História e Património das "Terras de Algodres"
(concelho de Fornos de Algodres)
ed. Nuno Soares
Contacto: algodrense(at)sapo.pt

Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2015
...

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Sexta-feira, 20 de Junho de 2014
V Centenário do foral manuelino de Matança

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Quinta-feira, 19 de Setembro de 2013
JAB por terras de Algodres

 

José António Barreiros escreve aqui sobre as terras de Algodres.

 

 

Aditamento (2013-09-25):

E está a publicar aqui um novo blog dedicado a Figueiró da Granja.

 



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Segunda-feira, 28 de Novembro de 2011
Arqueologia algodrense debatida em Mangualde

 

Na Mesa-Redonda realizada em Mangualde no passado sábado (26 de Novembro), dedicada à Pré-história e Proto-história no Centro de Portugal, estiveram em destaque diversos sítios arqueológicos do concelho de Fornos de Algodres, referidos nas comunicações apresentadas por Sérgio Monteiro Rodrigues (Quinta da Assentada), Domingos J. Cruz e André T. Santos (antas da Matança e de Cortiçô) e António C. Valera (Castro de Santiago e Fraga da Pena).

 

Ficamos a aguardar a publicação das Actas desta importante reunião científica para aqui trazer mais novidades.

 



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Quinta-feira, 7 de Agosto de 2008
O assassínio do abade de Matança (1841).

 

 

De entre os incidentes ocorridos no concelho de Fornos de Algodres, relacionados com violências praticadas durante as lutas para a instauração do regime liberal e as convulsões sociais que se seguiram[i], teve especial repercussão o assassínio, em 1841, do abade da freguesia de Matança, perpetrado pela guerrilha dos "Garranos", chefiada por António da Costa Macário, por alcunha "o Caca".

 

Igreja-Matanca.jpg

 

(Igreja paroquial de Matança  -  foto tirada daqui)

 

 

 

Monsenhor Pinheiro Marques, nas páginas que dedicou à história daquela freguesia, relata o sucedido da seguinte forma[ii]:

 

 "(...) A quando das lutas liberais deu-se nesta terra um acontecimento horroroso de canibalismo político.

             Como o abade, de nome Garcia, ou Barros, professasse ideias miguelistas, numa reacção liberal os «cacarras do caco» vindos dos lados da serra da Estrêla, assaltaram-no na igreja, em dia de S. Bartolomeu, no próprio momento em que celebrava missa; arrancaram-no do altar e, revestido dos paramentos litúrgicos, fizeram-no percorrer de joelhos o ádro da igreja, ao mesmo tempo que lhe foram cortando as orelhas os dedos das mãos, para afinal o acabarem de matar no caminho de Algodres, arrancando-lhe do peito aberto o coração vivo e palpitante. (Páginas de Sangue, por Sousa e Costa, pág. 53).(...)".

 

O conhecimento que temos deste episódio é ainda baseado, quase exclusivamente, na abundante bibliografia, de desigual interesse e rigor histórico, dedicada aos guerrilheiros e salteadores beirões do séc. XIX, carecendo de ser aferido à luz de novas e mais aprofundadas investigações[iii].  Em todo o caso, tudo indica que a versão dos factos apresentada por Mons. Pinheiro Marques não é exacta, desde logo no que se refere ao posicionamento político dos assassinos e da vítima, o que é tanto mais de estranhar quando a fonte que indica (Páginas de Sangue, de Sousa Costa) é bastante clara a esse respeito[iv]:

 

SousaCosta1ed.JPG

 

 "(...) A scena da feira dos Carvalhaes irrita até á loucura a ferocidade dos clavineiros do Cáco.

 

Aparelhados de novas armas, convindo na urgência de recuperar o prestígio abatido, procuram novas vítimas - prometendo a Deus e ao Diabo, para melhor oportunidade, livrar a terra portugueza da sombra pecaminosa do Jaime, entregar ás caldeiras do inferno a alma abominável do maçon.

 

O abade da freguezia de Matança, no circumvizinho concelho de Fornos de Algodres, pertencia ao círculo excomungado dos clerigos ferreteados de malhadice.

 

Era o abade de Matança quem devia servir á expiação, quem devia levantar-lhes as amolgadas prosápias na ara votiva do sacrifício.  Foi por isso a Matança que se encaminharam, no domingo seguinte ao daquela scena.  Ganharam o povoado á hora em que o abade, de alva e casula, entre as velas acesas do altar mór, celebrava na matriz o ofício solene da missa.

 

Para o religiosismo fanatico do Cáco egreja em que celebre sacerdote scismatico, desafecto a D. Miguel, desobedinte aos bispos apostólicos, é egreja maculada de profanação, perdida para o culto de Deus e indigna do respeito dos homens.  Assim, Antonio Cáco, miguelista-apostolico, não hesita em entrar na egreja com os do seu bando, em romper atravez da massa sussurrante dos fieis, e em arrancar do altar o abade paramentado.  E cá fóra, no meio do espanto dos paroquianos, obriga-o a percorrer de joelhos a avenida fronteira ao adro, cortando-lhe os dedos, decepando-lhe as orelhas, arrancando-lhe, por ultimo, do peito rasgado, o coração vivo.(...)"[v].

 

Não tendo cabimento fazer aqui uma análise do que tem sido apurado sobre a vida de António Macário, as acções dos "Garranos" ou o contexto em que se inseriram[vi], diremos apenas que não há dúvidas quanto à sua militância no campo miguelista ou ao ódio que votava aos clérigos liberais (como afirma Sousa Costa no texto acima reproduzido)[vii][viii].

 

Por outro lado, a data em que o abade foi assassinado não terá sido o dia de S. Bartolomeu (que se comemora, salvo erro, em 24 de Agosto).  O abade de Matança terá sido assassinado no mês de Fevereiro de 1841[ix], pouco antes do dia 28 de Fevereiro, data em que o Caca foi cercado num lagar de azeite sito em Vila de Mato, junto a Midões, onde veio a morrer após dois dias de intenso tiroteio[x].

 

 

O célebre guerrilheiro liberal João Brandão, também se referiu, nas suas memórias, ao assassinato do abade de Matança, em moldes que justificam uma breve análise adicional. 

 

Numa  -  extensa!  -  "Relação dos ferimentos e mortes praticados na província da Beira, desde 1834", referindo-se à "quadrilha" do "Caca", afirma que: "A mesma quadrilha assassinou o abade de Matança, obrigando-o a andar de joelhos, estrada abaixo, estrada acima, e cortando-lhe uma orelha, um dedo, e tirando-lhe o coração!!!"[xi].  Porém, noutro capítulo dessa obra, procurou atribuir a autoria moral deste crime ao notável miguelista Estanislau Xavier de Pina, de Várzea de Meruge, nos seguintes termos: "O bondoso abade da Matança, cuja morte ainda está impressa na memória de todos os Beirões, foi a seu mando assassinado pela sua quadrilha junto a Terrozelo, obrigando-o a andar de joelhos estrada abaixo, estrada acima; e aqui lhe cortaram um dedo, acolá uma orelha; ali o picaram, e aqui finalmente lhe tiraram o coração!!!"[xii].

 

Não são, todavia, conhecidos (tanto quanto sabemos) quaisquer elementos que possam indiciar o envolvimento de Estanislau de Pina no assassínio do abade de Matança, nas circunstâncias referidas, ou em diversos outros crimes que João Brandão lhe atribuiu, de forma julgada pouco plausível por Dias Ferrão[xiii].  A não se tratar de um equívoco, não é de excluir que João Brandão tenha procurado denegrir a reputação de um adversário político, que acabou por morrer às suas mãos, em 8 de Janeiro de 1850, em condições, no mínimo, pouco claras...[xiv]

 

Muito mais haverá por certo a investigar sobre o crime que vitimou o abade de Matança, designadamente na documentação coeva[xv].  Aliás, a história da actuação de guerrilheiros e salteadores nas "Terras de Algodres", durante o séc, XIX (para não falar de outros períodos...), está ainda por fazer, sendo conhecidas, apenas, algumas breves referências a episódios isolados[xvi].

 

 

 

Bibliografia:

 

 

 

BONIFÁCIO, M. Fátima, (2002),

 

A segunda ascensão e queda de Costa Cabral 1847-1851, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

 

BRANDÃO, João, (1990),

 

Apontamentos da vida de João Brandão : por ele escritos nas prisões do Limoeiro envolvendo a história da Beira desde 1834, Lisboa, Vega   (1ª. ed. em 1870).

 

CARVALHO, Joaquim Martins de, (1890),

 

Os assassinos da Beira : novos apontamentos para a historia contemporanea, Coimbra, Imprensa da Universidade.

 

COSTA, Sousa, (s/d),

 

Paginas de sangue : Brandões, Marçais & C.ª, Lisboa, Portugal-Brasil, Limitada   (1ª. ed. em 1919).

 

FERRÃO, J. M. Dias, (1928),

 

João Brandão, Porto, Litografia Nacional.

 

FERREIRA, Maria de Fátima Sá e Melo, (2002),

 

Rebeldes e insubmissos : resistências populares ao liberalismo (1834-1844), Porto, Edições Afrontamento.

 

MARQUES, Mons. Pinheiro, (1938),

 

Terras de Algodres (concelho de Fornos), Lisboa, Câmara Municipal de Fornos de Algodres.

 

 


 

Notas:

 

[i] Cf. MARQUES, 1938, pp. 202-211.

