolfo Marques, em 2001.
João de Almeida refere também que a serra onde se encontra localizado se chama: "Almansor" e que no seu sopé existe uma estrada romana.
António C. Valera informa-nos que no topo se podem ver vestígios arruinados de uma estrutura circular e, embora os artefactos encontrados não nos possam dar uma datação exacta, pela configuração da estrutura, a fazer lembrar um "opus recticulatum" romano, deverá ser romano tardio ou alto medieval.
- Reportando-nos agora a Figueiró da Granja, existe a leste da povoação e junto ao actual cemitério, o sítio da "Torre". No referido local, embora sem nunca se ter efectuado uma escavação extensiva, têm sido encontrados vários artefactos e pedras indiscutivelmente romanos. Pelo que é de supor que, tal como as já referidas fortificações, a "Torre" a que a toponímia faz referência deve ter sido também uma construção romana.
Também no mesmo local está assinalada a passagem de uma via romana, que, vindo de Viseu e passando por Infias e Fornos, por aqui se dirigia a Celorico, com atravessamento do rio Mondego pela ponte da "Lavandeira".
Há quem afirme também que neste local existiu uma "viccus" (aldeia romana) e que a referida torre seria uma "mulatio" (estância de mudança de cavalos) de apoio à via romana.
- Na Matança, logo à entrada da antiga vila e relativamente perto da ponte sobre a ribeira das Forcadas, existe também o sítio do "Castelo". Pessoas mais conhecedoras da localidade, entre as quais o Dr. Rocha Nunes, colaborador neste blog, já nos deram conhecimento de que embora já não persistam nenhuns vestígios materiais deste "Castelo", foram encontradas algumas pedras de silhar romano que poderiam ter-lhe pertencido.
Embora a actual ponte de um arco em volta inteira, seja provavelmente medieval, deverá ter tido fundação romana, pelo que coloco a hipótese de o referido "Castelo" ter sido algum sistema defensivo da ponte, devendo ter sido alguma muralha relativamente pequena.
Ponte - Matança.
Ainda no referente à Matança, o Professor Leite de Vasconcelos, em fins do século XIX, refere também a existência de troços de muralhas, no Monte dos Matos. No entanto, tanto o editor deste blog como o Dr. Rocha Nunes, em tempos mais recentes, tendo feito visitas ao referido monte, não identificaram nenhumas muralhas. Sem pôr em dúvida o reputado especialista, já se pensou se ele terá feito alguma confusão geográfica e se as muralhas por ele referidas serão as de S. Pedro de Matos.
- Quanto a Vila Chã (d'Algodres), persiste tanto na toponímia como na tradição popular a existência da "Torre", sendo ainda hoje assim identificados vários terrenos circundantes. Terá sido uma construção do baixo império romano ou alto medieval e ficava num outeiro da "Serra de Belcaide" ou da Muxagata.
João de Almeida (Castelos de Portugal, pág. 241), refere-se a esta estrutura defensiva como: "Torre da Muxagata", informando-nos, em 1945, que esta torre terá sido uma atalaia do "Castelo da Muxagata". Na realidade, esta "Torre" deve ser identificada como de Vila Chã, pois fica situada nos limites desta freguesia, ou até mais propriamente por: "Torre de Belcaide" (ou seria do alcaide?).
Interessante também é o facto de o ponto mais alto da referida serra ser identificado como: "Cabeço do Pendão". Este topónimo é antiquíssimo, sendo referido também na "memória paroquial de Vila Cham, em 1758, pelo cura F. Melo da Costa" por "cabeço dopendam". Sabendo-se que na Idade Média os mais importantes fidalgos (filhos de algo) eram conhecidos por "senhores de pendão e caldeira", será que este topónimo estará relacionado com algum fidalgo medieval? Provavelmente nunca o saberemos, mas sabe-se que por aqui existiram os antigos fidalgos "Soveral". Irá esta família até à época medieval?
Já existia em 1258 a antiga aldeia de Soveral, relativamente perto desta torre, pelo que não será de descartar terem sido os "Soverais" que a terão fundado, ou dela terão retirado o apelido.