 

[ii] Cf. MARQUES, 1938, p. 301.

 

[iii] Cf. FERREIRA, 2002, pp. 216 e 238.

 

[iv] Cf. COSTA, s/d, pp. 141-142.

 

[v] Como acima se referiu, é seguro que, em vida, António Macário era conhecido como "Caca" e não "Caco" como alguns lhe vieram a chamar.  Dias Ferrão (FERRÃO, 1928, p. 95, nota 1) alvitra que Sousa Costa lhe chamou "Cáco" em Páginas de Sangue  "... certamente para não maguar os ouvidos dos seus leitores com a palavra Caca" ...

 

[vi] A esse respeito, v., em especial: CARVALHO, 1890, pp. 115-134; FERRÃO, 1928, pp. 95-114 e FERREIRA, 2002, pp. 236-253 e p. 543, quadro 30.

 

[vii] É certo que alguns defendem que após a derrota da "revolta da Serra" e a realização do chamado "convénio de Gavinhos", na sequência do qual os notáveis e chefes mais destacados das guerrilhas miguelistas da Beira Alta abandonaram formalmente a luta, o miguelismo de que se reclamava o Caca não passava de um pretexto para justificar a continuação de uma vida de banditismo, por parte de "operacionais" das antigas guerrilhas que não se conformavam com o regresso às suas anteriores profissões (cf., por ex., CARVALHO, 1890, p. 120 ou FERRÃO, 1928, pp. 87-97).  No dizer impressivo de Dias Ferrão: "Já não eram políticos que se juntavam. Eram bandidos que se reuniam" (FERRÃO, 1928, p. 93).  Porém, como realça a Prof. Maria de Fátima Ferreira, entre outros elementos, muitas das acções atribuídas ao grupo chefiado por António Macário confirmam as suas motivações políticas, designadamente as que tiveram como alvo autoridades locais ou - como foi o caso de Matança - clérigos liberais, considerados "cismáticos", em relação aos quais manifestou um ódio particularmente intenso, tendo assassinado vários com extrema crueldade (cf. FERREIRA, 2002, pp. 243-245).

 

[viii] Sobre o "cisma" que então dividia o clero da diocese de Viseu (à semelhança do que se passava noutras dioceses), na sequência do exílio do bispo D. Francisco Alexandre Lobo, afecto a D. Miguel e da imposição, pelo Governo, de um vigário capitular para dirigir a diocese, v.: MARQUES, 1938, pp. 207-208; FERRÃO, 1928, pp. 77-81 e FERREIRA, 2002, p. 245 e pp. 401-424 (em especial pp. 404, 414-419 e 423-424).

 

[ix] Cf. CARVALHO, 1890, p. 130; no mesmo sentido, FERRÃO, 1928, p. 102 e FERREIRA, 2002, pp. 245.

 

[x] Cf., por ex., BRANDÃO, 1990, p. 13; CARVALHO, 1890, pp. 131-134 e FERRÃO, 1928, pp. 107-111.

 

[xi] Cf. BRANDÃO, 1990, p. 212.

 

[xii] Cf. BRANDÃO, 1990, pp. 51-52.

 

[xiii] Cf. FERRÃO, 1928, p. 99, nota 1.

 

[xiv] V., com apreciações não coincidentes, CARVALHO, 1890, pp. 111-114 e FERRÃO, 1928, pp. 154-161.

 

[xv] A identidade do pároco assassinado, por ex., não aparece mencionada.  Na TT OnLine está disponível uma carta de 08-08-1842 (com a ref. RGM/H/200359), com a nomeação de Manuel de Barros para pároco de Matança (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Registo Geral de Mercês, D. Maria II, liv. 18, fl. 73-73v). Trata-se, provavelmente, da nomeação do sucessor do abade assassinado (a confirmar).

 

[xvi] Por ex., numa carta de 1-6-1846, dirigida por João Rebelo da Costa Cabral ao irmão, Conde de Tomar, que se encontrava refugiado em Espanha, após a saída do Governo, em Maio desse ano, na sequência da revolta da "Maria da Fonte", é mencionada a insegurança que os membros da família sentiam em Fornos de Algodres e referido que a "Mãe" sofreu "insultos da guerrilha de Gouveia" (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo da família Costa Cabral, parte A-I, nº. 28 - cit. in BONIFÁCIO, 2002, p. 21, notas 13 e 14).  Mons. Pinheiro Marques dá também conta de um assalto, em 1870, ao solar da família Camelo Fortes, em Algodres, por um grupo de assaltantes armados, "...tendo havido grande fusilaria entre o povo e os assaltantes, de que resultaram muitos feridos..." (cf. MARQUES, 1938, p. 227).

 



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Sexta-feira, 18 de Julho de 2008
Há 20 anos ... começavam escavações arqueológicas em Fornos de Algodres.

 

 

Em 1988, realizaram-se em Fornos de Algodres as primeiras escavações arqueológicas com metodologias actuais.

 

 

 

No “Castro de Santiago”, realizaram-se, em duas quinzenas sucessivas (entre 17 de Julho e 15 de Agosto), dois campos de trabalho internacionais para jovens, organizados pela CMFA e FAOJ/Instituto da Juventude, com o apoio de diversas entidades.  Os trabalhos de campo iniciaram-se faz precisamente hoje vinte anos, sob a direcção dos arqueólogos António Carlos Valera e Isabel Alves Estevinha.  Incidiram sobre o recinto central daquele sítio arqueológico da pré-história recente e consistiram, em síntese, na desmatação do local, implantação de uma quadrícula de 1x1m, levantamento topográfico e limpeza de superfície, com recolha de materiais por quadrado.

 

 

 

CAS-88-02a.jpg

 

(“Castro de Santiago”   -   Agosto de 1988)

 

 

 

Os resultados preliminares desta intervenção, foram divulgados pelos responsáveis em artigos publicados no BMFA nº. 9 (Setembro de 1988) e na edição de 15.02.1989 do jornal Notícias da Guarda.

 

 

 

Em meados de 1989, foi editada uma pequena monografia (VALERA e ESTEVINHA, 1989), com a publicação científica dos trabalhos realizados, que constituiu a primeira de muitas publicações sobre a investigação arqueológica realizada no concelho nos últimos vinte anos.

 

 

 

LivroCAS_Gafal1989.jpg

 

(VALERA e ESTEVINHA, 1989)

 

 

 

Nesse Verão de 1988, foram também iniciados trabalhos de escavação, restauro e valorização na anta conhecida como “Casa da Orca de Corgas da Matança” (dos quais, infelizmente, não tenho imagens), dirigidos pelos arqueólogos Domingos J. da Cruz, Ana Maria C. Leite da Cunha e Luís Filipe C. Gomes, no âmbito do programa “Valorização do Património Megalítico”, desenvolvido pelo Serviço Regional de Arqueologia da Zona Centro do (então) IPPC e com o apoio da CMFA.  A publicação científica desses trabalhos foi efectuada no vol. IX-X da revista Portugália (CRUZ, CUNHA e GOMES, 1988-1989) e está disponível on-line aqui.

 

 

 

 

 

Bibliografia e abreviaturas:  v. entradas de 2005-05-09.

 



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Sexta-feira, 18 de Abril de 2008
Leituras na rede

 

O blog Dolmenes y Megalitos del Mundo tem vindo a publicar diversas entradas sobre monumentos megalíticos da Beira Alta, entre os quais a Anta de Cortiçô e a Anta da Matança, do concelho de Fornos de Algodres.



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Quinta-feira, 8 de Novembro de 2007
Algodres no final do séc. XIV: a autonomia municipal em crise

 

 

O Doutor António Matos Reis publicou recentemente uma História dos Municípios [1050 – 1383][i] que constitui uma obra de referência fundamental para a história do municipalismo, desde o período leonês até ao final do reinado de D. Fernando e para o estudo da história local de uma boa parte dos concelhos portugueses. 

 

  

 

 Correspondendo, no essencial, à dissertação de Doutoramento do autor, esta obra teve por base uma extensa análise de fundos documentais, que incluiu a leitura e transcrição de milhares de documentos ainda não publicados, com destaque para parte das chancelarias régias. 

 

Hist-Municipios.JPG 

 

 

(REIS, 2007)

 

 

 

No tocante aos contributos para a história local de cada município, não obstante as naturais descontinuidades e omissões, decorrentes dos objectivos e grau de abrangência da investigação e/ou do universo de fontes utilizadas, a análise da documentação que permanecia inédita veio revelar numerosos dados desconhecidos dos estudos até agora publicados.

 

 

 

Relativamente às “Terras de Algodres”, para além de outros dados inéditos que aqui serão retomados noutra(s) oportunidade(s), afiguram-se de especial interesse as informações sobre as decisões de reorganização dos municípios da região empreendidas ao tempo de D. Fernando.

 

 

 

O reinado de D. Fernando (1367-1383) decorreu sob o signo da profunda crise económica, social e demográfica de finais do séc. XIV, desencadeada por sucessivas epidemias e agravada pelas guerras em que aquele monarca se envolveu.  A política do rei em relação aos municípios, parece ter contribuído também, em geral, para o agravamento dos problemas e das tensões sociais.  Por razões nem sempre claras ou coerentes, proliferaram medidas de redimensionamento, anexação e desanexação de municípios, frequentemente alteradas, ao sabor das conhecidas tergiversações do monarca. Sucederam-se também, com grande prodigalidade, as doações a particulares dos direitos reais sobre municípios, como compensação por serviços prestados ou a prestar, que deram azo a muitos abusos por parte dos donatários e à correspondente revolta das comunidades prejudicadas[ii].

 

 

 

Em 10 de Janeiro de 1370, D. Fernando anexou Algodres ao termo do concelho de Celorico da Beira, juntamente com Tavares, Matança, Ansiães, Fornos e Figueiró[iii].

 

 

 

O autor informa-nos que Tavares recuperou a autonomia logo em 1371, a rogo de Leonor Roiz de Vasconcelos[iv] e que Fornos, Figueiró e Infias (que, pelos vistos, também fora anexado) a recuperaram em 1372[v].  Nada diz sobre Algodres, concelho que, por maioria de razão (dada a sua importância relativa), deveria ter pugnado pelo restabelecimento do seu anterior estatuto.

 

 

 

Efectivamente, Algodres também recuperou a autonomia em 1372. Com o amável auxílio do Dr. Pedro Pinto (do CEH-UNL), foi possível localizar na Chancelaria de D. Fernando a carta régia que assim determinou, datada de 14 de Setembro de 1372[vi].

 

 

 

As duas cartas régias que em 1372 voltaram a desanexar Algodres, Fornos, Figueiró e Infias de Celorico da Beira, foram passadas quase em simultâneo e têm um teor praticamente idêntico[vii].  Em ambas, o rei afirma que os homens bons dos concelhos que tinham sido anexados ao de Celorico da Beira se queixavam dos agravos e abusos que daquele recebiam, designadamente das muitas fintas, talhas e outros encargos que sem razão lhes exigiam, pelo que pediam o restabelecimento da sua autonomia e jurisdição e o respeito pelos privilégios que anteriormente lhes tinham sido concedidos. Face a esses pedidos e à inquirição que sobre os mesmos terá mandado efectuar, D. Fernando determinou que os ditos concelhos voltassem a ser “julgados apartados sobre si”, sendo-lhes restituídas todas as jurisdições e liberdades de que anteriormente gozavam.

 

 

 

 

A autonomia municipal de Algodres e de outros concelhos da região vai, porém, continuar em risco neste final de século, desde logo face à necessidade de, em tempos de crise e de guerra, se procurar reforçar e privilegiar os municípios de maior relevância estratégica e militar.

 

 

 

Assim, em 24 de Março de 1380, Algodres volta a perder a autonomia, sendo anexado, desta vez, ao município de Trancoso[viii].

 

 

 

A evolução subsequente não está devidamente esclarecida. Mas a tendência para a instabilidade do quadro dos municípios da região irá prolongar-se durante a crise dinástica de 1383-1385 e o início do reinado de D. João I, provavelmente pela mesma ordem de razões.

 

 

 

Com base em documentos da Chancelaria de D. João I já anteriormente divulgados neste blog[ix], sabemos que, em Dezembro de 1384, Algodres permanecia ou estava de novo integrado no termo e jurisdição de Trancoso (sendo-lhe, porém, concedido o privilégio de eleger juízes próprios, sujeitos a confirmação pelo concelho de Trancoso, os quais teriam competência para julgar todos os processos de Algodres e seu termo que fossem “de XX libras afundo”)[x] e que em Abril de 1385 foi confirmada a anexação de Infias, Figueiró e Fornos ao termo e jurisdição de Trancoso, que tinha sido outorgada por D. João I enquanto regedor do reino[xi].

 

 

 

O restabelecimento da plena autonomia municipal de Algodres (e possivelmente dos restantes concelhos que existiam nas Terras de Algodres) parece ter ocorrido ainda no reinado de D. João I.

 

 

 

Em 16 de Janeiro de 1391, uma carta régia confirmou e outorgou ao concelho e homens bons de Algodres “todos seus privilégios foros liberdades e bons costumes de que sempre usaram”[xii].

 

 

 

Em 25 de Dezembro de 1433, D. Duarte confirma novamente os privilégios, foros, liberdades e bons costumes de Algodres (e, por carta da mesma data, também os de Fornos)[xiii].

 

 

 

Passada a crise do final do séc. XIV, a autonomia municipal de Algodres, Fornos de Algodres, Figueiró da Granja, Matança e Infias parece consolidada na documentação conhecida e é atestada pelos respectivos pelourinhos quinhentistas.  Assim terá permanecido até à reorganização dos municípios em 1836-37.

 

 

 

Bibliografia e abreviaturas:  v. entradas de 2005-05-09.

 

 



Notas:

 

 

 

[i] REIS, 2007.

 

[ii] Cf. REIS, 2007, pp. 174-191 e 424.

 

[iii] Chancelaria de D. Fernando, Liv. I, fl. 50; cf. REIS, 2007, pp. 178 e 277.

 

[iv] Chancelaria de D. Fernando, Livro I, fl. 82vº; cf. REIS, 2007, pp. 177 e 277.

 

[v] Chancelaria de D. Fernando, Liv. I, fl. 112; cf. REIS, 2007, pp. 175 e 277. Matança tinha sido entretanto integrado, em 10 de Maio de 1370, no município de Trancoso, anulando a anterior anexação a Celorico – cf. REIS, 2007, pp. 178 e 276.

 

[vi] Chancelaria de D. Fernando, Livro I, fl. 111vº-112.

 

[vii] A carta referente a Fornos, Figueiró e Infias, afirma ter sido dada em Coimbra em 11 de Setembro de 1372; a carta referente a Algodres, regista ter sido dada em Mogafores, em 14 de Setembro de 1372. Agradeço ao Dr. Pedro Pinto ter-me facultado o teor destes documentos.

 

[viii] Chancelaria de D. Fernando, Liv. II, fl. 58vº; cf. REIS, 2007, pp. 179 e 276.

 

[ix] V. a entrada "Documentos para a história de Algodres (4)", de 2007-01-31.

 

 

 

 

[x] Cf. Chancelaria de D. João I, Livro I, fol. 68, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p. 260.

 

[xi] Cf. Chancelaria de D. João I, Livro I, fol. 155, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo 3, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 51.

 

[xii] Cf. Chancelaria de D. João I, Livro II, fol. 52, publicada em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume II, Tomo 1, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 247.

 

[xiii] Cf. Chancelaria de D. Duarte, Livro I, fol. 55, publicadas em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 197.

 



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Quarta-feira, 24 de Outubro de 2007
Documentos para a história de Algodres (13)

 

 

Inquirições de D. Dinis

 

(IAN-TT, Leitura Nova, Inquirições da Beira e Além Douro, fl. 37)

 

 

 

O Dr. Pedro Pinto (CEH-UNL) fez o favor de nos enviar a seguinte transcrição das Inquirições acima referenciadas (realizadas na década de 80 do séc. XIII, por mandado do rei D. Dinis), na parte referente aos julgados de Fornos de Algodres, Matança e Algodres:

 

  “

 

  Julgado de ffornos d algodres

 

  [sinal de caldeirão] Dizem as testemunhas que em todo este Julgado nom ha honrra nenhuma e que todo he Reguengo d el Rey e dizem as testemunhas que os homeens lauradores que moram na aldeya de figueiros que he de sam Joham de tarouca estenden sse pellos Regueemgos d el Rey E per este Julgado e pera alem dos marcos do Regueengo fazem ende honrra e nom dama d el Rey ende nada. E dizem as testemunhas que elles diram per hu he o Reguengo quamdo os preguntassem [sinal de caldeirão] Todo este Julgado he deuasso e entre hy o moordomo d el Rey por todollos seus dereitos E quanto se possam daquella aldeya ao Reguengo d el Rey chame el Rey si quiser

 

  Julgado de matança

 

  [sinal de caldeirão] Nom a y honrra nenhuma [sinal de caldeirão] Este como estaa por deuaso

 

  Julgado d algodres

 

  [sinal de caldeirão] Nom ha y honrra nenhuma [sinal de caldeirão] Estee como estaa por deuasso “.

 



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Sábado, 15 de Setembro de 2007
Documentos para a história de Algodres (11)

 

 

(Chancelaria de D. Manuel I)

 

 

 

O Dr. Pedro Pinto (CEH-UNL)  -  a quem reitero os meus agradecimentos pelo contributo que vem dando para o levantamento dos fundos documentais com interesse para a história das Terras de Algodres  -  enviou-nos mais uma listagem de documentos existentes no IAN/TT, na chancelaria de D. Manuel I (referenciando o livro, folio, data e o respectivo resumo):

 

 

 

33,2

 

21.3.1496

 

A João Álvares e sua mulher, Margarida Afonso, moradores no Fundão, termo da vila da Covilhã, é dada confirmação do emprazamento de uns moinhos que o duque de Beja tem na Ribeira do Couto, entre o Fundão e Alcangosta, com sua terra, herdade e árvores, e de um souto nesse local, por foro anual de 40 alqueires de pão (metade de trigo e outra metade de centeio) pagos por Santa Maria de Agosto e pelo Natal, e um capão, com as confrontaçöes e condiçöes declaradas. O instrumento de emprazamento foi feito a 27 de Julho de 1495, em Fornos de Algodres nas moradias de Pero Lopes, escudeiro da Casa da Rainha, na presença de Gonçalo Cardoso, escudeiro, fidalgo da casa do duque de Beja e seu contador nas terras da Beira e seu procurador e das testemunhas, o bacharel João Álvares e Gonçalo Gil, tabelião do rei, que o escreveu. El-rei o mandou por D. Álvaro de Castro, do seu Conselho e vedor da Fazenda. André Fernandes a fez.