2006-06-06
(colaboração de Albino Cardoso)
Já há tempos me referi ao castelo que terá existido na antiga vila de Algodres e aos possíveis vestígios dele. Volto novamente ao tema com algumas, poucas, evidências.
O monsenhor Pinheiro Marques, em 1938 (“Terras de Algodres - Concelho de Fornos”, p. 248), refere a tradição da existência do castelo, informando que, estando este arruinado, com as suas pedras se construiu a Igreja da Misericórdia. Construção essa edificada em fins do século XVIII, digo eu.
Em 1945, Joaquim de Almeida (“Castelos de Portugal”, p. 232-3) refere também que em Algodres houve uma fortificação medieval, que terá sido restaurada por D. Sancho I em 1200, embora não invoque as fontes da informação. Também refere que a fortaleza, embora arruinada, só foi demolida completamente em meados do século XIX, quando a cantaria foi usada em vários edifícios e obras particulares.
Ainda hoje perdura entre o povo a tradição do referido castelo, havendo até uma casa e propriedade contígua, sita junto ao templo referido, que é identificada pelo nome de: "Castelo".
Embora o muro de suporte ao adro da Misericórdia possa não ser mais antigo que o século XVIII, e portanto comtemporâneo do templo, quer-me parecer ver nele incorporadas pedras que indiciam uma muito maior antiguidade do que aquela igreja.
A fotografia que ilustra estas linhas, que foi tirada por mim na década de oitenta do século passado, poderá talvez trazer um pouco de luz à minha convicção, de que não havendo nela restos da antiga muralha, tem contudo pedras que foram provenientes do antigo castelo de Algodres.
2006-04-08
colaboração de Albino Cardoso
Sendo comprovadamente Algodres uma vila muito importante pelo menos desde o século XII, por que razão não tem, assim como as vilas vizinhas: Linhares, Celorico e Trancoso um castelo, ou ruínas dele?
Quanto a mim e corroborando a tradição oral teve-o: “e com as suas pedras se construiu a igreja da Misericórdia no século XVII” (MARQUES, Terras de Algodres, 1938). Questionamo-nos então: seria um castelo tão pequeno que unicamente deu para construir a igreja?
Na realidade eu creio que Algodres terá sido fundada durante a romanização, tendo por sua vez os conquistadores suevos ou godos, quando convertidos ao cristianismo, aí instituído uma igreja junto a qual cresceu a povoação, por essa altura não seria muito grande mas era na igreja de Santa Maria que receberiam os sacramentos os povos já convertidos das antigas “villae fundadas pelos romanos” da nossa região.
É muito provável que, e embora com alguns intervalos, esta região tenha continuado a prosperar durante o domínio muçulmano: a tradição, as lendas e toponímia, entre a quais a da própria vila, a essa conclusão nos levam. Creio que terá sido a partir dessa altura que se começaria a notar a falta de algum sistema defensivo para proteger os habitantes do lugar. Nesses tempos era dentro das igrejas que se fortificavam as gentes nas povoações relativamente pequenas, pois eram edifícios sólidos e com relativamente poucas aberturas. No entanto, com o passar do tempo e com crescimento da vila, deverá ter-se construído uma torre com algumas muralhas junto da igreja, onde hoje se encontra a Misericórdia “que o povo chama lugar do castelo” .
Há algum tempo atrás investigando a área e descendo pela quelha junto ao adro da referida Igreja da Misericórdia pude ver e fotografar um muro relativamente alto e que é o suporte do referido adro. Sem querer afirmar, presumo que esse muro será parte da antiga muralha do castelo de Algodres (deixo aos especialistas o estudo e a confirmação ou não deste facto), pois aquando da construção da referida igreja, não havendo muitos recursos e tendo até que usar as pedras do referido castelo, custa-me muito a crer que tenha sido por essa altura construída a muralha onde esta implantado o adro “e belíssimo mirante” da nossa antiga vila.
Esta torre e muralhas deixaram de ter sentido defensivo com o passar dos tempos, pois não havendo guerras e tendo a fronteira sido expandida para as “terras de Riba Côa” ao castelo de Algodres terá acontecido o mesmo que a outros que sabemos terem existido e hoje deles poucas ruínas restam, casos como: Azurara (Mangualde), Aguiar da Beira, Folgosinho, etc..
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