 

 

 

26,86

 

26.3.1496

 

Comunicação aos juízes, concelho e homens bons do concelho de Tavares, que a Gil Gonçalves, morador em Fornos de Algodres, foi feita mercê do ofício de tabelião do lugar onde mora e seu termo. O cargo tinha pertencido a Gonçalo Gil que renunciou através de um público instrumento, feito e assinado por si próprio a 15 de Março de 1496. El-Rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu conselho chanceler-mor em seus reinos e senhorios. Baltazar Fernandes escrivão de Pero borges a fez.

 

 

 

26,66v

 

26.3.1496

 

Comunicação aos juízes, concelho e homens bons de Fornos, que a Gonçalo Gil, criado que foi de Diogo da Silveira, morador no dito lugar, foi feita mercê do ofício de tabelião do cível e crime do dito concelho e seu termo, assim e pela maneira que ele foi até aqui por carta de D. João II. El-Rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu conselho chanceler-mor em seus reinos. Bartazar Fernandes escrivão de Pero Borges a fez.

 

  

 

33,9v

 

28.3.1496

 

A Gil Gonçalves, filho de Gonçalo Gil, é dada confirmação do ofício de escrivão das sisas nos concelhos de Tavares e Fornos de Algodres. El-rei o mandou por D. Diogo Lobo, do seu Conselho e vedor de sua Fazenda. Belchior Nogueira a fez.

 

 

 

33,28

 

10.4.1496

 

A João Eanes, morador em Travanca, termo da vila de Algodres, perdão de parte dos dois anos de degredo a que fora sentenciado para a vila e couto de Marvão, por querela que dele dera Álvaro Mendes, escudeiro, morador em Casal Vasco, dizendo que lhe dera pancadas de propósito, como se sabe pela apresentação da sentença. Como cumpriu 10 meses do degredo, segundo a apresentação de um instrumento feito por Rui Pires, público tabelião na vila de Marvão, a 24 de Março de 1496, são-lhe relevados os 14 meses restantes. Pagou 1.200 reais para a arca da piedade a frei Fernando, esmoler, segundo um seu assinado e outro de Álvaro Fernandes, capelão e escrivão. El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, do seu Conselho e Pero Vaz, seu capelão-mor e vigário de Tomar, ambos desembargadores do Paço. Brás Afonso a fez.

 

 

 

44,93

 

3.7.1496

 

A Pêro Lopes, escudeiro, e Isabel Cardosa, sua mulher moradores em Fornos de Algodres, confirmação do aforamento por três vidas dum casal sito no termo da Covilhã pagando de foro uma galinha pelo Natal. Apresenta inclusa uma carta, citando uma parte do seu regimento, dando a Gonçalo Cardoso, escudeiro, fidalgo da casa do duque, contador nas terras da Beira do dito senhor, licença para arrendar, aforar e emprazar sem ser enfatiota algumas das suas terras com a condição de serem confirmadas pela fazenda do duque. Gonçalo Cardoso emprazou e aforou um casal no termo da Covilhã, que andou em pregão, a Pêro Lopes e sua mulher Isabel Cardosa, sendo a antiga pousada de Diogo Gil e que agora trazia Afonso Anes Penalvo. Indica as confrontações. O contrato de aforamento foi feito em Aguiar da Beira, nas moradias de João Murzelo, escrivão dos contos, a 12 de Dezembro de 1495. André Fernandes a fez.

 

 

 

30,124

 

27.6.1497

 

Aos juizes, concelho e homens bons de Fornos do Cabo de Algodres é participado que Gil Gonçalves, ali morador, foi nomeado tabelião naquele concelho, em substituição de Gonçalo Gil que ao ofício renunciou, segundo um público instrumento apresentado. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto, do seu conselho e chanceler-mor do reino. Baltazar Fernandes, escrivão de Pero Borges, a fez.

 

 

 

29,18v

 

15.7.1497

 

Comunica-se aos juízes concelho e homens bons do concelho de Fornos de Algodres que um Pero Afonso tabelião do dito lugar perdeu o dito ofício por fazer uma sentença falsa, pela qual falsidade João Vaz, desembargador, que anda com alçadas na Comarca da Beira [registo incompleto]

 

 

 

28,38

 

24.8.1497

 

À vila de Fornos de Algodres confirmação da carta de foro de D. Dinis feita por Bartolomeu Pires, em Lisboa, a 28 de Maio de 1348 e mandada por Gil Eanes, tesoureiro real, e Pero Esteves, vassalo real, pelo qual se deveria pagar a el-rei pelo dia de Natal 101 libras e 16 soldos. Os valores desta confirmação dever-se-ão ler como 3$664 reais de 2280 em marco de prata. Vicente Pires a fez.

 

 

 

31,12

 

10.2.1498

 

Carta de Legitimação de Duarte Brás, filho de Pero Brás, Clérigo de Missa, Capelão que ora é do Algodres e de Inês Vaz, mulher solteira ao tempo da sua nascença. O pedido de legitimação foi feito pelo pai. El-rei o mandou pelos doutores Pero Vaz do seu conselho, seu capelão mor e vigario de Tomar e Gonçalo de Azevedo, ambos seus desembargadores do Paço. Gil Fernandes a fez.

 

 

 

29,105v

 

16.7.1498

 

A Catarina Anes, mulher solteira, morador em Fornos de Algodres foi dada carta de perdão, a pedido da suplicante, que enviou dizer por sua petição que ela tivera afeição carnal com António Vaz clérigo de missa, abade e morador no lugar de Fornos, e disse que estava arrependida. Foi perdoada com a condição de pagar 2.000 reais para a Piedade e que daqui em diante viva bem e honestamente e não torne mais ao dito pecado e, tornando a ele esta carta lhe não valha. Ela suplicante logo pagou os ditos dinheiros a D. Francisco, Bispo de Fez, esmoler, como se comprova por um seu assinado e por outro de Marcos Esteves, escrivão por Álvaro Fernandes, do dito cargo. El-rei e principe o mandou pelos doutores Fernão Roiz, deão de Coimbra, do seu conselho, e Gonçalo de Azevedo, ambos do seu desembargo e seus desembargadores do Paço. Diogo Lasso, por Gil Fernandes, a fez.

 

 

 

17,76v

 

11.4.1500

 

Leonor, filha de Antão Vaz, clérigo de missa, e abade da igreja da vila de Fornos, e de Catarina Anes, mulher solteira ao tempo de seu nascimento, legitimada, herdando os bens deixados em testamento, com todos os privilégios inerentes a essa situação. El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, adaião de Coimbra, e pelo doutor Gonçalo de Azevedo, ambos do seu Conselho e desembargo e seus desembargadores do Paço. Diogo Lasso a fez.

 

 

 

17,76v

 

11.4.1500

 

Catarina, filha de Antão Vaz, clérigo de missa, e abade da igreja da vila de Fornos, e de Catarina Anes, mulher solteira ao tempo de seu nascimento, legitimada, herdando os bens deixados em testamento, com todos os privilégios inerentes a essa situação. El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, adaião de Coimbra, e pelo doutor Gonçalo de Azevedo, ambos do seu Conselho e desembargo e seus desembargadores do Paço. Diogo Lasso a fez.

 

 

 

17,76v

 

11.4.1500

 

Águeda, filha de Antão Vaz, clérigo de missa, e abade da igreja da vila de Fornos, e de Catarina Anes, mulher solteira ao tempo de seu nascimento, legitimada, herdando os bens deixados em testamento, com todos os privilégios inerentes a essa situação. El-rei o mandou pelos doutores Fernão Rodrigues, adaião de Coimbra, e pelo doutor Gonçalo de Azevedo, ambos do seu Conselho e desembargo e seus desembargadores do Paço. Diogo Lasso a fez.

 

 

 

8,1v

 

2.2.1501

 

A Pedro Afonso, morador em Fias, mercê do ofício de juiz das sisas do ramo dos concelhos de Algodres e Figueiró, assim e como antes o fora Fernão Gonçalves, que falecera. Isto passando o ramo de 300 vizinhos. El-rei o mandou pelo barão de Alvito. André Pires a fez.

 

 

 

1,28v

 

5.2.1501

 

A Pedro Afonso, morador em Fias, mercê de juiz do ramo dos concelhos de Juncais (?), Fornos e Fias. Substituiu no cargo a Afonso Martins, falecido. El-rei o mandou pelo barão de Alvito, senhor de Vila Nova de Aguiar e Ouriola, do Conselho d'el-rei e vedor de sua Fazenda. André Pires a fez.

 

 

 

46,21

 

19.5.1501

 

Diogo Fernandes, morador em Fornos do Cabo de Algodres, enviou dizer que fora preso por mandado dos Desembargadores que andavam em alçada na comarca da Beira, por ele, suplicante, quebrar os termos de uma carta de segurança porque seguia o feito perante eles. E, sendo preso um dia a guarda que o guardava fora comer a sua casa e o deixara na rua, com umas ferropeias nos pés, ele as desfechara e se fora e se pusera em salvo, pelo que andava amorado. Enviando pedir perdão da fugida, el-rei lhe perdoou sua justiça contanto pagasse 300 rs. para as despesas da Relação , se era livre do caso pelo qual era preso, como dizia, e, senão, tomasse carta de segurança nos 15 dias primeiros seguintes, e se pusesse a direito do caso por que era preso, sem o que esta lhe não valeria Diogo Velho por Francisco Dias a fez

 

 

 

17,76v

 

30.8.1501

 

Francisco, filho de Beatriz Vaz, mulher solteira ao tempo de seu nascimento, morando nesse tempo em Fornos, legitimado, herdando os bens deixados em testamento, com todos os privilégios inerentes a essa situação. El-rei o mandou por D. Pedro, bispo da Guarda, seu capelão-mor, e pelo doutor Gonçalo de Azevedo, ambos do seu Conselho e desembargo e seus desembargadores do Paço. João Lourenço a fez.

 

 

 

2,4v

 

28.1.1502

 

João Eanes, morador em Muxagata, é confirmado como juiz dos órfãos nos concelhos de Fornos de Algodres e Pena Verde, conforme o fora no tempo de D. João II. Esta confirmação fica a dever-se a petição de Pero Lopes, escudeiro d'el-rei, morador em Fornos. El-rei o mandou por D. Henrique Coutinho, fidalgo da sua casa e pelo doutor Gonçalo de Azevedo, ambos do seu Conselho e Desembargo. Francisco Dias a fez.

 

 

 

2,3v

 

4.2.1502

 

João Fernandes, morador no Cortiço, do concelho de Algodres, é nomeado tabelião do lugar onde mora. Substituiu no cargo a Fernão Manjam (?), exonerado por erros cometidos (falsificação de documentos). El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto de seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos e senhorios. Baltazar Fernandes, escrivão de Pero Borges a fez.

 

 

 

2,24v

 

4.5.1502

 

João Fernandes é nomeado escrivão dos órfãos do concelho de Algodres e Pena Verde, por ter morrido Gonçalo Martins, que o ocupava. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto de seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos e senhorios. Baltazar Fernandes, escrivão de Pero Borges, a fez.

 

 

 

23,37

 

15.11.1504

 

Notificação aos Juizes, Concelhos e homens bons de Fornos de Algodres e de Infias da mercê de Tabelião dessas vilas e concelhos a Henrique Lopes, escudeiro, aí morador, devido a João Afonso haver renunciado, segundo um termo de procuração feito por Baltazar Fernandes, escrivão dante o Chanceler-mor, para Henrique Lopes poder renunciar o ofício, em seu nome, em mãos del-rei. Pagou 250 rs. de dízimo em que foi avaliado, segundo a ordenança, a Pero da Mota, sobre quem Vicente Carneiro os creditou. El-rei a mandou pelo Dr. Rui Boto. Gonçalo Fernandes, escrivão de João da Fonseca, a escreveu.

 

 

 

23,6v

 

6.3.1504

 

Mercê por se assim é do ofício de Escrivão das sisas do concelho de Azurara, a Gonçalo Martins, morador na Cunha Alta, termo desse Concelho, com o mantimento anual de 1.500 rs., por o perder Diogo Afonso, morador em Lobelhe do Mato, também do termo desse concelho, devido aos erros contidos na carta. Todavia a mercê deste ofício fora antecipadamente feita a Pero Afonso, irmão do provido. Diogo Afonso tivera por parceiros na renda da sisa a Sebastião Correia, morador em Viseu, e João Fernandes, morador no concelho de Algodres. El-rei a mandou por D. Martinho de Casatelbranco. Luis Vaz a escreveu.

 

  

 

44,14v

 

18.7.1506

 

Álvaro Pires, morador em Trancoso, nomeado escrivão das sisas da Távola da parte do rei da feira de S. Bartolomeu, das sisas da Matança e dos casais do Monte assim como o fora Francisco Homem que renunciou nas mãos do rei por dois instrumentos públicos feitos e assinados por Luís Fernandes, tabelião de Algodres, a 4 de Julho de 1506. El-rei o mandou pelo D. Pedro de Castro do Conselho e vedor da Fazenda. Gaspar Rodrigues a fez.

 

 

 

38,51

 

6.9.1507

 

A Pero Dias, escudeiro, morador em Fornos [de Algodres] e Infias, concelhos a par de Tavares, mercê do ofício de escrivão das sisas de Fornos e Infias, como até então fora Gil Gonçalves, morador em Vila Cova, que o renunciara por o não poder servir por ter outros ofícios, longe donde morava, segundo um público instrumento de renunciação, escrito pelo próprio, em Vila Cova, ao primeiro de Setembro de 1507. El-rei o mandou por barão de Alvito. Simão Vaz a fez.

 

  

 

3,37v

 

7.9.1510

 

Mercê da apresentação da igreja de S. Miguel de Fornos de Algodres, no bispado de Viseu, ao bacharel, Fernão Faz, pregador, por renúncia de António Álvares, feita e assinada por Bastião Sanches, público e apostólico notário a 5 de Setembro de 1510: segundo um alvará dado em Almeirim a 7 de Setembro de 1510, feito por Afonso Mexia. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto, do seu Conselho e chanceler-mor do reino. Cristovão Rodrigues a fez.

 

 

 

41,65v

 

15.10.1511

 

A Pero Anes, almocreve, morador na vila de Fornos, privilégio de [espingardeiro]. António Rodrigues a fez.

 

 

 

42,52

 

21.3.1513

 

A Fernando Anes nomeado juiz das sisas do concelho de Algodres, tal como até aqui foi Pedro Afonso que perdeu o ofício por erros cometidos no seu desempenho. El-rei o mandou pelo barão de Alvito do seu Conselho e vedor de sua fazenda. António Gomes a fez.

 

 

 

42,59v

 

21.3.1513

 

Fernão Eanes morador em Muxagata, termo do concelho de Algodres, nomeado juiz das sisas do ramo desse concelho, tal como até aqui foi Pedro Afonso que perdeu o ofício por erros cometidos no seu desempenho. Pagou a quantia de cinquenta reais de ordenado. El-rei o mandou pelo barão de Alvito do seu Conselho e vedor da sua fazenda Jorge Fernandes a fez.

 

 

 

42,33v

 

22.3.1513

 

Fernão Eanes nomeado tabelião do público e judicial da vila de Algodres e seu termo, tal como até aqui foi Gonçalo Barroso tendo-o renunciado para a coroa. Pagou a quantia de seiscentos reais de dízima do ofício. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos. António Gonçalves a fez.

 

 

 

42,33v

 

22.3.1513

 

Ao escrivão dos órfãos de Algodres, carta para o ofício de contador dos feitos e custas dessa vila, dado que o lugar estava vago, tendo até aqui sido servido por Pedro Afonso, tabelião, sem para isso possuir carta régia. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos. António Gonçalves a fez.

 

 

 

42,34

 

23.3.1513

 

Gonçalo Fernandes, escrivão dos órfãos de Algodres, nomeado tabelião do público e judicial da dita vila, tal como até aqui foi Pedro Afonso que perdeu o ofício por erros cometidos no seu desempenho. Apresenta trelado do alvará de nomeação. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos. António Gomes a fez.

 

 

 

42,34v

 

22.3.1513

 

Gonçalo Fernandes, escrivão dos órfãos de Algodres, mercê de todos os ofícios até aqui desempenhados por Pedro Afonso, tendo-os perdido por erros cometidos. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto do seu Conselho e chanceler-mor em seus reinos. António Gomes a fez.

 

 

 

 42,104

 

19.9.1513

 

João Afonso, morador em Fornos de Algodres, nomeado tabelião do público judicial de Fornos de Algodres e de Enfias, sucedendo a Pêro Dias que renunciou o dito ofício. O instrumento de renúncia foi feito pelo sobredito Pêro Dias a 6 de Setembro de 1513. Pagou de dízima 430 reais. El rei o mandou pelo doutor Rui Boto, chanceler-mor, que não estando presente, foi assinado por Jorge Machado do Desembargo. António Gomes a fez.

 

 

 

15,173

 

25.2.1514

 

A João Afonso, tabelião, morador na vila de Fornos do cabo de Algodres, confirmação do emprazamento, em vida de 3 pessoas, feito por ordem de Pero Dias, administrador da Capela instituida por Estêvão Afonso, em 25 de Março de 1503, o qual mandou a Álvaro Fernandes, porteiro, que pusesse em pregão uma casa da capela, e assim uma mouta com um pedaço de bacelo e chão limpo com uns castanheiros, no caminho para Algodres. E não achara quem mais desse que João Afonso, tabelião, que em tudo pusera 400 rs. em cada um ano. E o administrador Pero Dias e o tabelião Pero Afonso, que esta carta de emprazamento escreveu, haviam ido a casa de Afonso Vaz, abade de São Miguel, inquirir do seu parecer, e lhe parecera bem o dito arrendamento. E logo o administrador lhos mandou arrematar por 400 rs. e 1 galinha, em cada ano, pagos pelo Natal a João Afonso, tabelião e a Constança Dias. sua mulher. El-rei, antes de a confirmar, mandara passar carta a Aires Botelho, cavaleiro de sua casa, Provedor das Capelas e Hospitais e arfãos, e Juiz e Contador dos Resíduos da Comarca da Beira e Riba Coa, para que se fosse informar se o prazo era em proveito da capela. E satisfeito avaliaram o foro em 440 rs. cada ano. E com os do seu Desembargo confirmaram o emprazamento, pagando por dia de Natal 22 rs. de prata, da Lei de 11 dinheiros e 117 em marco que perfaziam 440 rs. da moeda corrente de 6 ceitis o real. E mais uma galinha. El-rei a mandou pelo L.do Rui da Grã, do Conselho del-rei e Desembargador dos Agravos, e pelo doutor Diogo do Rego, Comendador da Ordem de Cristo e Desembargador das Capelas e Hospitais, Resíduos e arfãos da Corte e Casa da Suplicação Diogo Lasso a fez

 

 

 

24,2v

 

18.1.1515

 

Aos juizes, concelho e homens bons da vila de Melo é participado que a Lopo Fernandes morador nesta vila, é confirmado no cargo de procurador do número nas vilas de Melo, Folgosinho, Linhares, Gouveia e Fornos de Algodres. António Gomes a fez.

 

 

 

24,5

 

10.2.1515

 

Aos juizes, concelho e homens bons do concelho de Algodres é participado que Lourenço Eanes, morador em Casal Vasco, é nomeado tabelião. Substitui no cargo Gonçalo Fernandes que dele renunciou. El-rei o mandou pelo doutor Rui Boto, do conselho real e chanceler-mor dos reinos e senhorios. António Gomes a fez.

 

 

 

25,69

 

15.3.1516

 

Carta de nomeação de Simão Peixoto, morador em Trancoso, para recebedor das sisas dos concelhos de Aguiar da Beira, Algodres, Penalva e Carapito, a pedido do próprio que denunciara que, por não haver o ofício, as sisas eram recebidas por pessoas postas pelos concelhos, sem carta régia, do que resultava má cobrança. El-rei o mandou pelo barão de Alvito, do seu conselho e vedor da sua fazenda. Jorge Fernandes a fez.

 

 

 

10,32

 

29.4.1517

 

Gil Gonçalves, morador em Pinheiro, do concelho de Tavares, é nomeado escrivão das sisas desse concelho e dos lugares de Fornos e Infias. Substitui no cargo Gil Gonçalves, morador em Vila Cava que perdeu o ofício por o ter vendido sem licença do rei a Pero Dias, por 4.000 reais. El-rei o mandou pelo barão d'Alvito, do seu Conselho e vedor da fazenda. Vicente Saraiva a fez. 

 

 

 

10,111v

 

16.12.1517

 

Antão de Figueiredo, escudeiro, morador no concelho de Algodres, nomeado novamente recebedor das sisas do concelho de Tavares com o mantimento anual à razão de 60 réis por milheiro, do que essas sisas renderem até quantia de 3.000 réis, pagos à custa dos rendeiros quando a dita renda fôr arrendada e quando não à custa da Coroa. El-rei o mandou pelo Barão de Alvito. Jorge Fernandes a fez.

 

 

 

35,106v

 

16.3.1519

 

Mercê do oficio de recebedor das sisas do Concelho de Algodres a Simão Peixoto, morador na vila de Trancoso. El-rei o mandou pelo barão do Alvito, do seu conselho e vedor da sua fazenda. Jorge Fernandes a fez.

 

 

 

37,111v

 

15.2.1521

 

Pero Fernandes, morador em Casal Vasco, é nomeado inquiridor e contador dos feitos e custas no concelho de Algodres, em substituição de Gonçalo Fernandes, tabelião do público e judicial nesse concelho, que renunciou por um instrumento público feito por si, em Cortiços, termo desse concelho, a 20 de Dezembro de 1520. Mercê concedida, por virtude de um alvará feito em Lisboa, a 13 de Fevereiro de 1521, por Diogo Pais. El-rei o mandou pelo doutor Diogo Taveira, do seu desembargo e ouvidor na sua corte e casa da Suplicação que tem cargo de chanceler-mor no reino. Bento Gonçalves a fez.

 

 

 

35,85v

 

27.2.1521

 

Mercê do oficio de distribuidor de Algodres a Pero Fernandes, morador em Casal. Bento Gonçalves Banha a fez.

 

 

 



publicado por algodrense às 19:55
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Segunda-feira, 18 de Junho de 2007
Acerca da origem da localidade de Matança - II

 

 

(colaboração de João Rocha Nunes)

 

 

No que se refere à presença romana na Matança, João de Almeida sugere que a localidade seria um oppidum para “não só servir de base de ocupação e centro administrativo de valor, mas também guardar a estrada militar que servia de transversal entre as da Guarda a Linhares, Conímbriga e a da Guarda a Aguiar da Beira e Lamego...”[i]. Esta tese foi burilada tendo em conta a existência das pontes – cujos alicerces foram por este autor considerados romanos, bem como pelos vestígios de lajes de pedra na via de acesso a uma das pontes. Ora, não é possível considerar as pontes/lajes como romanas, porque até à data não foi apresentado qualquer documento que permita considerar que estes vestígios pertencem à época em questão, já que em períodos muito posteriores a edificação deste tipo de estruturas foi em tudo semelhante às formas constructivas usadas no período romano. Contudo, é possível que a importância da localidade decorresse da sua relevância militar, mormente no controlo de um determinado território do interior da Lusitânia. Com efeito, um espaço situado num dos extremos da provoação tem a designação de Castelo (figura I). Este mesmo local não possui no presente vestígios de quaisquer fortificações. Todavia, um dos blocos de pedra inserido nos alicerces de uma habitação deste mesmo local (figura II) é possivel verificar que o mesmo aparenta ter aparelho romano. Este documento material e a toponímia  - Castelo -   permitem considerar a Matança como uma localidade que teria alguma relevância  militar na Época Romana. Embora não haja uma prova cabal, como já referido, de que as pontes datem efectivamente da Época Romana, é possível que a importância da Matança, tal como João de Almeida sugeriu[ii], tivesse a ver com o controlo militar de uma das estradas secundárias do interior peninsular. Seguramente que esta atalaia – não tendo dimensões significativas, uma vez que os vestígios da estrutura não são actualmente visíveis, até porque o espaço foi objecto de um novo arranjo em épocas posteriores -  terá servido no decurso dos séculos para a protecção dos habitantes da localidade deixando mais tarde, provavelmente no período da Baixa Idade Média, de ter qualquer utilidade na defesa da povoação/território.

 

 

   

 

 Figura I

 

Castelo – Matança

 

 

 

Castelo-Matanca-I.jpg

 

  

 

 

 

 

Figura II

 

Castelo – Matança 

 

 

 

  

 

Castelo-Matanca-II.jpg

 

  

 

João Rocha Nunes 

 

 

 


Notas:

 

 

 

[i] João de Almeida, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Ed. do autor, 1945, vol. I, p.240. 

 

[ii] Idem, p. 240.

 


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Segunda-feira, 11 de Junho de 2007
Acerca da origem da localidade de Matança - I

 

 

(colaboração de João Rocha Nunes)

 

 

 

É indubitável que a presença romana foi uma realidade na localidade de Matança, embora se desconheça se efectivamente esta povoação foi fundada pelos romanos. Alguns autores referem vestígios materiais que decorrem da chegada dos povos do Lácio às Terras de Algodres e em particular à localidade que iria adoptar no decurso da História o nome de Matança[i]. Leite de Vasconcelos, em finais do século XIX, nas prospecções que fez no Monte dos Matos, que dista de Matança cerca de 1 km detectou “destroços de duas ordens de muralhas concentricas; estas têm de largura actualmente 1 metro pouco mais ou menos. Num dos extremos de uma das muralhas ha o alicerce de uma casa rectangular de uns 6m X 4 m, porém não posso dizer a que época pertence. Abaixo dos destroços da ordem de muralhas inferior, num pinhal e em campos, depararamse-me muitos montinhos de pedras, ao parecer, de ruinas de casas. Sobre estes monticulos, e fóra  d’eles, pelo terreno das encostas,  - externamente, como digo ás muralhas – vi, inumeros fragmentos de tegulae de diversas côres (vermelhas, brancas e azulado-negras), e alguns  de imbrices. Concluí d’isto que no monte dos Matos houvera um castro, a que sucedeu, como em muitos outros casos se observa, a civilização romana.[ii]. Este mesmo autor  afirma, igualmente, ter achado no lugar de Matança  “tegulas, um denario de Augusto, e uma inscriçao funeraria[iii]”.

 

 

 

Pese hoje se desconheça o paradeiro dos vestígios assinalados por Leite de Vasconcelos no Monte dos Matos, parece verosímel a interpretação do autor: as “muralhas concêntricas” são susceptíveis de ser da Época Castreja, enquanto que os restantes documentos materiais são claramente da Época Romana. Leite de Vasconcelos sinaliza igualmente na Matança a existência de uma inscrição funerária.

 

 

 

Figura I

 

Inscrição da Matança[iv]

...................

 

XXVCAMI

 

RAIYTAIP

 

AN XVI

 

   ___

 

 

 

TONGETA

 

ARANTO

 

 

 

Como é visível pela figura I, quando Leite de Vasconcelos coligiu a inscrição, esta encontrava-se já muito deteriorada[v].  Todavia, e não obstante se encontrar mutilada,  a inscrição permite a obtenção de preciosos informes acerca da Matança na Época Romana. Com efeito, no documento em questão são perceptíveis os seguintes onomásticos – Camira, Tongeta e Aranto.  Camira é efectivamente um nome feminino de origem indígena[vi].  Tongeta trata-se de uma designação onomástica cuja origem  remete para a etimologia hispânica[vii]. Já Aranto parece ser a abreviatura de Arantonius que é um onomástico de origem celta e uma designação típica de Beira interior[viii]. A inscrição parece evidenciar, igualmente, a idade de dois indivíduos – 25 e16 anos, respectivamente. Esta inscrição data de cerca do século I, uma vez que se insere no tipo de documentos epigráficos funerários erigidos por uma população de origem local que lentamente assimilava a cultura romana, à semelhança do que acontecia em outras localidades da que mais tarde viria a ser designada de Beira Interior[ix]. A menos que surja alguma evidência em contrário, a importância desta inscrição para a história local  é que prova – pela presença de população autóctone na localidade - que a Matança foi fundada na Época Romana, mormente por população autóctone. Poder-se-ia pensar que esta localidade pudesse já ser uma realidade no período anterior à presença romana no território peninsular. Alguns autores referem a existência de um castro que estaria na origem da provoação[x]. Todavia, o facto de o Monte dos Matos ser povoado – não fazia sentido existirem dois núcleos habitacionais tão próximos - sugere que a Matança foi efectivamente fundada  no Périodo Romano, cerca do século I. A crer nas referências de Leite de Vasconcelos, o Monte dos Matos foi um castro romanizado. Este espaço continuou a ser habitado depois da chegada dos romanos. Ora, à semelhança do que aconteceu em outros locais  do norte de Portugal[xi], é possível que tenha existido uma transferência de população do referido Monte dos Matos para um espaço contíguo, situado em um vale e próximo de cursos de água, mais propício nesse sentido à prática agrícola.

 

João Rocha Nunes



Notas:

 

[i] A desginação de Matança não oferece dúvidas quanto à origem etimológica. A questão que se coloca é  que contendores teriam travado  o combate. Há quem sugira Romanos e Bárbaros e há quem se incline para Cristãos e Muçulmanos. Pinheiro Marques, Terras de Algodres, Ed. Câmara Municipal de Fornos de Algodres, 1988, p. 308.

[ii] Leite de Vasconcelos, De terra em terra, Ed. Imprensa Nacional, Lisboa, 1927, p. 140.

[iii] Idem, p. 140.

[iv] Esta inscrição aparece citada na obra de Fernando Barbosa Barros Leite, Concelho de Penalva do Castelo:  Recolha bibliográfica, contributo para uma monografia, Câmara Municipal de Penalva do Castelo, 1997, p. 40.

[v] É possível que esta  inscrição seja a que se encontre em uma das casas do Arrabalde, contíguo ao espaço designado de Castelo, e que no decurso do século XX foi coberta com argamassa em virtude de obras de melhoramento da referida habitação.  

[vi] Ana Paula Ramos Ferreira, Epigrafia Romana na Beira Interior: Evolução ou Continuidade?, Instituto Português de Arqueologia, 2004, p. 23.

[vii] O onomástico “Tongeta” encontra-se no  território português e em algumas regiões de Espanha, designadamente em Cárceres . J.J. Sayas; J.L. Sánchez, Nuevas inscripciones cacerenas, In Anejos de Gerión, II, Ed. Universidad Complutense, Madrid, 1989, p. 434 – 436.

[viii] Idem, p. 23.

[ix] Idem, p. 21.

[x] João de Almeida, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, Ed. do autor, 1945, vol. I, p.240.

[xi] Jorge Alarcão,  Notas de Arqueologia, epigrafia e toponímia, In Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 7, nº 1, 2004 p. 208 – 209.


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Quarta-feira, 31 de Janeiro de 2007
Documentos para a história de Algodres (4)

  

 

Juntamente com a transcrição hoje publicada, o Dr. Pedro Pinto teve a amabilidade de nos remeter uma listagem de documentos relativos a Algodres, constantes das publicações das Chancelarias Portuguesas efectuadas pelo Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa.

 

 

 

Trata-se de um conjunto documental de inegável importância para a história das Terras de Algodres (exceptuando, talvez, o “Doc. 7”, que poderá ser referente à aldeia de Algodres de Figueira de Castelo Rodrigo).

 

 

 

Tanto quanto sabemos, a generalidade destes documentos ainda não foi objecto de atenção nos estudos até agora publicados, pelo que ficamos a aguardar, com expectativa, os estudos e / ou comentários que os leitores nos queiram enviar.

 

 

 

Transcreve-se a informação recebida:

 

 

 

Doc. 1, 07.02.1362

 

            Carta de confirmaçam dos priujlegios dos moradores d algodres ect

 

            em euora viij dias de feuereiro de mjl iijc lRbiij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro I, fol. 41v.º, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa, Inic, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1984, p. 169

 

 

 

 

 

Doc. 2, 01.09.1364

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou e outorgou ao concelho e homens boons d algodres todos seus priujlegios foros liberdades e boons custumes que sempre ouuerom ect

 

            na cidade da guarda primeiro dia de setembro de mjl iiijc e dous annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Pedro I, fol. 100, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Pedro I. Lisboa, Inic, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1984, p. 432

 

 

 

 

 

Doc. 3, 02.05.1384

 

 

 

doaçam da terra d algodres e fornos e pena uerde e matança a fernam nunez homem etc

 

 

 

            Dom Joham etc A quantos esta carta virem fazemos saber que nos querendo fazer graça e mercee a fernam nunez homem comendador do casal por mujto serujço que nos fez e faz E del entendemos de Receber mais ao / [B] diante E querendo lho nos conhecer com mercees e graças o que cada hu6 senhor he theudo de fazer aaquelles que o seruem bem e lealmente Teemos por bem e damos lhe e doamos lhe e lhe fazemos pura doaçam antre viuos ualledoira pera todo sempre E pera elle e todos aquelles que del descenderem da terra de algodres com seu termo e de fornos e de pena uerde e da matança com todas suas perteenças e de folhadal que he em terra de senhorim, a qual terra lhe damos por Jur d erdade com todas rendas e foros trabutos perteenças e nouos e djreitos assy e pella guisa que a nos auemos e de djreito ou de custume deuemos d auer e mjlhor e mais compridamente se a el mjlhor puder auer Com entendimento que morendo o dicto fernam nunez homem ser [sic] herdeiros que a dicta terra se torne liuremente a coroa dos regnos,

 

            Porem mandamos a quaesquer almoxarifes e scpriuaães que ora sam ou forem ao diante dos almoxarifados onde as dictas terras sam que lhes leixem daquj en diante auer e logar [sic] e posujr a el e a seus herdeiros com todas rendas foros e djreitos trabutos perteenças e nouos E fazer delles e em elles todo o que lhe prouuer e por bem teuer assy como de sua herdade propria

 

            E queremos E outorgamos que o dicto fernam nunez homem per ssy e per sua propria auctoridade que lhe pera esto damos ou per outrem quem lhe aprouuer tome e possa tomar a posse das dictas terras e dos djreitos e perteenças dellas e os aia e logre pera todo sempre elle e seus herdeiros pella guisa que suso dicto he

 

            E em testimunho desto lhe mandamos dar esta nossa carta signada per nos

 

            dante em a nobre cidade de lixboa ij dias de mayo o meestre o mandou afomso martjnz a fez era de mjl iiijc xxij annos.,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 9v.º, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p. 44

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 4, 02.12.1384

 

 

 

Que os moradores d algodres posam enleger Jujzes etc

 

 

 

            Dom Joham etc A quantos esta carta virem fazemos saber que nos querendo fazer graça e mercee ao concelho e homeens boons d algodres termo de trancosso Teemos por bem e damos lhe e outorgamos lhe liure poder que elles per ssy enleiam e possam enleger e fazer Jujzes em esse logo d algodres que possam ouujr e liurar e desembargar todollos fectos preitos e demandas do dicto logo d algodres e de seu termo que forem conthia de xx libras afundo E estes Jujzes que assy enlegerem seiam confirmados per o concelho de trancoso cujo termo he

 

            ¶ E outrossy mandamos que as apellaçoões que desses fectos sairem que uaão perante os Jujzes de trancoso e delles vanham a nos

 

            Porem mandamos e queremos que elles possam ouujr e decedir os dictos fectos d algodres e de seu termo nom embargando que esse logo com seu termo seia dado por termo e Julgado a trancoso

 

            ¶ E outrossy per nos seia dado de Jur d erdade a fernam munjz homem comendador do casal nom embargante outros quaãesquer husos custumes foros priujllegios que em contrairo desto seiam os quaães aquj auemos por expresos e nomeados e declarados

 

            E em testimunho desto lhe mandamos dar esta nossa carta

 

            dante em alanquer dous dias de dezenbro o meestre o mandou per o doutor martim afomso da folha e do conselho do dicto senhor nom semdo hi Joham afomso bacharel em degredos a que esto perteentia [sic] bras steuez a fez era de mjl iiijc xxij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 68, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2004, p. 260

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 5, 14.04.1385

 

doaçam d aldeas ao concelho de trancoso

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou h6a doaçam que fez em seendo regedor destes regnos ao concelho de trancoso per que lhe deu por termo e Jurdiçam as aldeas d enfias e figueiroo e fornos segundo se mais compridamente se contem na carta da dicta doacam etc

 

            em cojmbra xiiij dias d abril de j iiijc xxiij annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 1, fol. 155, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume I, Tomo 3, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 51

 

 

 

 

 

Doc. 6, 16.01.1391

 

priujllegios d algodres

 

            Carta per que o dicto senhor confirmou e outorgou ao concelho e homeens boons d algodres todos seus priujlegios foros liberdades e boons custumes de que sempre husarom etc

 

            em euora xvj dias de janeiro de mjl iiijc xxix annos

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 2, fol. 52, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume II, Tomo 1, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 247

 

 

 

 

 

Doc. 7, 16.01.1391

 

Priujllegios d algodres e confirmaçam delles

 

            Dom joham etc A uos jujzes de castel Rodrigo e a todallas outras nossas Justiças e outros quaãesquer que esto ouuerem de ueer a que esta carta for mostrada saude

 

            sabede que o concelho e homens boons d algodres nos enujarom dizer que elles ham priujllegio que nemhu6 seu vizinho nom seia ousado de uender nem dar nem doar nem escambar nem emprazar nemh6as casas nem vinhas nem herdades nem ortas nem prados nem outra nemh6a cousa que seia de raiz a Rico homem nem a Rica dona nem a outro nemhu6 homem fidalgo nem aarcebispo nem a bispo nem a frades nem a donas nem a outras hodeens [sic] de clerizia E que qualquer que contra esto for que peite duzentas libras a metade pera nos e a metade pera elles segundo dizem que mjlhor e mais compridamente no dicto priujllegio he contheudo E que o dicto priujllegio lhes foe dado por o dicto lugar seer mjlhor e mais pobrado

 

            E que nos pediam por mercee que lho confirmasemos e mandasemos guardar

 

            E Nos veendo o que nos pediam e querendo lhe fazer graça e mercee visto per nos o dicto priujllegio Teemos por bem E confirmamos lhe o dicto priujllegio que assy sobre esta razam teem

 

e porem uos mandamos que o veiades e lho comprades e guardedes e façades comprir e guardar // pella guisa que em elle he contheudo e lhes nom uaades nem consentades hir contra ello em nemh6a guisa que seia Ca nossa mercee he que lhe seia comprido e guardado

 

            vmde al nom façades

 

            dante na cidade d euora xvj dias de janeiro el rrey o mandou per Ruy lourenço dayam de cojmbra licenciado em degredos do seu desembargo aluaro gonçalluez a fez era de mjl iiijc xxix annos.,,

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. João I, Livro 2, fol. 52, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. João I. Volume II, Tomo 1, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2005, p. 247

 

 

 

 

 

Doc. 8, 25.12.1433 [Estes 2 documentos referem-se à confirmação dos privilégios, foros, liberdades e bons costumes de dezenas de terras]

 

 

 

            Outra ouue o concelho de fornos de cabo d algodres

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 1, fol. 55, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 197

 

 

 

 

 

Doc. 9, 25.12.1433

 

 

 

            Outra ouue o concelho d algodres

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 1, fol. 55, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume I, Tomo I, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 1998, p. 197

 

 

 

 

 

 

 

Doc. 10, 24.3.1435       

 

           

 

            Jtem carta de luis diaz de bairos criado de dom fernando de castro per que o dam por coudell da billa de çatam e de gudufar E de Redemoynhos e de pena uerde e de fornos d algodres e de figueiroo da grania e d enfiaas e de matança e de pena alua e de lodairo e de outelo e de folgasinho da fectura desta carta ataa dous anos e meo assy e pella guisa que ora elle he e o forom os outros coudees dante elle etc em forma

 

            dada em euora xxiiij dias de março Steuam uaasquez a fez Era de mjll E iiijc e xxxb annos

 

 

 

Publicação: IAN/TT, Chancelaria de D. Duarte, Livro 3, fol. 71, publicado em Chancelarias Portuguesas. D. Duarte. Volume III, Lisboa, Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa, 2002, p. 409

 

 

 

 



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Terça-feira, 4 de Julho de 2006
...

Ponte2.jpg

Ponte sobre a Ribeira das Forcadas - Matança

(foto de  Albino Cardoso   -   Fevereiro de 2006).


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Sexta-feira, 30 de Junho de 2006
Muralhas, Castelos e Torres em Terras de Algodres

 

(colaboração de Albino Cardoso)

 

 

 

Para além do já referido "Castelo de Algodres", existem na nossa sub-região vestígios documentais, arqueológicos, toponímicos e lendários de outras muralhas defensivas, nomeadamente em Muxagata, Queiriz, Figueiró da Granja, Matança e Vila Chã de Algodres:

 

 - na Muxagata persiste entre o povo a tradição da existência do castelo, sendo o sítio da referida fortaleza identificado toponimicamente por: "Castelo".  Teria sido uma estrutura "luso-romana", tendo sido herdeiro de um castro pré-romano, servindo de defesa da povoação e da provável estrada romana com passagem por aqui.
João Almeida, na sua obra "Castelos de Portugal" (págs. 234-5), em 1945, refere a existência desta estrutura defensiva, de que existiam ainda naquela altura vestígios claros, informando que pedras do castelo podiam ser visíveis em várias construções de casas antigas e bem assim em muros de suporte e vedação.
 
- Em Queiriz, não só persiste a existência do topónimo "Castelo", como existe parte ainda relativamente bem conservada de uma muralha, que alguns estudiosos fazem recuar também à época romana.  
Fica situada num esporão, a cerca de 500m SE do marco geodésico identificado por "Castelo".
Esta estrutura defensiva faria provavelmente parte do sistema defensivo do vale do Mondego.  Tem contacto visual com o castelo de Celorico da Beira, havendo quem afirme ter sido uma atalaia do mesmo.
Este "castelo" é referido por Pinheiro Marques, em 1938, por João de Almeida, em 1945, por António Carlos Valera, em 1993 e por Adolfo Marques, em 2001.
João de Almeida refere também que a serra onde se encontra localizado se chama: "Almansor"  e que no seu sopé existe uma estrada romana.
António C. Valera informa-nos que no topo se podem ver vestígios arruinados de uma estrutura circular e, embora os artefactos encontrados não nos possam dar uma datação exacta, pela configuração da estrutura, a fazer lembrar um "opus recticulatum" romano, deverá ser romano tardio ou alto medieval.
 
- Reportando-nos agora a Figueiró da Granja, existe a leste da povoação e junto ao actual cemitério, o sítio da "Torre".  No referido local, embora sem nunca se ter efectuado uma escavação extensiva, têm sido encontrados vários artefactos e pedras indiscutivelmente romanos. Pelo que é de supor que, tal como as já referidas fortificações, a "Torre" a que a toponímia faz referência deve ter sido também uma construção romana.
Também no mesmo local  está assinalada a passagem de uma via romana, que, vindo de Viseu e passando por Infias e Fornos, por aqui se dirigia a Celorico, com atravessamento do rio Mondego pela ponte da "Lavandeira".
Há quem afirme também que neste local existiu uma "viccus" (aldeia romana) e que a referida torre seria uma "mulatio" (estância de mudança de cavalos) de apoio à via romana.
 
- Na Matança, logo à entrada da antiga vila e relativamente perto da ponte sobre a ribeira das Forcadas, existe também o sítio do "Castelo". Pessoas mais conhecedoras da localidade, entre as quais o Dr. Rocha Nunes, colaborador neste blog, já nos deram conhecimento de que embora já não persistam nenhuns vestígios materiais deste "Castelo", foram encontradas algumas pedras de silhar romano que poderiam ter-lhe pertencido.
Embora a actual ponte de um arco em volta inteira, seja provavelmente medieval, deverá ter tido fundação romana, pelo que coloco a hipótese de o referido "Castelo" ter sido algum sistema defensivo da ponte, devendo ter sido alguma muralha relativamente pequena.

 Ponte.jpg

 

Ponte  -  Matança.

 

Ainda no referente à Matança, o Professor Leite de Vasconcelos, em fins do século XIX, refere também a existência de troços de muralhas, no Monte dos Matos. No entanto, tanto o editor deste blog como o Dr. Rocha Nunes, em tempos mais recentes, tendo feito visitas ao referido monte, não identificaram nenhumas muralhas. Sem pôr em dúvida o reputado especialista, já se pensou se ele terá feito alguma confusão geográfica e se as muralhas por ele referidas serão as de S. Pedro de Matos.
 
- Quanto a Vila Chã (d'Algodres), persiste tanto na toponímia como na tradição popular a existência da "Torre", sendo ainda hoje assim identificados vários terrenos circundantes. Terá sido uma construção do baixo império romano ou alto medieval e ficava num outeiro da "Serra de Belcaide" ou da Muxagata.
João de Almeida (Castelos de Portugal, pág. 241), refere-se a esta estrutura defensiva como: "Torre da Muxagata", informando-nos, em 1945, que esta torre terá sido uma atalaia do "Castelo da Muxagata".  Na realidade, esta "Torre" deve ser identificada como de Vila Chã, pois fica situada nos limites desta freguesia, ou até mais propriamente por: "Torre de Belcaide" (ou seria do alcaide?).
Interessante também é o facto de o ponto mais alto da referida serra ser identificado como: "Cabeço do Pendão". Este topónimo é antiquíssimo, sendo referido também na "memória paroquial de Vila Cham, em 1758, pelo cura F. Melo da Costa" por "cabeço dopendam".  Sabendo-se que na Idade Média os mais importantes fidalgos (filhos de algo) eram conhecidos por "senhores de pendão e caldeira", será que este topónimo estará relacionado com algum fidalgo medieval? Provavelmente nunca o saberemos, mas sabe-se que por aqui existiram os antigos fidalgos "Soveral".  Irá esta família até à época medieval?
Já existia em 1258 a antiga aldeia de Soveral, relativamente perto desta torre, pelo que não será de descartar terem sido os "Soverais" que a terão fundado, ou dela terão retirado o apelido.

 

 Albino Cardoso

 

 2006-06-06

 



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